Correio braziliense, n. 20850 , 23/06/2020. Negócios, p.9

 

10 milhões de endividados

Marina Barbosa

Jailson Sena*

23/06/2020

 

 

Segundo pesquisa da CNC, 67% das famílias brasileiras possuem alguma dívida em aberto com bancos, cartão de crédito ou crediário. Inadimplência atinge 25,4% e chega perto do recorde da série histórica

A crise econômica causada pelo novo coronavírus provocou uma nova onda de endividamento no Brasil. Segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC), muitas famílias perderam renda em meio à pandemia e precisaram se endividar para conseguir pagar as contas ou manter o consumo de bens essenciais, como alimentos e remédios. Com isso, o nível de endividamento da população bateu novo recorde neste mês e começa a pressionar a taxa de inadimplência do país.

De acordo com o levantamento, 67,1% das famílias brasileiras estão endividadas. Isso significa que 10,8 milhões de pessoas têm alguma dívida em aberto, seja com o banco, com o cartão de crédito ou com o crediário de alguma loja. São 316 mil endividados a mais do que em fevereiro, e 1,5 milhão a mais que no auge da crise de 2014, quando 9,3 milhões de brasileiros ficaram endividados. Por isso, já há uma preocupação com a quantidade dos que não vão conseguir pagar as contas em dia.

“O endividamento já vinha crescendo antes da pandemia. Só que as pessoas estavam se endividando com o consumo de produtos duráveis, que dependem de crédito. Agora, o que motiva o aumento do endividamento é a necessidade fazer frente a despesas correntes", explicou a economista da CNC Izis Ferreira. Ela diz que isso fica claro quando se olha para o número de postos de trabalho que foram fechados e para o perfil das dívidas contraídas. “As dívidas estão mais associadas ao curto prazo e às famílias com menos de 10 salários mínimos, que, normalmente, não têm uma reserva de emergência como as famílias mais ricas”, contou.

Empréstimo

Foi o que aconteceu com a influencer Maria Ciriaco, de 24 anos. Ela e o marido Alan ficaram sem salário e tiveram que pegar dinheiro emprestado para conseguir pagar as contas de casa. “O trabalho de nós dois fechou e o aluguel venceu. Até tentamos negociar com a imobiliária, mas não teve acordo”, contou Maria.

Mesmo com o empréstimo, Maria não conseguiu quitar o cartão de crédito. Ela não foi a única. Segundo a CNC, 316 mil brasileiros deixaram de pagar alguma conta na quarentena. O total de famílias que têm contas em atraso no Brasil passou dos 4 milhões e a taxa de inadimplência subiu de 24,1% para 25,4% entre fevereiro e junho.

A nova taxa está próxima do recorde da série histórica da CNC, de 25,7%, atingido em outubro de 2017. E preocupa os especialistas, pois tende a crescer no pós-pandemia. “A inadimplência cresceu, mas ainda não está em uma rota explosiva. Porém, a necessidade de crédito deve seguir alta nos próximos meses, já que a recuperação do mercado de trabalho não deve ser rápida. Então, também há uma tendência de aumento da inadimplência”, alertou Izis.

* Estagiários sob supervisão de Odail Figueiredo

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Vem ai saque de dinheiro em lojas

Marina Barbosa

23/06/2020

 

 

O Banco Central (BC) vai permitir que os consumidores brasileiros saquem dinheiro das suas contas bancárias em lojas do varejo, sem ter que ir ao banco ou a um terminal de atendimento. A possibilidade deve estar disponível a partir de novembro, junto com o sistema de pagamentos instantâneos do BC, o PIX.

O anúncio foi feito ontem pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, no Fórum de Pagamentos Instantâneos. Ele ainda confirmou que o PIX não vai cobrar nada das transferências que serão realizadas entre pessoas físicas.

Segundo Campos Neto, as regras serão apresentadas em agosto. A ideia, adiantou, é oferecer comodidade aos consumidores, dar mais uma opção de negócio para os varejistas que aderiram ao PIX e reduzir o custo do dinheiro em espécie.

O anúncio de que os brasileiros poderão utilizar o sistema de forma gratuita ocorre uma semana depois de o WhatsApp liberar uma ferramenta de pagamentos digital que, segundo especialistas, pode conquistar parte dos potenciais clientes do PIX.

“Haverá gratuidade para pessoas físicas, de forma a possibilitar igualdade de condições com outros meios de pagamentos”, afirmou Campos Neto, pedindo às instituições financeiras que aderirem ao PIX “modelos de negócio e estratégias interessantes e economicamente atrativas”.

Diretor de política monetária do BC, Bruno Serra buscou tranquilizar as empresas em relação ao custo do serviço. Segundo Serra, “a expectativa é que a tarifa fique em torno de 1 centavo a cada 10 mensagens de pagamentos instantâneos liquidadas”.