O globo, n. 31701, 23/05/2020. País, p. 8

 

Os fatos que explicam

Aguirre Talento

23/05/2020

 

 

Seis episódios mostram que Bolsonaro queria troca na PF
O vídeo da reunião ministerial do último dia 22 de abril mostra que o presidente Jair Bolsonaro estava claramente insatisfeito com a Polícia Federal. Falando em tom irritado, em um primeiro momento Bolsonaro reclama que a PF não lhe fornecia informações de inteligência adequadas e que ele estava desinformado em assuntos do seu interesse. Quando discursa, Bolsonaro afirma: "Vou interferir", e olha diretamente para o então ministro Sergio Moro. "E ponto final, pô!", complementa, voltando o olhar para o centro da câmera.

Em um segundo momento da reunião, o presidente reclamou: "Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final!". Para os investigadores da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da Polícia Federal, a declaração foi uma clara referência à PF e à sua intenção de trocar o superintendente do Rio. O presidente argumenta, em sua defesa, que estava se queixando apenas da sua segurança pessoal. Entretanto, seis fatos recentes demonstram que Bolsonaro estava insatisfeito e tinha intenção de trocar o superintendente da PF no Rio. Reportagem do GLOBO mostrou a existência de quatro investigações de interesse direto de Bolsonaro na PF do Rio, porque envolviam ele ou seus familiares. Um é o inquérito eleitoral que apurou ocultação de patrimônio do senador Flávio Bolsonaro. Outro é o inquérito para apurar as declarações do porteiro de seu condomínio, que havia afirmado que o acusado de assassinar a vereadora Marielle Franco pediu para ir à residência de Bolsonaro no dia do crime — o porteiro voltou atrás das declarações após ser interrogado. Também havia um inquérito citando indevidamente o deputado Hélio Negão (PSL-RJ) e uma investigação que citou lateralmente o ex-assessor Fabrício Queiroz.