O globo, n. 31672, 24/04/2020. Especial Coronavírus, p. 8

 

Sistema de saúde está perto do colapso em cinco capitais

Marlen Couto

24/04/2020

 

 

Pesquisa calculou leitos, respiradores e médicos e comprovou situação crítica de cidades como São Paulo, Manaus e Fortaleza

 O sistema de saúde de cinco capitais brasileiras — Manaus, Macapá, São Paulo, Fortaleza e Palmas — está próximo do colapso. É o que aponta um índice desenvolvido por pesquisadores de quatro universidades brasileiras e que mede, por meio de um modelo matemático, a utilização da estrutura hospitalar pública e privada.

O índice considera a quantidade de leitos clínicos, respiradores e de médicos em fevereiro, de acordo com informações do DataSUS, e o número de casos confirmados e óbitos até 20 de abril por Covid-19, registrado pelas secretarias de saúde e coletados pelo Brasil.IO. O cálculo foi feito por pesquisadores da Escola de Engenharia da Universidade de São Paulo (EESC/USP), Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Universidade Estadual Paulista (UnespBauru) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

De acordo com o índice, quanto mais perto de 1 estiver a estrutura hospitalar de uma região, maior a probabilidade do seu limite ou do colapso. É o caso das cinco capitais citadas. Em Manaus, a disparada de mortes também já afeta cemitérios, onde há filas de carros funerários, como mostrou O GLOBO. A capital do Amazonas somou até esta quarta-feira 1.958 casos confirmados e 163 mortes para Covid-19.

MANAUS: PICO EM MAIO

Segundo o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), o pior momento da crise do coronavírus na cidade será a partir de 15 de maio, estendendo-se por todo o mês de junho. Ele participou ontem de uma audiência pública da Câmara dos Deputados, realizada em videoconferência, por uma comissão de parlamentares que analisa as ações preventivas do coronavírus no país.

Arthur Virgílio afirmou que o Sistema Único de Saúde (SUS) do estado está exaurido e, por isso, reforçou o pedido por pessoal especializado, medicamentos e equipamentos de proteção individual (EPIs).

Os dados apontam ainda que São Luís, Recife e Rio de Janeiro também estão em situação de alerta, perto de uma saturação do sistema, com índice entre 0,59 e 0,92. Quando analisados os estados, a estrutura hospitalar de Amazonas, Amapá, São Paulo, Ceará, Pernambuco e Rio de Janeiro está próxima do limite.

O levantamento não contabiliza recentes iniciativas dos governos dos estados e federal para ampliar a oferta de leitos e equipamentos, além da contratação de profissionais de saúde. Coordenador do estudo e professor da UFRA, Diogo Ferraz explica que não há ainda dados unificados sobre a ampliação — em alguns estados feita, por exemplo, por meio de hospitais de campanha —e que é importante que o governo federal divulgue essas informações.

— O índice é um bom termômetro para interpretar o momento atual e alertar sobre quais são os lugares com mais vulnerabilidade e que precisam de mais recursos. Também traz informações mais amplas que a taxa de leitos, porque leva em consideração respiradores e médicos. Não adianta, por exemplo, ter leitos e faltarem médicos — explica o pesquisador.

O índice aponta que mesmo cidades com poucos casos do novo coronavírus registrados têm alta probabilidade de entrar em colapso, como Palmas. A capital do Tocantins soma 25 casos de infecção pelo vírus e uma morte confirmada, mas tem uma das menores estruturas de saúde do país.

— Palmas é uma das capitais com menos médicos e respiradores. Embora tenha poucos casos, se o coronavírus continuar crescendo, é muito fácil entrar em colapso —diz Diogo Ferraz.