O globo, n. 31701, 23/05/2020. País, p. 16

 

Epicentro da pandemia

Victor Farias

23/05/2020

 

 

Brasil já é o segundo país com mais casos de Covid-19 no mundo
O Brasil ultrapassou ontem a Rússia em número de casos do novo coronavírus e chegou à segunda posição entre os países com mais infectados pela doença, perdendo apenas para os Estados Unidos. Segundo a Universidade Johns Hopkins, os EUA têm 1.626.066 infectados, e a Rússia ,326.448, enquanto o Brasil tem 330.890, com 21.048 mortes. Paralelamente, o país está na liderança dos casos na América do Sul, ques e tornou o novo epicentro da pandemia do coronavírus, conforme anunciou ontem o diretor do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 20.803 novos casos da doença em 24 horas, mas essas infecções devem ter ocorrido em dias anteriores. O resultado de ontem supera o recorde anterior, de quarta-feira, quando 19.951 casos foram incluídos no sistema. O país também registrou 1.001 novos óbitos de anteontem para ontem. São Paulo continua como o estado com mais casos da doença:são 76.871 até o momento. Em seguida vêm Ceará (34.573), Rio de Janeiro (33.589), Amazonas (27.038) e Pernambuco (25.760). Em relação às mortes, São Paulo também aparece na primeira posição, com 5.773 óbitos. Depois vêm Rio de Janeiro (3.657), Ceará (2.251), Pernambuco (2.057) e Pará (1.937). Com 57% dos mortos na América Latina, o Brasil registrourecorde de mortes diárias na quinta-feira, quando contabilizou 1.188 vítimas fatais, segundo balanço do Ministério da Saúde. Além do Brasil, países como Peru, com mais de 108 mil infectados e 3.100 mortes; Equador, com 35 mil infectados e 3.939 vítimas fatais; e Chile, com 48 mil casos e mais de 420 óbitos, vêm registrando aumento dos casos. Os Estados Unidos, onde mais de 94 mil pessoas morreram oficialmente pela Covid-19, ainda são o país mais afetado pelo

vírus, mas a curva da doença começa a cair. —Vimos muitos países sulamericanos com aumento do número de casos, e claramente há preocupação em muitos desses países, mas certamente o mais afetado é o Brasil —declarou Ryan.

 USO DE CLOROQUINA

Anteontem, o presidente Jair Bolsonaro reclamou da "propaganda muito forte" em torno da doença, que teria levado um "pavor para o seio da família brasileira". Em entrevista coletiva, ontem, a OMS foi questionada se estava oferecendo algum tipo de assistência direta ao Brasil, e o diretor de emergências disse que a organização não recomenda o uso da cloroquina o uda hidroxicloroquina, defendidas porBol sonar o,parat ratara doença: —Nossas revisões clínicas sistemáticas realizadas pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e a evidência clínica atual não apoiam o uso generalizado de hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19; não até que ensaios (clínicos) sejam concluídos e nós tenhamos resultados claros —destacou Ryan. Cientistas criticamo governo federal por resistira medidas para conter a propagação da doença, como o isolamento social, insistindo na reabertura precoce do comércio. A estrutura precária do sistema público de saúde também preocupa, por forçar os médicos afazerem uma"escolha de Sofia ", priorizando o atendimento a pacientes com mais condições de sobrevivência.

— A maioria dos casos é da região de São Paulo, mas, em termos de taxas de ataque, as mais altas estão, na verdade, no Amazonas: cerca de 490 pessoas infectadas para cada 100 mil habitantes, que é uma taxa de ataque bem alta — comentou o diretor do programa de emergências da OMS. O descontrole no Brasil levanta preocupações entre os países vizinhos. Anteontem, em uma videoconferência que não teve a participação de Bolsonaro, os presidentes de Peru, Colômbia, Chile e Uruguai discutiram os desafios que a doença apresenta para a região (leia mais no texto ao lado). O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, estava na chamada. O ministro da Saúde da Colômbia, Fernando Ruiz, disse que tem sido "absolutamente difícil" a interlocução com as autoridades brasileiras para enfrentara propagação do vírus na fronteira entre os dois países na Amazônia.