O globo, n. 31701, 23/05/2020. País, p. 14

 

Após divulgação de vídeo, Moro diz que 'verdade foi exposta'

Natália Portinari

23/05/2020

 

 

Ex-ministro da Justiça falou apenas duas vezes na reunião com Bolsonaro
O ex-ministro da Justiça Sergio Moro afirmou na noite de ontem que "a verdade foi exposta", após a divulgação da gravação da reunião ministerial de 22 de abril, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ontem.

"A verdade foi dita, exposta em vídeo, mensagens, depoimentos e comprovada com fatos posteriores, como a demissão do diretor-geral da PF e a troca na superintendência do RJ", disse o ex-juiz no Twitter, acrescentando que "cada um pode fazer a sua avaliação" sobre os outros temas no vídeo. A gravação foi citada por Moro como prova de interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal. Ele mencionou o vídeo em depoimento à PF, após pedir demissão do Ministério da Justiça. O interesse do presidente na superintendência da PF no Rio é um dos pontos principais da investigação em curso. Moro saiu do governo após Bolsonaro exonerar o então diretor geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. E um dos primeiros atos do novo diretor-geral, Rolando de Souza, foi trocar o diretor da polícia no Rio.

 MORO SILENCIA SOBRE ARMAS

Bolsonaro nega que, durante a reunião, tenha defendido a troca na direção da PF do Rio para evitar que familiares e aliados fossem prejudicados. Na reunião, Moro praticamente não falou. Nos trechos divulgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), toma a palavra em só duas ocasiões. No momento em que Bolsonaro reclamou da Polícia Federal, Moro não se pronunciou. Quando o presidente disse que queria "todo mundo armado", cobrando o então ministro da Justiça , silenciou. Na sua primeira fala, Moro elogia o plano Pró-Brasil, apresentado pelo ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto. O plano prevê iniciativas para alavancar o desenvolvimento após a pandemia e gerou discórdia com a equipe econômica. O ex-juiz sugeriu medidas para a segurança pública e combate à corrupção.

— Só faria uma sugestão aqui, ministro, se pudesse colocar desde logo em algum momento desse plano, alguma referência importante também à segurança pública e ao controle da corrupção. Foram dois temas centrais, né? Nas últimas eleições. Braga Netto respondeu que "politicamente cabe aí" e que iria acrescentar uma referência ao tema na iniciativa. —Tem que apontar também que foi uma vitória do governo, do presidente, ano passado houve uma queda expressiva desses principais indicadores criminais—prosseguiu Moro.—Isso embora seja mais vinculado com a questão da vida e segurança das pessoas, também é um fator importante aí pro investimento econômico, pra atrair, melhorar o ambiente econômico. E o controle da corrupção também é pressuposto, né? Então faria aí exclusivamente essa sugestão específica.

—Muito obrigado. Já tá anotado —responde Braga Netto. A segunda intervenção de Moro é quando é parabenizado por Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal, pelo reforço da PF na segurança das agências da Caixa durante a pandemia. —É só o registro aí, esse até foi fácil de resolver. Foi a Polícia Federal que resolveu.