Correio braziliense, n. 20859 , 02/07/2020. Economia, p.12

 

Auxílio: ganho maior para Norte e Nordeste

Rosana Hessel

02/07/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Estudo avalia que 30% dos municípios brasileiros - a maior parte localizada nas regiões mais pobres - terão ganhos superiores a 10% na produção local com a concessão do auxílio emergencial. Entre os estados, Maranhão e Piauí são os mais beneficiados

Cidades do Norte e do Nordeste são as mais beneficiadas pelo auxílio emergencial de R$ 600, que foi prorrogado por mais dois meses pelo governo federal. De acordo com o economista Ecio Costa, professor de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que tem estudado os efeitos desse programa de socorro aos mais vulneráveis à pandemia do novo coronavírus, 30% dos municípios brasileiros devem ter ganhos superiores a 10% no Produto Interno Bruto (PIB) municipal em 2020.

O dado faz parte de um levantamento feito por Costa e pelo economista Marcelo Freire, gerente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Pernambuco (SDEC-PE), no Estudo de Avaliação da Renda Básica Emergencial: Aspectos de Focalização e Eficácia do Programa, que está em fase de conclusão. Costa está atualizando os dados e estima que, com o aumento de três para cinco parcelas do benefício, o ganho médio nacional no PIB vai quase dobrar, passando de 1,5% para 2,46%.

Maranhão e Piauí são os estados com maior ganho, de 8,55% e de 7,92%, respectivamente. Já o Distrito Federal, que possui a maior renda per capita do país, ficou na lanterna com o menor impacto do auxílio emergencial no PIB, de 0,67%, conforme mostra o quadro ao lado.

Os economistas estimam que um impacto de R$ 178,6 bilhões, sendo que o Norte e o Nordeste devem receber 38,28% desse montante. “O auxílio emergencial está chegando nas cidades mais pobres e gerando impactos positivos na economia dos municípios, apesar das fraudes que foram identificadas”, afirmou Costa, em entrevista ao Correio.

As cidades com maior impacto estão no Pará, Maranhão e no Piauí, que registram taxas elevadas de beneficiários que participavam do Bolsa Família e viram seus rendimentos praticamente triplicarem, passando de uma média de R$ 191 para R$ 600 por mês. As mulheres chefes de família recebem R$ 1.200.

“Em média, 51% dos beneficiários do auxílio emergencial no Norte e Nordeste já estavam cadastrados no Bolsa Família. Logo, a renda média acabou crescendo em cidades dessas regiões, e isso tem ajudado os municípios a enfrentarem a crise, pois há um aumento no consumo, com mais dinheiro girando na economia”, explicou Costa.

Entre os municípios com maiores ganhos com as cinco parcelas do benefício emergencial destacam-se Santarém, no Pará, Central do Maranhão e Fartura do Piauí, com ganhos de 27,22%, 26,70% e 25,88%, respectivamente.

Apesar do impacto positivo da renda emergencial na economia, uma queda forte no PIB nacional deste ano não poderá ser evitada, admitiu Costa. Ele acredita que o tombo da economia do país deverá ficar próximo da mediana das estimativas do mercado coletadas pelo Banco Central semanalmente, que aponta para queda de 6,54%.

O estudo ainda mostra que um impacto de 1% da renda emergencial sobre o PIB implica melhora de 7,1% do IDH regional. “Além de ajudar a evitar uma queda no PIB, o auxílio também tem impacto positivo na redução da desigualdade”, pontuou o professor da UFPE. Ele chamou atenção para o fato de quase 3 milhões dos beneficiários não possuírem acesso às agências ou lotéricas para receberem os benefícios.

Fim do prazo

Mesmo com o aumento do número de parcelas do auxílio emergencial, o prazo para a solicitação do benefício no site da Caixa Econômica Federal e no app Caixa Auxílio Emergencial acaba nesta quinta-feira. Podem solicitar o benefício maiores de 18 anos, ou mães com menos de 18, que estejam desempregadas ou exerçam atividade na condição de microempreendedor individual (MEI), contribuinte individual da Previdência Social, ou trabalhador informal. Além disso, a renda familiar mensal não pode ultrapassar três salários mínimos (R$ 3.135,00).

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BB promete liberar R$ 3,7 bi a PMEs

Marina Barbosa

02/07/2020

 

 

Criado há mais de um mês para tentar destravar o crédito para os pequenos negócios, o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) só está disponível em cinco bancos até agora. Mas o governo garante que mais 14 instituições financeiras estão se registrando no programa e devem começar a operá-lo em breve. O Banco do Brasil (BB), por exemplo, deu início aos financiamentos ontem e promete emprestar R$ 3,7 bilhões para 180 mil empresas.

O Pronampe oferece R$ 15,9 bilhões de garantias do Tesouro Nacional para o crédito aos pequenos negócios e promete cobrir até 85% das perdas dos bancos que aderirem ao programa. Por isso, espera que esse valor seja alavancado a até R$ 18,7 bilhões no sistema financeiro. Milhares de micros e pequenas empresas que estão precisando de empréstimos para sobreviver à pandemia do novo coronavírus não vêm sendo atendidas pelas linhas tradicionais de crédito.

Sancionado em 18 de maio e regulamentado em 9 de junho, o programa, praticamente só vem sendo operado pela Caixa Econômica Federal (CEF), que, ontem, bateu a marca de R$ 1 bilhão de empréstimos, beneficiando 16 mil empresas. O governo, contudo, sabe que o universo de pequenos negócios que precisa de crédito para sobreviver à pandemia do novo coronavírus é bem maior. Segundo o Sebrae, quase 60% dos 17,2 milhões de pequenos negócios brasileiros precisam de empréstimos nesse momento. Porém, só 14% dos pedidos foram aprovados até agora.

Administrador do Fundo Garantidor de Operações (FGO) — o fundo que gerencia os R$ 15,9 bilhões de garantias do Tesouro —, o Banco do Brasil informou que 23 bancos já mostraram interesse em aderir ao Pronampe. Desses, cinco já formalizaram a adesão e 14 entregaram suas documentações.

“Priorizamos a construção do Fundo Garantidor. Colocar o FGO de pé e criar um ambiente favorável para que todo mundo pudesse operar essa linha de crédito”, disse o vice-presidente de negócios e varejo do BB, Carlos Motta, para justificar porque somente ontem o BB começou a liberar financiamentos no âmbito do programa.

Motta garantiu que a expectativa é de que os créditos deslanchem assim que as regulamentações forem concluídas. Segundo ele, o BB já recebeu consultas de 200 mil empresas e aprovou 45 mil empréstimos antes mesmo do lançamento oficial do programa.

Os financiamentos liberados ontem beneficiaram 1,5 mil empresas, com um tíquete médio de R$ 46 mil. “Esperamos um crescimento rápido nas operações. Nosso planejamento é chegar a R$ 3,7 bilhões de desembolso e atender até 180 mil micro e pequenas empresas”, afirmou o presidente do BB, Rubens Novaes.

De acordo com a lei que instituiu o Pronampe, devem ser atendidas microempresas e as empresas de pequeno porte que faturem até R$ 4,8 milhões por ano. O limite de financiamento é de até 30% da receita bruta do ano passado. Por conta da garantia do governo, o programa tem juros de 3,5% ao ano — a taxa básica de juros (Selic), que está em 2,25% ao ano, mais 1,25 ponto percentual — e prazo de até 36 meses para pagamento, com oito meses de carência.