O globo, n. 31707, 29/05/2020. Economia, p. 15

 

Crise maior para informais

Gabriel Martins

29/05/2020

 

 

Em abril, 4,9 milhões perdem o emprego. Deste total, 3,7 milhões são sem carteira

 Como avanço da pandemia do coronavírus, a taxa de desemprego no país subiu de 11,2% em janeiro para 12,6% no trimestre encerrado em abril. No total, 12,8 milhões de pessoas estão em busca de uma oportunidade de trabalho. Os números divulgados ontem pelo IBGE mostram, porém, que a crise é mais dura para o trabalhador informal.

No trimestre encerrado em abril, a população ocupada teve queda recorde para 89,2 milhões. Neste período ,4,9 milhões de brasileiros perderam o emprego. Deste total, 3,7 milhões eram profissionais sem carteira assinada. O volume de demissões foi tão intenso neste segmento que a taxa de informalidade, ou seja, a proporção de pessoas empregadas sem direitos trabalhistas caiu para 38,8%, menor nível desde 2016, o início da série.

—A queda da taxa de informalidade não necessariamente acontece porque os trabalhadores estão se formalizando. Todos estão perdendo seus empregos, todos estão saindo da ocupação, mas os informais saem em uma intensidade maior — destaca Adriana Berenguy, analista do IBGE.

O IBGE inclui nesse grupo de 34,6 milhões de pessoas os empregados do setor privado sem carteira, domésticos sem carteira, trabalhadores por conta própria sem CNPJ, empregadores sem CNPJ e trabalhadores familiares auxiliares.

Para ajudar os informais durante acrise, o governo lançou o auxílio emergencial de R$ 600, com duração prevista de três meses, mas parlamentares e equipe econômica já discutem algum tipo de prorrogação, mesmo que com outro formato ou valor. Segundo os economistas, os trabalhadores sem direitos seguirão como os mais afetados nos próximos meses.

—A situação ficou pior para os informais porque este setor concentra comércio e serviços, atividades que precisam que as pessoas saiam de casa. Por enquanto, eles têm o auxílio, mas quando o pagamento acabar e eles estiverem sem qualquer compensação, vão voltara procurar algum ti pode emprego. Mas não há garantia de que consigam, tanto na formalidade quanto na informalidade — afirma Daniel Duque, pesquisador de Economia Aplicada do Ibre/FGV.

Para os economistas, a perda mais intensa de vagas dos sem carteira está atrelada à fragilidade das relações de trabal honeste ti pode emprego.

— É mais simples e menos oneroso dispensar um trabalhador informal ou suspender aprestação de serviços de um conta própria, já que não há vínculos formais — destaca Marcos Hecksher, economista e pesquisador do Ipea.

— Na crise, além dos informais sofrerem a maior queda, têm o maior impacto. Eles não contam com proteções sociais como seguro-desemprego, INSS ou FGTS. Ena reabertura da economia podem seguir sendo penalizados, caso a população siga com receio de sair de casa, prejudicando as atividades de grande parte dos informais.

Como tradicionalmente os trabalhadores sem carteira recebem salários menores, com o maior volume de demissões neste segmento, o rendimento médio real dos trabalhadores ocupados subiu 2%, para R$ 2.425 em abril, o maior nível da série. Isso ocorre porque quem ficou emprega dotem remuneração um pouco mais elevada. Em compensação, com menos gente trabalhando, amassa de rendimentos—aso ma das remunerações de todos que estão empregados — teve a maior queda já registrada em abril, um recuo de 3,3% na comparação com o trimestre encerrado em janeiro.

DESALENTO ATINGE 5 MILHÕES

Apesar do aumento da taxa, analistas ponderam que a medida provisória 936, que permitiu a redução de jornada e salário ou suspensão temporária de contrato, impediu um aumento ainda maior do desemprego. Mais de 8 milhões de trabalhadores aderiram.

—AMP 936 ajudou. Uma parcela dos empregadores optou por suspender temporariamente contratos ou reduzir jornada e salário —destaca Vitor Vidal, economista sênior da XP Investimentos.

A população desalentada (que não procura vaga por acreditar que não vai encontrar ou que não tem as qualificações necessárias) foi recorde da série, totalizando cinco milhões de brasileiros. Houve crescimento de 7% em relação ao trimestre anterior.

A quedano emprego foi generalizada. Entre janeiro e abril, houve recuo de 5,6% na indústria, de 6,8% no comércio e um tombo de 13,1% na construção civil.

Para Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco, o setor de serviços ainda vai demoraras e recuperar:

—O processo de reabertura é gradual e ainda proíbe a operação de várias atividades.

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Auxílio emergencial deve ser prorrogado, diz Maia

Natália Portinari

Manoel Ventura

29/05/2020

 

 

Governo confirma que estuda extensão, mas em novo formato. Referência seria o pagamento médio do Bolsa Família, de R$ 200

 O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ontem que acha“muito difícil” que o auxílio emergencial para informais não seja prorrogado por mais três meses depois de junho. O valor de R$ 600 será discutido entre parlamentares e o Ministério da Economia.

O governo também reconhece que o auxílio precisará ser prolongado, mas, segundo o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues Júnior, o programa terá novo formato.

— Acho muito difícil que não seja prorrogado. Agente sabe o custo. Eu tenho medo de redução do custo do auxílio emergencial, o que isso impacta na reação das pessoas. Não é uma decisão simples. Prorrogara choque é um consenso. O que vai se debate ré o valor —disse Maia.

Em entrevista à GloboNews, o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, confirmou que há discussões sobre a extensão do auxílio, mas não necessariamente de R $600.

—Em três meses, a despesa será de R$ 150 bilhões, pouco mais de 2% do PIB. Se renovarmos nos moldes atuais, a conta vai ficar muito cara. Temos que focar nas pessoas mais pobres, nas que estão sem renda. Precisamos ver como vão evoluir os protocolos para a reabertura gradual.

Para Maia, a redução do valor do auxílio “pode ter consequências também na base da sociedade”. Em sua opinião, a diminuição seria “muito ruim” eé possível estudar soluções intermediárias, como uma redução gradual, em “escadinha”:

— O governo tem muitos programas. Talvez (possa usar) uma parte de Orçamento novo e uma parte de programas que estão mal alocados.

Ao falar com parlamentares da comissão de acompanhamento do coronavírus instalada no Congresso, Waldery reforçou o posicionamento do ministro da Economia, Paulo Guedes, ao dizer que a referência para a extensão deves ero pagamento do Bolsa Família, que é, em média, de R$ 200:

— Uma prorrogação, por exemplo, de R$ 200 vai implicar um custo, por mês, de aproximadamente R$ 17 bilhões. Portanto, nós estamos atentos e queremos dar prioridade às camadas mais vulneráveis da população.