Correio braziliense, n. 20860 , 03/07/2020. Economia, p.8

 

"Auxílio não pode durar"

Augusto Fernandes

Fernanda Strickland*

Israel Medeiros*

Jailson Sena*

03/07/2020

 

 

Dois dias após sancionar a prorrogação do auxílio emergencial por mais duas parcelas, o presidente Jair Bolsonaro disse que o benefício não pode ser mantido por muito mais tempo. Segundo ele, o país está se endividando devido à concessão dos R$ 600.

Ontem, durante live nas redes sociais, ele disse entender que o dinheiro é importante “para fazer compra, para necessidades básicas”, mas alertou que “são R$ 50 bilhões por mês” para garantir o pagamento do programa.

“Assinei o decreto (de prorrogação) esta semana. Mais duas parcelas que vão cobrir julho e agosto. Não podemos continuar por muito tempo, não é dinheiro que está sobrando, estamos nos endividando com isso. A gente apela aos prefeitos e governadores, cada vez mais, com responsabilidade, abrir o comércio e botar a economia para funcionar”, afirmou.

Ontem foi o último dia para as pessoas requisitarem o auxílio emergencial. Segundo balanço divulgado pela Caixa Econômica Federal, até agora, dos 108,9 milhões de cadastros feitos para receber o auxílio emergencial, 107,7 milhões já haviam sido processados. No entanto, cerca de 1,2 milhão de pessoas ainda aguardam a primeira análise pela Dataprev. Outras 700 mil passam por reanálise.

Foram consideradas aptas a receber os R$ 600 cerca de 65,2 milhões de cidadãos; já os inelegíveis — aqueles que não têm direito ao benefício, somam 42,5 milhões.

Com o encerramento de pedidos, a partir de hoje, os canais da Caixa estarão disponíveis apenas para outras funções, como o acompanhamento da solicitação. Quem se cadastrou dentro do prazo terá o pedido analisado e, caso seja considerado elegível, poderá receber as cinco parcelas.

Segundo dados da Caixa Econômica Federal, o total de pagamentos das parcelas 1, 2 e 3 até agora alcançou R$ 112,5 bilhões, para 64,9 milhões de beneficiários.

A região Sudeste foi a que mais teve pagamentos, com R$ 41 bilhões (36%) do total. Em seguida está o Nordeste, com 39,8 bi (35,4%) e Norte, com R$ 12,2 bilhões (10,8%). O Sul, com R$ 11,5 bilhões (10,2%) e Centro-Oeste, com R$ 8 bilhões (7,1%), aparecem por último.

*Estagiários sob supervisão de Odail Figueiredo

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Déficit público vai a R$ 828 bi

Rosana Hessel

03/07/2020

 

 

O aumento dos gastos com medidas emergenciais de combate aos efeitos da pandemia de covid-19 deve gerar um deficit de R$ 828,6 bilhões nas contas bilhões do setor público consolidado, que inclui governos federal e regionais mais as estatais federais. O rombo será equivalente a 12% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo projeções atualizadas divulgadas ontem pelo Ministério da Economia. Com isso, a dívida pública bruta deve se aproximar de 100% do PIB.

Na previsão anterior, de junho, o deficit era estimado em R$ 708,9 bilhões, ou 9,9% do PIB. As novas estimativas utilizaram como base a mediana das previsões do mercado financeiro, coletadas pelo Banco Central no Boletim Focus, que projetam retração de 6,5% da economia neste ano.

Assim, o governo passou a prever rombo de R$ 795,6 bilhões (11,5% do PIB) no resultado primário do governo central, que agrega as contas de Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência. As expectativas de deficit de R$ 30,6 bilhões para estados e municípios, e de R$ 2,4 bilhões para estatais federais não foram alteradas. 

A equipe econômica atualizou ainda o cálculo dos gastos com medidas no combate à pandemia, que passou de R$ 417,7 bilhões, em junho, para R$ 521,3 bilhões, em julho, o equivalente a 7,5% do PIB. “O Brasil tem tomado ações relativamente grandes, comparando com os países emergentes e avançados”, destacou o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues. Segundo ele, o gasto relativo do Brasil “está acima das médias dos países avançados, de 5,8% do PIB; e dos países em desenvolvimento, de 4,1% do PIB”.

Teto de gastos

Durante a apresentação dos dados, Waldery reforçou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, não pretende flexibilizar o teto de gastos — pilar da confiança do mercado de que o governo ainda tem capacidade para controlar as despesas públicas.

Com as novas projeções de deficit e de queda da economia, o governo avalia que a dívida pública bruta chegará no fim deste ano a 98,2% do PIB. Nos anos seguintes, o endividamento permaneceria estável, alcançando 98,6% do PIB em 2024, quando começaria a cair até chegar em 92,2%, em 2029. A previsão da pasta, o é que o deficit primário seria zerado em 2025. Em uma estimativa de queda de 8,5% do PIB, porém, a dívida bruta saltaria para 100,6%.