Correio braziliense, n. 20867 , 10/07/2020. Brasil, p.5

 

UTIs de cinco capitais à beira de um colapso

Bruna Lima

Maria Eduarda Cardim

10/07/2020

 

 

Enquanto o Brasil registra mais de 40 mil casos em 24 horas pelo 3º dia consecutivo, Cuiabá, Natal, Florianópolis, Curitiba e Belo Horizonte têm ocupação de leitos acima de 90%. País deve ultrapassar hoje a marca de 70 mil mortos pela pandemia

Mesmo com a suposta estabilização de mortes por covid-19 no Brasil, com médias acima de mil óbitos diários, o país é a nação que mais mata pela doença há sete dias. Ontem, não foi diferente. Com acréscimo de 1.220, o total de vidas perdidas chega a 69.184. Pelas previsões, o Brasil deve ultrapassar, hoje, a marca de 70 mil brasileiros mortos pela pandemia. Além disso, pelo terceiro dia consecutivo, o país registrou mais de 40 mil casos e totaliza 1.755.779 infectados. O número reflete diretamente na ocupação dos leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) pelo país, muitos, à beira de um colapso.

Pelo menos cinco capitais estavam com lotação acima de 90% na segunda-feira e, ao longo da semana, tiveram a situação agravada. Na região metropolitana de Natal, a falta de leitos é uma realidade há quase um mês e meio. O sistema de saúde da cidade sofre com a lotação, e o estado, que está com mais de 80% dos leitos cheios, precisa auxiliar na distribuição. Com isso, o cronograma de retomada das atividades estadual foi postergado.

Com o movimento do novo coronavírus para o Centro-Sul do país, cidades onde os índices de ocupação eram baixos até meados de maio, agora sentem o peso da pandemia. Mais 418 casos e dez mortes foram confirmadas ontem em Curitiba e, de um dia para o outro, o total de internados em UTI saltou de 142 para 185. Também no Sul, é crítica a situação de Florianópolis que, até ontem, tinha mais de 97% dos leitos de UTI adultos ocupados. Apesar da abertura de novos 570 leitos, o estado tem enfrentado a grande demanda em meio à queda das temperaturas. “Mesmo com o esforço constante do governo, a prevenção é, e continuará sendo, a melhor forma de combatermos esse vírus”, disse o governador Carlos Moisés.

Em Cuiabá, a situação é ainda mais crítica, já que os municípios do entorno da capital não conseguem atender à demanda de pacientes. Isso porque faltam leitos há mais de dez dias em todo o Mato Grosso. A fila de espera por uma vaga intensiva chegava a 100 pacientes e o estado vizinho, Mato Grosso do Sul, tem prestado auxílio às vítimas.

Belo Horizonte também preocupa. Na última atualização da Secretaria Municipal de Saúde, ontem, 340 dos 370 leitos de unidade de terapia intensiva para pacientes da covid-19 estavam em uso na cidade, o que resulta na ocupação de 92%; restando apenas 30. Ao levar em conta a ocupação de todas as UTIs, inclusive àquelas destinadas a pacientes que não contraíram o vírus, a taxa ainda é alta: 86%. De acordo com boletim epidemiológico, 76% dos leitos clínicos específicos para pacientes infectados estão ocupados. Ontem, Minas Gerais bateu recorde ao confirmar mais 90 mortes em 24 horas. Até então, o maior número diário de óbitos era de 73, registrado no último sábado. O estado totaliza 1.445 vítimas do novo coronavírus e faz parte do grupo que já registrou mais de mil mortes pela doença.

Balanço

Metade das unidades federativas já atingiu essa marca. Além de Minas, São Paulo (17.118), Rio de Janeiro (11.115), Ceará (6.741), Pernambuco (5.409), Pará (5.196), Amazonas (2.985), Maranhão (2.357), Bahia (2.328), Espírito Santo (1.930), Rio Grande do Norte (1.345), Alagoas (1.230) e Paraíba (1.196) integram a lista. No Brasil, não há mais nenhum estado com menos de cem mortes. Somente seis estados têm menos de 500 óbitos: Amapá (467), Santa Catarina (447), Acre (411), Roraima (393), Tocantins (240) e Mato Grosso do Sul (136).

Em relação ao cenário mundial, apenas os Estados Unidos superam o total de confirmações e de fatalidades pelo novo coronavírus. Segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins, 132.834 norte-americanos perderam a vida na pandemia e mais de 3 milhões foram infectados. A soma dos números brasileiros e dos EUA representa 40% do total de casos registrados em todo o mundo. 

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Conass defende transparência 

Bruna Lima

Maria Eduarda Cardim

10/07/2020

 

 

Recentes investigações no âmbito de compras superfaturadas em várias partes do país levaram o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) a repensar as estratégias para conciliar a urgência da pauta com o cumprimento dos requisitos legais, fechando as margens abertas para irregularidades. O objetivo é criar uma Câmara de Conciliação para aproximar gestores dos órgãos de controle.

Para o secretário de Saúde do Maranhão, Carlos Lula, recém-empossado presidente do Conass — após a saída de Alberto Beltrame do cargo por denúncia do Ministério Público do Pará —, é necessário diferenciar o descumprimento das normas de aquisições que, devido ao caráter emergencial, precisaram ser feitas, ainda que com preços não atrativos.

“O gestor público, que, em meio ao maior desastre dos últimos 100 anos, se permite praticar atos de corrupção, comete um absurdo além da ilegalidade ao não se importar com a vida das pessoas”, afirma, em entrevista ao Correio. “Por outro lado, a gente tem que entender que não dá para olhar, hoje, com os olhos do passado. Máscaras que a gente comprava a centavos chegaram a custar R$ 2, R$ 3, R$ 4 em um período em que houve uma necessidade muito brusca”, ressalta Lula.

Demanda vigente, a compra de medicamentos, principalmente sedativos necessários para o processo de intubação, tem sido um dos mais preocupantes gargalos no tratamento de casos graves. O governo federal encaminhou 806 mil unidades de medicamentos usados na intubação para os estados nos últimos dias. “Queremos um Ministério da Saúde que possa ser um coordenador nacional da crise, que não somente faça a entrega para os estados e diga ‘pronto, fiz a minha parte’”, destaca o secretário.

“No caso dos medicamentos, de intubação e outros, como cloroquina, é feita uma reunião diária. É lógico que também há uma confirmação por um pedido que vem dos secretários estaduais de saúde e dos secretários municipais, que são os técnicos da área de saúde. Baseado nesta demanda ocorre um diálogo para que se chegue a maior efetividade no emprego do que vai ser entregue”, esclarece o secretário-executivo da pasta, Élcio Franco.