Correio braziliense, n. 20851 , 24/06/2020. Política, p.4

 

Pedido para investigar contratos

Luiz Calcagno

Sarah Teófilo

24/06/2020

 

 

CASO QUEIROZ » Ministério Público de Contas quer que TCU investigue empresa fundada por ex-mulher de Frederik Wassef. Prestadora de serviço em onze órgãos do Executivo, a Globalweb Outsourcing alega que recebeu menos no atual governo do que nas gestões anteriores

A empresa Globalweb Outsourcing, fundada pela ex-mulher do advogado Frederick Wassef, Maria Cristina Boner Leo, enviou ontem um ofício contestando a suspeita de tráfico de influência apontada pelo Ministério Público de Contas. Há indícios de que o estabelecimento, que presta serviços para o Ministério da Educação (MEC) e outros 11 órgãos ligados ao Executivo, tenha recebido, durante pouco mais de um ano de gestão do presidente Jair Bolsonaro, R$ 41,6 milhões. A quantia seria quase a mesma que amealhou durante os quatro anos da gestão Dilma Rousseff-Michel Temer, quando os repasses teriam sido de cerca de R$ 42 milhões. Mas, segundo a Globalweb, o valor dos quatro anos de serviço foi de R$ 221 milhões, e os pagamentos atuais seriam mais baixos.

A representação, assinada pelo subprocurador geral do Ministério Público de Contas, Lucas Rocha Furtado, pede que o Tribunal de Contas da União faça auditoria e aponte, dentre outras coisas, “se houve atuação da Sra. Maria Cristina, com a intermediação do Sr. Frederick Wassef, em eventual direcionamento das contratações à Globalweb”. “O volume de pagamentos à empresa teve aumento considerável durante a gestão Bolsonaro”, sustenta a peça.

Furtado afirma, ainda, que Maria Cristina está impedida de contratar com o poder público, por conta de um processo de improbidade administrativa. A proibição não se estende, no entanto, à Globalweb, pois, embora Cristina Boner tenha criado a empresa, o CPF da empresária não consta no quadro de sócios do empreendimento. A Globalweb é chefiada pela filha de Maria Cristina, Bruna Boner.

Cálculo divergente

Em ofício ao TCU, a empresa contesta as acusações. “Segundo dados que podem ser obtidos no Portal da Transparência, os valores recebidos por serviços regularmente prestados a órgãos federais durante o governo Bolsonaro, chegam a ser 70% inferior ao totalizado nas gestões Dilma e Temer, incluindo os valores resultantes de contratações decorrentes de outras empresas que estão em processo de desativação, e que devem ser considerados para efeito deste comparativo”, afirma o documento.

Segundo o documento, a Globalweb recebeu R$ 221 milhões no governo Dilma/Temer. “Os valores recebidos em 2019 foram os mais baixos aferidos desde 2015. Para além, desses R$ 41 milhões que foram recebidos (na gestão presente), apenas R$ 17 milhões são referentes a contratos novos, e R$ 24 milhões são de contratos anteriores ao atual governo”, argumentou a empresa.

“Também no Governo Bolsonaro, as renovações de contratos provenientes de licitações públicas realizadas pela modalidade pregão eletrônico no período foram de R$ 53 milhões, contra cancelamentos e não renovações na ordem de R$ 91,8 milhões. Ou seja, ao contrário do que se afirma, durante esse governo, ocorreram perdas de receita de 42%, e não ganhos”, segue o ofício.

R$ 1,2 milhão

é o total de recursos públicos que teriam sido utilizados no esquema da rachadinha, sob investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro.

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MP tenta encontrar esposa de Queiroz

24/06/2020

 

 

O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) realizou ontem uma operação para tentar encontrar a esposa de Fabrício Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar. Ela está foragida desde a última quinta-feira, quando Queiroz foi preso em uma chácara em Atibaia (SP). Márcia não foi localizada no estado mineiro. A operação, feita a pedido do Ministério Público do Rio de Janeiro, foi em conjunto com a Polícia Militar de Minas.

Fabrício Queiroz foi preso em um imóvel de Frederick Wassef, que representava o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-EJ) até poucos dias atrás e dizia, ainda, ser advogado ao presidente Jair Bolsonaro. Ele deixou, no entanto, a defesa de Flávio, no esquema da rachadinha. No momento da prisão, ao ser questionado sobre o paradeiro de Márcia (que também tinha um mandado de prisão), Queiroz disse que ela estava no Rio de Janeiro.

Ontem, as buscas ocorreram em casas de familiares de Queiroz em Minas. A defesa ingressou na Justiça do Rio de Janeiro com um pedido de habeas corpus para Márcia na última segunda-feira. Advogado de Queiroz e de Márcia, Paulo Emílio Catta Preta disse que até o momento a mulher não entrou em contato com ele. O defensor afirmou, ainda, que continua sem saber o paradeiro de Márcia de Aguiar.

A mulher de Queiroz, segundo denúncia do MP-RJ, teve participação fundamental nas manobras para atrapalhar as investigações, conforme consta na decisão do juiz, Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio. Segundo o magistrado, a atuação de Márcia “deixa inequívoco que, em liberdade, poderia obstaculizar a apuração dos fatos, além de agir sob as ordens de Fabrício Queiroz”. Na decisão que determinou a prisão de Queiroz e de Márcia, o juiz cita, ainda, que no decorrer da investigação o MP observou que Queiroz teria atuado “de forma sistemática para embaraçar" a investigação, orientando funcionários a não comparecer quando convocados pelo MP a prestar depoimento.

A investigação também mostrou que Márcia manteve contato com o miliciano Adriano da Nóbrega por intermédio de sua mãe, Raimundas Veras Magalhães. Adriano foi morto em fevereiro deste ano em uma ação registrada como confronto contra a polícia, na Bahia, durante operação que busca aprendê-lo. A ex-mulher e a mãe do miliciano Adriano da Nóbrega, Danielle Mendonça e Raimunda, respectivamente, trabalharam no gabinete de Flávio.