Correio braziliense, n. 20850 , 23/06/2020. Brasil, p.6

 

Falsa sensação de segurança

Maíra Nunes

23/06/2020

 

 

Com a reabertura das atividades comerciais, o brasileiro começou a sair da quarentena e afrouxar as medidas de proteção. Especialistas alertam, no entanto, que risco de contágio seguirá alto. Com mais 21.432 casos, total de infectados vai para 1,1 milhão

A população brasileira está de volta às ruas após ampla retomada das atividades econômicas. Apesar de a flexibilização das medidas de isolamento aparentar relativa sensação de segurança em relação ao contágio do novo coronavírus, a pandemia no Brasil segue crítica; ontem foram somados 21.432 casos, elevando o número total para 1.106.470. O salto de novos infectados da covid-19 no país, ao registrar 54 mil novos positivos na última sexta-feira, no mesmo dia em que superou a marca de 1 milhão de casos, despertou o alerta da Organização Mundial de Saúde (OMS). Especialistas também são enfáticos ao afirmar que o vírus segue circulando nas cidades brasileiras e que o isolamento social ainda é a melhor forma de prevenção.

“Trata-se de uma falsa sensação de segurança”, afirma Heloísa Ravagnani, presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal. “As pessoas acabam relaxando e é uma tendência natural querer voltar à vida normal, mas é importante ter a retaguarda em relação ao sistema de saúde”, pontua. Novos picos da doença podem ocorrer e, por isso, é preciso manter tanto o controle por parte das autoridades, quanto os cuidados por parte da população, para que haja capacidade de atender a todos que precisarem de atendimento e equipamento médico.

Na última quinta-feira, o Ministério da Saúde avaliou que o país caminha para uma estabilização da curva de infectados e mortes em decorrência do novo coronavírus. “Quando olhamos a inclinação da curva de novos casos da covid-19, dá a entender que estamos entrando em um platô e que a curva se encaminha para uma estabilidade”, disse, então, o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correia de Medeiros.

Hora errada

De fato, a primeira vez em que o Brasil registrou mais de mil mortes pelo vírus em um intervalo de 24 horas foi em 19 de maio, realidade que se repetiu por diversas vezes nas semanas seguintes. Apesar dos números, estados e municípios estão reabrindo comércios, espaços públicos e até shoppings.

“A reabertura dos setores, como shoppings, não significa que as pessoas tenham que correr para fazer compras”, ressalta o infectologista Hemerson Luz. Médico com experiência em operações humanitárias e desastres no Brasil e no exterior, ele compreende que já era esperado que as pessoas começassem a quebrar o isolamento após três meses. “Mas isso vem ocorrendo justamente no momento em que o vírus está circulando em áreas mais populosas”, alerta.

É importante enfatizar que as recomendações de especialistas seguem as mesmas. Quem puder continuar em isolamento e tiver condições de evitar sair de casa, ter contato com outras pessoas e se expor, precisa continuar fazendo o esforço. “Quanto menos exposição tiver agora, melhor. Porque vai diminuir a possibilidade de contaminação, já que o vírus está circulando e todo mundo é suscetível. Quem tiver contato com o vírus, vai ficar doente. Há pessoas que terão apenas um quadro leve, mas terão outras que vão parar na UTI e irão a óbito”, alerta o infectologista.

Com a retomada de parte das atividades econômicas, muita gente precisa sair de casa, pegar transporte público, entre outras situações de risco. Nesses casos, a recomendação é se manter atento ao distanciamento social e às medidas de prevenção, como a higienização constante das mãos, uso de álcool em gel e máscara. Medidas que, aliás, seguirão por bastante tempo, mesmo com a estabilização ou queda da curva de infecção da covid-19.

Desconfiança

Com a retomada das atividades comerciais, a curva da covid-19 tende a aumentar, segundo a infectologista Heloísa Ravagnani. “O ideal é que todo mundo continue se resguardando, porque o sistema de saúde tende a ficar sobrecarregado”, recomenda.  Desde o início da pandemia no Brasil, governo federal, estados e municípios têm divergido em diversos pontos de vistas no que se refere às medidas de isolamento.

Essa falta de sintonia pode ser um dos fatores pelos quais a maioria dos brasileiros não confia nos números da pandemia apresentados pelos governos, sejam municipais, estaduais ou federal. Segundo um levantamento realizado pelo Instituto Paraná Pesquisa, divulgado ontem, 66% desconfiam que há subnotificação da doença no Brasil; 27,8% dizem confiar na informação e 6% não sabem ou não querem opinar. Foram entrevistadas 2.166 pessoas, entre os dias 15 e 18 de junho, em 208 municípios, de 26 estados e no Distrito Federal.

“Nós, profissionais de saúde, sabemos que existe um grau de problemas com a notificação da covid-19, mas os dados oficiais são os que temos e podem, sim, ser considerados confiáveis para entendermos a evolução da doença”, considera a presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Heloísa Ravagnani.

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Uma a cada 10 mortes no mundo é no país 

Bruna Lima

23/06/2020

 

 

Com 51.271 vidas perdidas, o Brasil acumula mais de dez por cento do total de mortes no mundo provocadas pelo novo coronavírus. Segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins, o balanço mundial acumula 470.679 fatalidades. São 1.106.470 infectados pela doença no país, com acréscimo de 21.432 casos nas últimas 24 horas. O Brasil segue como segundo país com mais positivos para covid-19 no mundo. Somente os Estados Unidos têm números absolutos superiores aos brasileiros. São 2.305.950 casos e 120.340 óbitos.

O país liderava o número de atualizações diárias de óbitos há semanas, mas, ontem, foi superado pelo México. Foram 654 mortes no Brasil, de domingo para segunda, contra 1.044, naquele país. Apesar da ultrapassagem, o baixo número de registros no Brasil é esperado. Por conta do fim de semana, há uma defasagem nos registros dos casos e das mortes divulgados pelo Ministério da Saúde, o que dificulta inferir que haja uma desaceleração.

Ao analisar por semana epidemiológica, na última (25ª), o país bateu recorde de óbitos no acumulado de sete dias: 7.256. O número é maior do que a soma de todas as fatalidades registradas na China (4.639), Portugal (1.534) e Argentina (1.016), desde o início da pandemia.

Estados

São Paulo é o estado com maiores números absolutos: são 12.634 óbitos e 221.973 infectados. Outras oito unidades federativas ultrapassaram a marca de mil óbitos cada. São elas: Rio de Janeiro (8.933), Ceará (5.604), Pará (4.605), Pernambuco (4.252), Amazonas (2.671), Maranhão (1.760), Bahia (1.441) e Espírito Santo (1.362). Juntos, os nove estados somam 43.262 mortes, ou seja, 84,3% de todos os óbitos. No país, apenas o Mato Grosso do Sul possui menos de 100 fatalidades; até o momento, o estado registra 47.

A atualização diária no Brasil traz um aumento de 1,1% no número de óbitos em relação a domingo, quando o total estava em 50.617. O acréscimo de pessoas infectadas marcou uma variação de 1,9% sobre o número do dia anterior, quando os dados do ministério registravam 1,085 milhão de pessoas infectadas.

Do total de casos confirmados para a doença, 483.550 pacientes estão em observação, 571.649 foram recuperados e 3.912 mortes estão em investigação.

A taxa de letalidade (número de mortes pelo total de casos) ficou em 4,6%. A mortalidade (falecimentos por 100 mil habitantes) foi de 24,4. Já incidência (casos confirmados por 100 mil habitantes) ficou em 526,5.

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Seleção para testar vacina 

23/06/2020

 

 

O Grupo Fleury divulgou, ontem, que começará a seleção de dois mil brasileiros para participar da terceira fase de testes da vacina contra o coronavírus desenvolvida pela Universidade de Oxford, da Inglaterra. Com os brasileiros, serão no total cerca de 50 mil voluntários em todo o mundo. O estudo é conduzido no país pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Os brasileiros serão divididos em dois grupos: um tomará a vacina e o outro será testado com a vacina-controle MenACWY, também conhecida como vacina meningocócica conjugada. Para saber a eficácia da vacina, os pesquisadores vão comparar os dois grupos: o percentual de pessoas vacinadas que não desenvolveu a doença e a proporção de indivíduos testados com a vacina-controle que acabou infectada.

“Se o primeiro time, o das pessoas testadas com a vacina, tiver um percentual superior de imunidade em comparação àqueles que tomaram a vacina-controle, a conclusão é a eficácia da vacina”, explica o infectologista Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury. “Tudo indica, infelizmente, que o Brasil ainda está em uma curva ascendente de contágio. Nesse contexto, a realização de estudos de testes de vacina se torna vantajosa, uma vez que grande parte da população ainda não desenvolveu imunidade.”