Valor econômico, v.21, n.5022, 16/06/2020. Política, p. A12

 

Extremista é presa em Brasília por ordem de Moraes

Isadora Peron

Raphael Di Cunto

Murillo Camarotto

16/06/2020

 

 

A Polícia Federal (PF) prendeu ontem, em Brasília, a militante de extrema direita Sara Fernanda Giromini, que prefere usar o pseudônimo de " Sara Winter". Ela é uma das líderes do grupo chamado "300 do Brasil", que estava acampado na Esplanada dos Ministérios em apoio ao presidente Jair Bolsonaro.

A operação foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito do inquérito que investiga a organização e o financiamento de manifestações antidemocráticas. Outros cinco mandados de prisão temporária também foram cumpridos.

No sábado, por determinação do governo do Distrito Federal, o acampamento dos "300 do Brasil" foi desmanchado. Após o episódio, o grupo tentou invadir o Congresso e lançou fogos de artifício contra o prédio do STF. No domingo, houve uma forte reação dos ministros do STF e um dos envolvidos no episódio chegou a ser preso pela Polícia Civil.

Os mandados de prisão, no entanto, foram apresentados na sexta-feira pela Procuradoria-Geral da República (PGR), antes mesmo do novo ataque ao Supremo. No pedido, o órgão afirmou que o grupo continuava organizando e captando recursos financeiros para ações que se enquadram na Lei de Segurança Nacional. "O objetivo das prisões temporárias é ouvir os investigados e reunir informações de como funciona o esquema criminoso", disse a PGR em nota. Ontem, a defesa de Sara Giromini entrou com um habeas corpus no STF e disse que ela foi alvo de uma "prisão política".

Após a operação, Bolsonaro voltou a criticar ministros do Supremo e a mandar recados sobre o julgamento das ações que pedem a cassação do seu mandato e do vice, Hamilton Mourão, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Segundo ele, os militares "jamais" aceitariam uma intervenção do Judiciário "para derrubar um presidente eleito" e que acha que está "sendo complacente demais" com as decisões judiciais como a que impediu Alexandre Ramagem de tomar posse como diretor-geral da PF.

"Foi mais uma brutal interferência do Supremo no Executivo. Não podemos, realmente, concordar com isso. Acho que até estou sendo complacente demais", disse, em tom de ameaça, durante entrevista à "BandNews TV".

Ele também voltou a reclamar do inquérito das "fake news", também relatado por Moraes. "O inquérito serve para interesse apenas dele [Moraes]. Ele é a vítima, ele interroga, ele julga, ele condena. Isso não é justo, porque está a margem da legislação."

O presidente também fez ressalvas ao ministro Luiz Fux pela decisão liminar que estabeleceu os limites da atuação das Forças Armadas e da interpretação do artigo 142 da Constituição, dizendo que elas não têm papel de atuar como "poder moderador". "Como se os altos comandos das Forças Armadas não soubessem o papel deles da democracia."

Questionado sobre o que o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, queria dizer quando afirmou que os outros Poderes não poderiam "esticar a corda", Bolsonaro deu como exemplo os julgamentos no TSE. "É inadmissível querer cassar a chapa do presidente e vice. Isso é esticar a corda."