O globo, n. 31701, 23/05/2020. País, p. 12

 

Celso de Mello aponta 'aparente prática criminosa' de Weintraub

André de Souza

Leandro Prazeres

23/05/2020

 

 

Ministro da Educação atacou membros do STF e minorias durante reunião
O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), constatou "a ocorrência de aparente prática criminosa, que teria sido cometida pelo Ministro da Educação, Abraham Weintraub", na reunião ministerial do dia 22 de abril. O registro foi feito na decisão que levantou o sigilo do encontro entre o presidente Jair Bolsonaro e seus ministros. Na ocasião, Weintraub chamou ministros do STF de vagabundos e defendeu mandá-los para a prisão. Em seu despacho, Celso de Mello mandou oficiar cada um dos demais ministros da Corte para que "possam, querendo, adotar as medidas que julgarem pertinentes". Segundo o ministro do STF, trata-se de "gravíssima aleivosia'. Para ele, a declaração "põe em evidência, além do seu destacado grau de incivilidade e de inaceitável grosseria, que tal afirmação configuraria possível delito contra a honra (como o crime de injúria)". No vídeo, o ministro da Educação dispara ataques contra a Corte e minorias. — Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF. E é isso que me choca — disse Weintraub.

Em outro trecho, o ministro da Educação diz odiar as expressões "povo indígena" e "povo cigano".

— Esse país não é ... odeio o termo "povos indígenas", odeio esse termo. Odeio. O "povo cigano". Só tem um povo nesse país. Quer, quer. Não quer, sai de ré — afirmou Weintraub.

Em sua fala, o ministro defendeu o presidente e reclamou do fato de estar enfrentando processos no Comitê de Ética da Presidência da República.

— Eu estou com um monte de processo aqui no comitê de Ética da Presidência. Eu sou o único que levou processo aqui. Isso é um absurdo o que está acontecendo aqui no Brasil. A gente está conversando com quem a gente tinha que lutar —disse Weintraub.

 TOFFOLI DEFENDE INQUÉRITO

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, afirmou que o inquérito aberto no ano passado para investigar ataques à Corte permitiu a descoberta de "ameaças reais". A declaração foi dada ontem em uma transmissão ao vivo do Lide, grupo fundado pelo governador de São Paulo, João Doria, ao responder uma pergunta sobre a prisão de duas pessoas na quinta-feira acusadas de ameaçar juízes e promotores do Distrito Federal. —Isso é uma ação criminosa, tanto que ontem (quintafeira) foram presas duas pessoas em Brasília, que apresentaram ameaças e com perspectivas inclusive de ações. Por isso foi aberto inquérito e houve a prisão delas — disse Toffoli sobre a investigação em curso no DF.

Em seguida, comentou o inquérito do próprio STF, que foi aberto por ele e entregue para a relatoria do ministro Alexandre de Moraes. O inquérito recebeu muitas críticas por, entre outras coisas, ter sido instaurado sem a participação do Ministério Público. Foi nesse processo que o ministro Moraes tomou decisão censurando conteúdo dos sites "O Antagonista" e "Crusoé". —Eu, logo no início do ano passado, fui muito criticado por ter aberto um inquérito de defesa da instituição Supremo Tribunal Federal. Hoje, muitos que criticavam há mais de um ano esse inquérito, eles reconhecem a importância da abertura desse inquérito.

Só o feito de ter aberto o inquérito já fez reduzir ameaças inúmeras. Ali se descobriu, inclusive na deep web, ameças reais, ameaças reais —disse Toffoli.

Ele não quis responder se concordava ou não com a divulgação do vídeo da reunião ministerial, divulgado à tarde por Celso de Mello. O encontro foi citado pelo pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro como uma das provas da suposta interferência de Bolsonaro na Polícia Federal.