O Estado de São Paulo, n.46245, 29/05/2020. Economia, p.B3

 

Desemprego sobe e desalento atinge patamar recorde

Daniela Amorim

Cícero Cotrim

29/05/2020

 

 

Taxa salta de 11,2% para 12,6% em abril, e só não foi maior porque 5 milhões desistiram de buscar trabalho]

A pandemia do novo coronavírus provocou uma destruição generalizada de postos de trabalho no trimestre encerrado em abril. A taxa de desemprego subiu de 11,2% em janeiro para 12,6% em abril, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado só não foi ainda mais elevado porque houve migração recorde de pessoas para a inatividade. O desalento atingiu o maior patamar da série histórica, com mais de cinco milhões de pessoas que não trabalhavam nem buscavam uma vaga por acharem que não conseguiriam emprego, por exemplo.

“O ponto é que as pessoas estão perdendo o emprego e saindo do mercado de trabalho. É similar ao que acontece em uma grande recessão, quando quem é demitido não tenta encontrar um novo emprego”, afirmou o economista-chefe do banco de investimentos Haitong, Flávio Serrano.

De acordo com Serrano, da Haitong, as medidas de isolamento social para contenção do coronavírus são a chave desse movimento. Por isso, o desemprego deve avançar rapidamente nas divulgações de junho em diante, quando forem levantadas as restrições à circulação em São Paulo e, possivelmente, nos demais Estados.

A pesquisa do IBGE considera como desempregados apenas aqueles que efetivamente tomaram alguma medida para buscar trabalho. “O que temos, agora, é uma restrição de mobilidade que contém o desemprego. Quando tiver o relaxamento, quem está desempregado vai começar a buscar, vai aumentar a população desocupada, e nós podemos ter um pico de taxa de desemprego entre 14% e 15, explica Serrano.

Recordes. As demissões foram recordes em 7 dos 10 grupos de atividades econômicas, com destaque para comércio, indústria, construção e s serviços domésticos. Os mais afetados foram os trabalhadores informais. Segundo Adriana Beringuy, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, o mês de abril teve um desempenho “totalmente atípico de tudo que já vimos na série histórica”. “De fato o isolamento social tem um peso bastante importante na resposta desses movimentos (no mercado de trabalho)”, afirmou Adriana. De todos que perderam emprego, 76% trabalhavam na informalidade, o que reduziu a proporção de informais entre os trabalhadores ocupados.

“Todos estão perdendo (emprego), todos estão saindo da ocupação, mas os informais com intensidade muito maior. Essa queda não está associada a uma melhora qualitativa do mercado de trabalho, ela está associada a uma dispensa intensa, uma perda da ocupação tanto pelos formais quanto pelos informais”, disse Adriana.

No trimestre encerrado em abril, houve dispensa de 1,547 milhão de pessoas sem carteira assinada no setor privado, enquanto 1,196 milhão de trabalhadores por conta própria perderam suas ocupações. Outros 736 mil trabalhadores domésticos perderam o emprego no trimestre. O trabalho formal também encolheu: 1,504 milhão de vagas com carteira assinada foram extintas.

Como consequência da deterioração do mercado de trabalho, a massa de renda em circulação na economia registrou queda recorde no trimestre encerrado em abril, 3,3%, R$ 7,317 bilhões a menos em apenas um trimestre.

Balanço

7 de 10

grupos de atividades econômicas fizeram demissões; no comércio, indústria, construção e serviços domésticos, número foi recorde

76%

de todos o trabalhavam na informalidade; 1,547 milhão de pessoas sem carteira assinada perderam o emprego no trimestre encerrado em abril