O globo, n. 31696, 18/05/2020. País, p. 6

 

Efeitos do negacionismo

André Duchiade

Bruno Rosa

Cleide Carvalho

Rafael Garcia

18/05/2020

 

 

Além da saúde, governo põe em risco economia

Atravessando a maior pandemia do século, o Brasil assistiu em menos de um mês à queda de dois ministros da Saúde, enquanto os casos da Covid-19 no país ultrapassavam ontem 241 mil. As saídas de Nelson Teich e de Henrique Mandetta foram consequências de divergências que tiveram com o presidente Jair Bolsonaro sobre como lidar com a doença.

O presidente, que desde o início tratou a Covid-19 como uma “gripezinha”, sempre ignorou em sua conduta as normas de distanciamento social preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ele insiste em tratar a hidroxicloroquina como um remédio milagroso contra o novo coronavírus, apesar da falta de evidências científicas que comprovem sua eficácia. Em seguidas manifestações e pronunciamentos, Bolsonaro voltou-se contra as medidas adotadas por governadores e prefeitos para tentar conter a progressão do contágio e evitar o colapso dos hospitais.

Alegando defender a economia, Bolsonaro incluiu academias e salões de beleza na lista de atividades essenciais e, na última quintafeira, conclamou empresários a pressionarem o Congresso e os gestores estaduais e municipais pela retomada das atividades.

Para estudiosos ouvidos pelo GLOBO, as escolhas que Bolsonaro tenta impor ao país diante da pandemia terão efeitos contrários aos apregoados por ele, pondo em risco, além da saúde, a própria recuperação econômica e a posição internacional do Brasil.