O globo, n. 31714, 05/06/2020. Mundo, p. 23

 

Memorial contra o racismo

05/06/2020

 

 

Despedida de Floyd em Minneapolis reúne ativistas, policiais, políticos e manifestantes

 O primeiro de três memoriais em homenagem a George Floyd, negro asfixiado por um policial branco, foi realizado ontem em Minneapolis (foto), onde ele foi morto. Protestos cresceram nos EUA.

‘George Floyd foi morto de racismo e de discriminação ’, disse Benjamin Crump, advogado da família, no altar do primeiro memorial para o homem negro de 46 anos que morreu mãos da polícia dias atrás em Minneapolis, em um episódio que desencadeou protestos maciços contra o racismo nos Estados Unidos e em outros países.

O reverendo Al Sharpton, que passou 40 anos na vanguarda do ativismo político racial no país, fez um discurso poderoso na cerimônia na cidade de Minnesota, onde Floydmorr eu após ser mantido mais de oito minutos costas no chão como joelho de um policial branco em seu pescoço.

— Este não é um funeral normal,nem estas são circunstâncias normais, masa causa é muito comum. George Floyd não morreu de doença, ele morreu por causa do mau funcionamento da polícia neste país —lamentou o reverendo, que fez um ataque direto ao racismo secular nos EUA.

— A razão pela qual nós nunca pudemos ser quem queríamos e sonhávamos ser é que vocês mantiveram seus joelhos em nossos pescoços.

SAÍDA DE TROPAS DA CAPITAL

Centenas de pessoas participaram da despedida. Dois policiais, incluindo a chefe da polícia de Minneapolis, Medaria Arradondo, se ajoelharam ao passarem pelo caixão de Floyd, diante de uma imagem dele projetada na parede. Além de familiares e amigos, as principais autoridades de Minnesota foram à North Central University. Milhares de participantes esperavam do lado de fora para apresentar condolências. A cerimônia é “um apelo aos Estados Unidos e uma súplica por justiça para que não permitamos que sua morte seja em vão”, disse o advogado Crump, que pediu protestos contínuos contra “o mal que vimos naquele vídeo”.

— Não queremos dois sistemas judiciais nos EUA.

Scott Hagan, presidente da North Central University, recebeu os primeiros aplausos na cerimônia ao anunciar a bolsa de estudos George Floyd para “contribuir para o treinamento de jovens líderes afroamericanos”.

Então todos fizeram silêncio para ouvir o hino gospel Amazing Grace, e parentes falaram sobre o lar amoroso em que Floyd cresceu em Houston. No Brooklyn, Nova York, houve uma vigília liderada por seu irmão Terrence, que disse estar orgulhoso dos protestos, mas não da destruição com a violência em alguns deles.

—Todo mundo quer justiça, queremos justiça para George.

Na mesma linha, o reverendo Sharpton, de 65 anos, disse que está “mais esperançoso do que nunca”. Ver tantos brancos como afro-americanos nas ruas, manifestantes diante do Parlamento em Londres, fizeram-no crer que “é um momento diferente”.

Segundo levantamento do projeto“Mapeando a Violência Policial ”, a população negra tem três vezes mais chances de ser assassinada pela polícia nos EUA do que os brancos. E, aponta o projeto, entre 2013 e 2019,99% dos oficiais envolvidos em assassinatos no serviço no sEU Anão foram punidos criminalmente.

— Chegou a hora de a polícia prestar contas neste país —afirmou Sharpton.

O tom de muitos protestos ao longo do país ontem foi de luto, depois demais de uma semana em que alguns atos descambar ampara a violência. Autoridades de Los Angeles, Louisville, Seattle e Washington levantaram o toque de recolher noturno, depois que os protestos se tornaram pacíficos nos últimos dias.

Na capital, onde o presidente Trump incentivou demonstrações de militares e policiais para reprimir os manifestantes, a prefeita Muriel Bowser pediu a retirada de tropas. Cerca de 700 militares na área para possível uso no controle de protestos deveriam voltar a suas bases na Carolina do Norte.

PROCESSO CONTRA TRUMP

Floyd será homenageado amanhã com cerimônias em Raeford, Carolina do Norte, onde ele nasceu; na próxima segunda-feira em Houston, Texas, onde sua família mora; e no dia seguinte, terçafeira, será o funeral privado.

Na tarde de ontem, três expoliciais de Minneapolis acusados de colaborarem na morte de Floyd — Thomas Lane, Alexander Kueng e Tou Thao —apareceram num tribunal para uma audiência de fiança. O juiz do condado de Hennepin, Paul Scoggin, negou pedidos de fiança reduzida, que foi fixada em US$ 750 mil para cada acusado. Os policiais foram acusados na quarta-feira de ajudar e favorecer o assassinato. Já Chauvin, de 44 anos, enfrenta uma acusação de assassinato em segundo grau.

Entre os milhares de participantes do ritual em Minneapolis está Gwen Carr, mãe de Eric Garner, jovem negro que morreu asfixiado nas mãos da polícia em 2014.

A União Americana das Liberdades Civis (ACLU) anunciou que está processando Donald Trump, o secretário de Justiça, William Barr, e outras autoridades federais por ordenarem ataques a manifestantes pacíficos perto da Casa Branca, na segunda-feira, para que o presidente pudesse caminhar até a Igreja de São João, onde tirou foto com uma Bíblia na mão. Ontem, Barr voltou a acusar, sem apresentar provas, “agitadores extremistas” ligados ao Antifa — movimento difuso de manifestantes de esquerda — de estarem por trás da violência em protestos.