Correio braziliense, n. 20850 , 23/06/2020. Brasil, p.7

 

OMS alerta para baixa testagem

23/06/2020

 

 

Alta porcentagem de resultados positivos nos testes realizados no Brasil, de aproximadamente 31%, indicaria problemas na coleta de dados. De acordo com a entidade, esse percentual estaria distorcido, pois a média dos países é de 17% para as confirmações da infecção

A Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou preocupação, ontem, com a alta porcentagem de resultados positivos nos testes da covid-19 no Brasil –– na casa dos 31%, de acordo com o boletim epidemiológico mais recente. Segundo a entidade, o número elevado indica baixa testagem e uma provável subnotificação de casos, uma vez que a taxa média de confirmações, em outros países, costuma ser de 17%.

“Precisamos entender como quase um terço dos testes dá positivo. Provavelmente, há uma subestimação do número verdadeiro de casos. A taxa em países com testagem em massa chega até a 5%, e essa tendência não é um resultado de realizar vários testes”, disse Michael Ryan, diretor do programa de emergências da OMS.

Na semana passada, Ryan afirmou que havia uma “estabilização” da doença no Brasil. Questionado, ontem, sobre a declaração que dera, justificou que os números de casos apresentaram um padrão durante as semanas de junho. O diretor, porém, chamou a atenção para os dados divulgados pelo Ministério da Saúde na sexta-feira, quando houve recorde absoluto na atualização oficial diária, de 54.771 novos infectados –– resultado de uma subnotificação anterior na plataforma.

A diretora técnica da OMS, Maria Van Kerkhove, acrescentou que é necessário reduzir a análise das estatísticas ao menor indicador possível. Segundo ela, é importante identificar as variações no comportamento do vírus em cada local, pois ele não se dissemina de forma equivalente ao redor de cada país. “Pode haver diferenças em intensidade e em transmissão na comparação entre estados. É importante ir ainda mais a fundo”, salientou.

Novo pico

Estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) alerta para o risco de um novo pico da contaminação pela covid-19 em julho ou agosto por causa, principalmente, da reabertura gradual do comércio em Manaus. A equipe trabalha com elaboração de um estudo completo que deverá ser divulgado nas próximas semanas.

De acordo com estimativa da equipe, apenas a capital do Amazonas pode alcançar o número de 200 mil casos simultâneos da doença. Ainda segundo os pesquisadores, a cidade poderá registrar mais 3 mil mortes causadas pela covid-19 com a redução do distanciamento social. Professor do Departamento de Matemática da Ufam e integrante da equipe de pesquisadores que coordenou o estudo Curva de Contaminação Covid-19 - Estado do Amazonas, Wilhelm Alexander Steinmetz, alerta para a gravidade da situação. “Todo dia temos centenas de novos casos. O número de óbitos está bem acima do normal, com cerca de dez por dia. Isto é preocupante”.

Domingo, o Amazonas registrou mais 508 casos, totalizando 63.410 relatos confirmados do novo coronavírus no estado, segundo boletim epidemiológico da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas. O boletim informa, ainda, que foram confirmados mais sete óbitos pela doença, dos quais três ocorridos entre sábado e domingo, todos de pacientes que estavam internados em UTIs, e quatro que tiveram confirmação diagnóstica apenas no domingo, elevando para 2.657 o total de mortes. Dos 63.410 casos confirmados no Amazonas até o domingo, 25.103 são de Manaus (39,59%) e 38.307 do interior do estado (60,41%).

A Secretaria de Estado da Saúde informou, por meio de nota, que o plano de retomada gradual de atividades econômicas em Manaus, iniciado em 1º de junho, foi definido a partir da avaliação de indicadores epidemiológicos e de assistência, como ocupação de leitos e óbitos por covid, que, segundo a secretaria, apresentam números decrescentes na capital do estado.

Frase

“Precisamos entender como quase um terço dos testes dá positivo. Provavelmente, há uma subestimação do número verdadeiro de casos. A taxa em países com testagem em massa chega até a 5%”

Michael Ryan, Diretor do programa de emergências da OMS