O globo, n. 31703, 25/05/2020. País, p. 6

 

Vídeo de reunião ministerial deixa base bolsonarista isolada

Mariana Barbosa

25/05/2020

 

 

Mobilização de críticos atingiu quase 60% das interações na rede social

 

O vídeo da reunião ministerial, tornado público na última sexta-feira por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), conseguiu mobilizar um grupo de críticos da direita à esquerda do espectro ideológico na rejeição ao governo Bolsonaro, e deixou a base pró-governo ainda mais isolada. É o que mostra monitoramento das discussões e interações no Twitter feito pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP).

O repúdio ao governo alcançou mais de 58,4% das interações no Twitter em 24 horas, gerando uma nova convergência da oposição, que desta vez reuniu desde deputados da esquerda ao ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que deixou o governo afirmando que as declarações do presidente Jair Bolsonaro, na reunião ministerial do dia 22 de abril, seriam uma demonstração de que o presidente tentou interferir na Polícia Federal (PF).

DE YOUTUBER A EX-MINISTRO

Já a base de apoio ao presidente também esteve bastante ativa, chegando a 19% das interações — o maior volume de atividade virtual no Twitter para esse grupo desde os protestos antidemocráticos em abril, segundo a FGV DAPP.

O monitoramento mostra, no entanto, que apesar da “energização”, a base bolsonarista se mantém “cada vez mais isolada” e “dependente dos próprios influenciadores e da atividade destes”, segundo análise da FGV DAPP.

“Ao contrário da base de oposição, que agora conta com ex-membros do governo e antigos apoiadores de Bolsonaro”, afirma o estudo.

A discussão política em torno do conteúdo da reunião ministerial deixou à margem o tema da pandemia do coronavírus.

A base de perfis não alinhados politicamente — ou seja, aqueles que não costumam interagir sobre temas políticos —acabou reduzida a apenas 6,5% das interações. Trata-se de um volume muito baixo considerando o histórico do monitoramento desde março, segundo a FGV DAPP.

“Contribui para a diminuição da base de perfis não alinhados politicamente e do debate geral de saúde pública voltado à pandemia o fato de que os influenciadores digitais de oposição a Bolsonaro novamente migraram para o grupo político”, diz o estudo.

O grupo de críticas ao governo no contexto do vídeo da reunião ministerial agregou desde o youtuber Felipe Neto, perfis da imprensa profissional (como G1, “Folha de S.Paulo”, O GLOBO etc.), parlamentares de partidos de esquerda e o próprio ex-ministro Moro.

WEINTRAUB É DESTAQUE

Os temas de maior repercussão relativos ao conteúdo do vídeo divulgado pelo STF foram os comentários do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que sugeriu a prisão dos ministros do Supremo, as ofensas de Bolsonaro aos governadores João Doria, de São Paulo, e Wilson Witzel, do Rio, e a própria investigação sobre a suposta intervenção do presidente na Polícia Federal.

O conteúdo da reunião gerou quase cinco milhões de postagens no Twitter em apenas 24 horas. Foi o maior volume de debate político diário desde a demissão de Moro do Ministério da Justiça em 24 de abril.