Valor econômico, v.21, n.5018, 09/06/2020. Brasil, p. A5

 

Alcolumbre diz que Congresso fará contabilidade paralela

Renan Truffi

Luísa Martins

09/06/2020

 

 

O presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), confirmou ontem que o Legislativo fará a contabilização e divulgação de infectados e mortos pela covid-19 no país. A ideia foi debatida ontem, durante reunião de líderes do Senado, como uma reação à decisão do governo Jair Bolsonaro de alterar a forma de divulgação das informações sobre o contágio e a disseminação da doença.

Segundo Alcolumbre, uma comissão mista - formada por deputados e senadores - que já vem se dedicando aos assuntos relacionados ao coronavírus ficará responsável por fazer esse acompanhamento com as secretarias estaduais de Saúde.

"Após reunião de líderes de hoje (8), ficou decidido que a Comissão Mista Especial de Acompanhamento do Coronavírus trabalhará com os dados estatísticos da pandemia fornecidos pelos Estados e DF. É papel do Parlamento buscar a transparência em um momento tão difícil para todos", escreveu Alcolumbre em seu perfil nas redes sociais.

Na prática, a ideia é que o colegiado faça uma "contagem paralela" dos números divulgados diariamente pelas secretarias de saúde dos Estados e anuncie publicamente os resultados. A iniciativa foi apresentada pelos líderes da oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e do MDB, Eduardo Braga (AM), e recebeu apoio de várias bancadas. "O acesso à informação é direito de todos e dever do Estado. Se o governo federal tenta omitir os dados da população, cabe ao Congresso Nacional informar a população", justificou Randolfe.

Braga também usou as redes sociais para criticar a postura do governo. "Semear a desinformação é semear o caos. É confundir a população, é impedir a construção de uma estratégia eficaz no combate à pandemia. Transparência nas informações públicas é dever do Estado e direito de cada cidadão", escreveu.

No Supremo Tribunal Federal, o ministro Alexandre de Moraes foi sorteado para relatar uma ação protocolada pelos partidos Rede, Psol e PCdoB contra a iniciativa do Ministério da Saúde de omitir informações da população. O ministro é alvo de críticas de bolsonaristas por mirar aliados do presidente da República no inquérito das "fake news". Ministros da Corte ouvidos pelo Valor também criticaram o presidente por suas declarações de que o STF teria dado total responsabilidade a Estados e municípios nas ações contra a pandemia. Para eles, Bolsonaro quis "lavar as mãos" sobre o seu papel na crise.