O globo, n. 31696, 18/05/2020. País, p. 5

 

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Juliana Castro

18/05/2020

 

 

Perfis replicam texto a favor da cloroquina

Uma série de perfis no Twitter replicou ontem uma mesma mensagem em defesa ao uso da cloroquina para tratamento da Covid-19. O padrão de mensagens repetidas é um indício típico do uso de robôs nas redes sociais. As publicações acontecem dois dias depois da demissão, a pedido, de Nelson Teich do Ministério da Saúde. Contrariando a posição do presidente Jair Bolsonaro, Teich era contra a liberação do uso da cloroquina em pacientes com sintomas leves da doença.

A mensagem replicada na rede era: “Minha filha pegou Covid no trabalho (Bancária), e meu genro pegou dela, tomaram AZT+HCQ+Zinco logo no início dos sintomas, com 4 dias estavam zerados. Não vejo motivo pra tanta polêmica, um medicamento tão antigo e que até grávida pode tomar. Simples... ñ acredita ñ toma!!!”

Perfis que se comportam como robôs ajudam a turbinar pautas bolsonaristas nas redes. O uso desse mecanismo seria usado, inclusive, pelo que já foi chamado “gabinete do ódio”, que é alvo da CPI das Fake News no Congresso. O grupo é, supostamente, formado por assessores do Palácio do Planalto ligados ao núcleo duro da família Bolsonaro. Eles seriam encarregados de coordenar ataques virtuais e disseminação de notícias falsas nas redes sociais.

A deputada e ex-líder do governo no Congresso Joice Hasselmann (PSL-SP) disse à CPI das Fake News, em dezembro do ano passado, que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) é um dos coordenadores da estrutura montada pelo grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro para fazer ataques virtuais. Segundo a deputada, Eduardo está “amplamente envolvido” no esquema, do qual também fazem parte assessores dele e de outros deputados federais e estaduais, além de integrantes do Planalto.

Desde o início da epidemia, parte da comunidade científica se manifestou de forma cética em relação aos supostos benefícios da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento do novo coronavírus. Pelo menos dois estudos internacionais já demonstraram a ineficácia do medicamento em pacientes com Covid-19.

No Brasil, a droga é amplamente usada no tratamento de doenças como malária e lúpus. Médicos alertam para efeitos colaterais, como arritmias, que podem ser fatais em pacientes com problemas cardíacos.

Um estudo realizado no Amazonas chegou a ser parcialmente suspenso após a morte de pacientes que receberam doses altas de cloroquina. Apesar das controvérsias, o presidente defendeu em diversos discursos o uso da droga.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) emitiu um parecer afirmando que não há evidências de que a droga tenha benefícios no tratamento da Covid-19, mas liberou médicos a prescrevê-la em algumas situações e sempre após informar o paciente sobre os riscos da droga.