O Estado de São Paulo, n.46244, 28/05/2020. Política, p.A12
Investigados negam crime e atacam STF
Bruno Nomura
Cleide Silva
Túlio Kruse
28/05/2020
Empresários, políticos e outros apoiadores de Jair Bolsonaro criticaram medidas autorizadas ontem pelo ministro Alexandre de Moraes
Operação. Após autorização do Supremo, policiais federais cumpriram 29 mandados de busca e apreensão em 6 Estados
Empresários, políticos, youtubers e apoiadores de Bolsonaro que foram alvo ontem de operação contra divulgação de fake news negaram irregularidades, criticaram a operação autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes e atacaram o Supremo Tribunal Federal (STF). Alguns deles levantaram a tese de que a investigação não poderia ter começado na Corte, sem participação do Ministério Público Federal (MPF). Segundo criminalistas ouvidos pelo Estadão, embora seja incomum, essa medida não é ilegal.
O empresário Luciano Hang, dono da rede varejista Havan, afirmou não ter nada a esconder, “haja vista que o que eu falo está nas minhas redes sociais, é de conhecimento público”. Segundo ele, seu computador pessoal e o celular “foram disponibilizados para perícia.” Dono da rede de academias Smart Fit, Edgard Corona, afirma estar “à disposição da Justiça para os devidos esclarecimentos em investigação do STF”. Já o investidor Otávio Oscar Fakhoury, financiador do site Crítica Nacional e um dos fundadores do grupo Aliança pelo Brasil, não foi localizado para comentar.
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) criticou o inquérito do STF, afirmou que o País vive um “estado de exceção” e pediu o impeachment de Moraes. Também deputada, Bia Kicis (PSL-DF) criticou “abusos de autoridade e atos antidemocráticos do ministro Alexandre de Moraes”. Filipe Barros (PSL-PR) criticou o que chamou de “ditadura do STF”.
Deputado estadual de São Paulo, Douglas Garcia criticou a ordem de busca e apreensão em seu gabinete e acusou o STF de perseguição. “Vocês querem calar a voz dos conservadores através das redes sociais”, declarou. O deputado Gil Diniz (PSL-SP) disse que soube por meio da imprensa que será intimado a depor e chamou de “cala boca” a condução do caso.
Outro que se referiu ao Supremo com a palavra “ditadura” foi o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ). Seu colega Junio Amaral, fez piada nas redes sociais: “Repudio com veemência essa clara ilegalidade, mas também fico lisonjeado. Com a ‘credibilidade’ que eles gozam, só vão me promover, mais nada.”
Presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson chamou de “censura” o mandado de busca e apreensão em sua casa. “Atitude soez, covarde, canalha e intimidatória, determinada pelo mais desqualificado Ministro da Corte. Não calarei”, escreveu o político, que já se defendeu o ex-presidente Fernando Collor de Mello antes de se tornar bolsonarista.
A ativista Sara Winter xingou e fez uma série de ameaças contra Moraes. Em vídeo publicado nas redes sociais, Winter falou que, se estivesse na mesma cidade que Moraes, chamaria o ministro para “trocar socos”. Ela também prometeu perseguir e “infernizar” a vida do magistrado, responsável por determinar a ação da PF. O vídeo foi encaminhado ontem para a Procuradoria-Geral da República.
QUEM FOI ALVO DA OPERAÇÃO
Allan dos Santos
Blogueiro
Sócio do site conservador Terça Livre, é suspeito de produzir e disseminar notícias falsas, calúnias, ameaças e injúrias contra o STF.
Roberto Jefferson
Presidente do PTB
Autor de textos contra o STF, é suspeito de calúnia, injúria, difamação, propaganda de atos ilegais e con- tra o livre exercício dos Poderes.
Eduardo Fabris Portella
Ativista
Suspeito de produzir e disseminar notícias falsas em coordenação com o “Gabinete do Ódio”.
Edson Pires Salomão
Assessor parlamentar
Chefe de gabinete do deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP), é suspeito de produzir e disseminar fake news.
Otavio Oscar Fakhoury
Empresário
É suspeito de financiar a disseminação de notícias falsas e propagação de mensagens contraa ordem institucional.
Sara Winter
Ativista
Suspeita de produzir e disseminar mensagens com “conteúdo de ódio e de subversão da ordem”, em coorde- nação com o “Gabinete do Ódio”.
Luciano Hang
Empresário
Dono da rede de lojas Havan, é suspeito de financiar esquema de disseminação de fake news e mensagens contra ordem institucional.
Marcelo Stachin
Empresário
É suspeito de produzir e disseminar notícias falsas, o que pode significar calúnia, difamação, injúria ou contra e crimes contra a ordem social.
Enzo Leonardo Suzin Momenti
Youtuber
É apontado como um dos responsáveis pela produção e disseminação de notícias falsas e mensagens contra a Justiça.
Rafael Moreno
Blogueiro
Identificado entre os suspeitos de produzir e disseminar fake news e mensagens contra a ordem, em coordenação com o “Gabinete do Ódio”.
Winston Rodrigues Lima
Militar reformado
Suspeito de atuar no financiamento de “inúmeras publicações e vídeos com conteúdo difamante e ofensivo”.
Bernardo Kuster
Palestrante
Diretor de opinião do site bolsonarista Brasil Sem Medo, é suspeito de produzir e disseminar notícias falsas e mensagens de ódio.
Edgard Gomes Corona
Empresário
Dono da rede de academias SmartFit, é suspeito de financiar o esquema de disseminação de notícias falsas.
Marcos Dominguez Bellizia
Ativista
Coordenador do movimento Nas Ruas, é suspeito de disseminar notícias falsas e mensagens contra a ordem.
Rodrigo Barbosa Ribeiro
Auxiliar parlamentar
Funcionário do gabinete do deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP), é suspeito de disseminar notícias falsas.
Paulo Gonçalves Bezerra
Empresário
Suspeito de disseminar notícias falsas e incitar a prática de atos ilícitos, em coordena- ção com os outros investigados.
Reynaldo Bianchi Junior
Humorista e músico
Apontado como suspeito de financiar publicações e vídeos que defendem a quebra da ordem constitucional.
DEPUTADOS QUE SERÃO OUVIDOS
Bia Kicis
Deputada federal
Teve uma mensagem citada na decisão de Alexandre Moraes como exemplo de “indícios de alinhamento em mensagens ilícitas”.
Luiz Phillipe Orleans e Bragança
Deputado federal
Foi citado entre deputados que postaram mensagens contra o STF nas redes sociais.
Daniel Silveira
Deputado federal
Teve uma mensagem em que diz contar “com as Forças Armadas” selecionada no inquérito.
Douglas Garcia
Deputado estadual
Com dois de seus assessores implicados na operação da PF, já foi apontado como responsável por um “Gabi- nete do Ódio” regional na Alesp.
Carla Zambelli
Deputada federal
Teve um “recado aos ministros do STF” citada na decisão de Alexandre de Moraes e deve ser questionada sobre a disseminação das mensagens.
Filipe Barros
Deputado federal
Publicou mensagens identificadas como exemplo de “alinhamento” com esquema de fake news.
Geraldo Junio do Amaral
Deputado federal
Citado na decisão de Alexandre de Moraes como autor de mensagem “ilícita”.
Gil Diniz
Deputado estadual
Ex-assessor do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), teve uma mensagem contra o STF citada na decisão de Alexandre de Moraes.