Valor econômico, v.21, n.5028, 24/06/2020. Política, p. A10

 

MPs do Rio e MG buscam mulher de Queiroz

Alessandra Saraiva

André Guilherme Vieira

24/06/2020

 

 

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) e o Ministério Público Estadual de Minas Gerais (MPMG) realizaram, ontem, buscas em Minas Gerais em endereços de pessoas relacionadas a Fabrício Queiroz, ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro. Um dos objetivos da ação, desdobramento da Operação Anjo realizada na semana passada e que prendeu Queiroz, era encontrar Márcia Aguiar, esposa do ex-assessor. Com mandado de prisão expedido, e foragida desde semana passada, Márcia não foi localizada.

Na ação de ontem, foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão em Minas Gerais, segundo o MPRJ. A ação foi feita com apoio do Batalhão de Choque da Polícia Militar de Minas. As buscas foram concentradas no bairro de São Bernardo, em Belo Horizonte. Uma das residências seria de aparentada de Queiroz, que morreu na semana passada, conhecida como Dona Penha. A suspeita do MPRJ era de que Márcia estivesse escondida nessa casa em Minas Gerais.

Procurado pelo Valor, o advogado Paulo Emilio Catta Preta, que defende Queiroz e Márcia, informou ter entrado com pedido de habeas corpus em prol de Márcia. A decisão da Justiça em relação ao pedido não foi informada até o fechamento dessa edição.

Já o senador Flávio Bolsonaro manteve mesmo posicionamento veiculado na época da prisão de Queiroz, ao ser procurado pelo Valor para falar sobre a ação. O político voltou a afirmar que é vítima de grupo político que tem patrocinado campanha de difamação contra seu nome. Flávio disse acreditar na Justiça, e reafirmou inocência de acusações que levaram à prisão do ex-assessor.

A ação que prendeu o ex-assessor na semana passada cumpriu medidas cautelares autorizadas pela Justiça relacionadas ao inquérito que investiga a chamada "rachadinha". Nesse esquema, de acordo com o MPRJ, servidores da Assembleia Legislativa do Estado (Alerj) devolveriam parte dos seus vencimentos ao então deputado estadual Flávio Bolsonaro - hoje senador. A suspeita da Polícia é que Márcia também atuasse com o marido no mesmo esquema de "rachadinha".

A casa em que Queiroz estava em Atibaia (SP) quando foi preso pertence ao advogado Frederick Wassef, que já atuou em defesa de Flávio Bolsonaro. Após o ocorrido, Wassef anunciou saída do time de defesa do político no domingo. Na madrugada de sábado, a Justiça do Rio negou conversão de prisão preventiva em prisão domiciliar, feito pela defesa de Queiroz - que alegou questões de saúde para o pedido.

Amanhã, a 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) julgará pedido de defesa de Flávio Bolsonaro no caso das "rachadinhas". Os advogados pedem que o processo mude de competência, e seja julgado pelo órgão especial do TJ do Rio. Isso, na prática, retiraria o caso das mãos do juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal, que autorizou a prisão de Queiroz, e a de sua mulher, Márcia Aguiar. Segundo fonte que acompanha o caso, a defesa de Flávio Bolsonaro alega que, como o político era deputado estadual na época dos fatos investigados - entre 2007 e 2018 -, isso na prática tornaria o órgão especial como foro competente para o caso, visto que parlamentares têm direito a foro especial. Entretanto, há também jurisprudência, em instâncias superiores, de que o direito ao foro se encerraria ao término do mandato, informou a fonte.