Valor econômico, v.21, n.5022, 16/06/2020. Política, p. A12

 

Bolsonaro reconhece desgaste de Weintraub e diz que busca solução

Raphael Di Cunto

Matheus Schuch

16/06/2020

 

 

O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que está tentando "solucionar" a crise causada pelas novas declarações do ministro da Educação, Abraham Weintraub, contra o Supremo Tribunal Federal (STF) no domingo e que ele lhe causou "mais um problema". Segundo auxiliares, ele busca uma "saída honrosa" para o aliado, como deslocá-lo para um cargo de menor visibilidade no Palácio do Planalto, com o objetivo de agradar a ala ideológica do governo e apoiadores nas redes sociais, mas também diminuir a temperatura da crise com o Judiciário e o Congresso.

Weintraub voltou a causar desgaste para o governo ao encontrar um grupo de militantes que estavam acampados na Esplanada dos Ministério e foram retirados pela Polícia Militar do Distrito Federal após o governador Ibaneis Rocha (MDB) proibir protestos no local pelos atos desrespeitarem as regras de isolamento social contra a covid-19.

Durante o encontro, o ministro ficou sem máscara de proteção e chegou a se referir à polêmica declaração que feita na reunião ministerial de 22 de abril, quando defendeu a prisão dos ministros do STF e os chamou de "vagabundos". "Eu já falei qual a minha opinião do que eu faria com vagabundo", disse no domingo aos militantes.

O caso gerou novo estresse com os poderes, principalmente porque, na noite anterior, um grupo disparou rojões em direção ao prédio do STF. Ontem, em entrevista à "BandNews TV", Bolsonaro disse que a visita de Weintraub foi para outro grupo que não o autor dos ataques, mas que ele foi imprudente no encontro e que está "procurando um modo de contornar isso" porque o desgaste acaba sendo seu.

O presidente recebeu o ministro ontem à tarde e ouviu as explicações. Em entrevista à "Bandnews TV" logo em seguida, ele evitou falar em demissão, como aliados vem divulgando nos bastidores desde domingo, mas afirmou que o ministro causou "mais um problema". "Acho que ele não foi muito prudente em participar dessa manifestação, apesar de nada de grave em ter falado ali. Ele não estava representando o governo, estava representando a si próprio, [mas] então, como tudo que acontece cai no meu colo, mais um problema que estamos tentando solucionar com o senhor Abraham Weintraub", disse.

Interlocutores do presidente confirmaram ao Valor que a situação do ministro "é complicada" e que, apesar de contar com a simpatia da família Bolsonaro e de internautas pró-governo, o comportamento de Weintraub tem atrapalhado as tentativas de diminuir o desgaste do Planalto com o STF e o Congresso. As fontes, porém, evitaram informar se ele poderá ser demitido em breve, atribuindo a dúvida ao perfil "imprevisível" de Bolsonaro.

Um dos principais defensores da permanência do ministro é o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), um dos filhos do presidente, que foi as redes sociais ontem minimizar o episódio. "Não sei o motivo que se escandalizam com o Abraham Weintraub falando o que falou num bate papo com apoiadores? Outro dia um ministro do STF fez pouco do sofrimento judeu e comparou Bolsonaro ao nazismo, ninguém se escandalizou assim...", escreveu, em referência ao texto compartilhado pelo ministro Celso de Mello, do STF, com colegas, que comparava o governo Bolsonaro ao surgimento do nazismo na Alemanha.