O Estado de São Paulo, n.46231, 15/05/2020. Economia, p.B7

 

Azevêdo anuncia saída da OMC no fim de agosto

André Marinho

Iander Porcella

Lorenna Rodrigues

15/05/2020

 

 

Diretor-geral da organização deixa cargo um ano antes do fim do mandato; CNI lamenta e Trump critica mais una vez a OMC

Carreira. Azevêdo foi o primeiro brasileiro a assumir uma organização internacional

O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, confirmou ontem, em reunião virtual com membros da entidade, que deixará o cargo no dia 31 de agosto, um ano antes do previsto. O brasileiro, eleito para o cargo em 2013, disse que a decisão visa a dar mais tempo para que o órgão escolha seu sucessor, sem que o processo dispute atenção com os preparativos para a 12.ª Reunião Ministerial (MC12, na sigla em inglês), que acontecerá em 2021.

“Essa é uma decisão pessoal, uma decisão familiar, e estou convencido de que serve aos melhores interesses desta organização”, afirmou, esclarecendo que não tem nenhum problema de saúde nem pretende obter ganhos políticos com isso.

Pelas regras da instituição, a escolha do novo diretor-geral começaria em dezembro e provavelmente dominaria o primeiro trimestre de 2021, de acordo com Azevêdo. “Esse calendário prejudicaria claramente o trabalho preparatório para a MC12, independentemente de ser realizado no verão do Hemisfério Norte ou no fim do ano.”

O diretor-geral defendeu que o órgão continue a trabalhar nas reformas, em meio à paralisia provocada por críticas de vários países, sobretudo dos Estados Unidos. “Sabemos que a OMC não pode ficar paralisada enquanto o mundo a sua volta muda profundamente. Garantir que a OMC continue a responder às necessidades e prioridades dos membros é um imperativo, não uma opção.”

Decisão pode abalar ainda mais o funcionamento da organização, alvo de frequentes ataques do presidente americano, Donald Trump.

Repercussão. E Trump aproveitou o anúncio da saída de Azevêdo para mais uma vez criticar a organização. “A OMC é horrível. Eles tratam a China como um país em desenvolvimento e, com isso, ela recebe vários benefícios.” Por outro lado, o representante comercial americano, Robert Lighthizer, reivindicou maior participação dos EUA na escolha do novo diretor da OMC. “Nos próximos meses, os Estados Unidos esperam participar do processo de seleção de um novo diretor-geral.”

Lighthizer agradeceu ainda a Azevêdo o “serviço exemplar durante o seu mandato”.

No Brasil, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) lamentou o anúncio da saída de Azevêdo da OMC. Para a confederação, a decisão é resultado negativo do “aumento do protecionismo no mundo e do unilateralismo”. “Em um cenário de recessão mundial causada pela pandemia de covid-19, o anúncio da saída do diretor-geral da OMC antes do fim de seu mandato é uma notícia negativa para o comércio exterior, que precisa ser fortalecido neste momento”, afirmou a CNI em nota.

Para a CNI, Azevêdo apresentou resultados concretos desde que assumiu a direção da OMC e é a “pessoa certa” para definir os rumos do comércio mundial neste momento de crise.

Princípio

“Garantir que a Organização Mundial do Comércio continue a responder às necessidades e prioridades dos membros e um imperatlvo, não uma opção.”

Roberto Azevêdo

DIRETOR-GERAL DA OMC