O Estado de São Paulo, n.46241, 25/05/2020. Política, p.A5

 

Nas redes, avaliação é de que divulgação favorece Bolsonaro

Tiago Aguiar

25/05/2020

 

 

Segundo monitoramento, até opositores do governo concordam, mas dizem que vídeo mostra ‘inaptidão’ de Bolsonaro

Relatório da DL Rosenfield indica que o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril foi interpretado nas redes sociais como uma “grande vitória” para bolsonaristas. Com dados coletados entre sexta-feira, dia da divulgação da gravação, e anteontem, foi notado “entusiasmo” e grande engajamento entre os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.

Segundo o levantamento, entre os opositores também predomina a avaliação de que o vídeo favorece Bolsonaro. Para eles, no entanto, a gravação divulgada comprova as denúncias e mostra, com os palavrões e arroubos, a “inaptidão” do presidente em comandar o País.

O documento ainda menciona “idolatria em níveis preocupantes” entre apoiadores e que essa parcela adota uma “postura defensiva intransigente” de militância. “As redes sociais dos bolsonaristas aderem aos valores e à linguagem do presidente, portanto armamentismo e palavrões estão presentes. E a quase ausência do tema da pandemia na reunião não é criticado entre os apoiadores”, disse o professor Denis Lerrer Rosenfield, da consultoria DL.

Análise da consultoria Bites complementa o relatório da DL Rosenfield. Segundo a consultoria, o tom das redes foi “extremamente positivo” para o presidente. André Eler, gerente da Bites, avaliou que “a militância bolsonarista nunca esteve com um discurso tão alinhado e tão pronto desde o início da crise da pandemia” do coronavírus.

Só em duas outras ocasiões nesse período, segundo Eler, Bolsonaro gerou tanto interesse nas redes sociais quanto sexta-feira: em 25 de março, na repercussão de um pronunciamento em rede nacional na noite anterior, e em 24 de abril, o dia da saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça.

Entre os deputados federais, a dinâmica da polarização se manteve. Segundo a Bites, nas quatro horas após a divulgação do vídeo, parlamentares publicaram 752 posts em seus perfis oficiais nas redes sociais. Três partidos de oposição (PT, PSOL e PCdoB) foram responsáveis por 54% dos posts nesse período, enquanto o PSL ficou com 17% do volume.

Fabio Malini, do Laboratório de Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo, identificou 104 mil perfis com posicionamento de defesa de Bolsonaro no Twitter. Segundo ele, do total de participantes da discussão sobre a reunião, 14,4% eram favoráveis ao presidente. Malini observou que, pelas interações no Twitter, já há unificação de uma frente anti-Bolsonaro. Perfis identificados como “lavajatistas” e de esquerda interagem entre si para criticar o governo.

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‘Deturpam fala para desestabilizar’ País, diz Weintraub

25/05/2020

 

 

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou ontem no Twitter que não atacou “leis, instituições ou a honra de seus ocupantes” durante a reunião ministerial de 22 abril no Palácio do Planalto. Na ocasião, Weintraub disse: “Por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”.

Em seu perfil na rede social, o ministro se defendeu ontem, após a repercussão de suas declarações. “Tentam deturpar minha fala para desestabilizar a Nação. Manifestei minha indignação, liberdade democrática, em ambiente fechado, sobre indivíduos. Alguns, não todos, são responsáveis pelo nosso sofrimento, nós cidadãos”, escreveu.

Na sexta-feira passada, ao retirar o sigilo da gravação da reunião, o decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, falou em possível “prática criminosa” na conduta de Weintraub, “num discurso aparentemente ofensivo ao patrimônio moral” dos integrantes da Corte.

O ministro do STF Marco Aurélio Mello disse ter ficado “perplexo” com o vídeo da reunião. “Fosse o presidente (da República), instaria o ministro da Educação a pedir o boné”, afirmou.