Correio braziliense, n. 20845 , 18/06/2020. Política, p.9

 

Faria assume com acenos de conciliação

Simone Kafruni

Augusto Fernandes

18/06/2020

 

 

PODER » Ministro atuará, também, para refazer fios esgarçados pelo Executivo. Propôs “armistício patriótico”, falou da importância da imprensa e da expansão da rede de internet pelo 5G

A posse de Fábio Faria no Ministério das Comunicações serviu para mostrar o perfil conciliador do novo titular da pasta. Em uma cerimônia prestigiada, ressaltou a necessidade de pacificar o país –– no mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro voltou a fazer insinuações contra o Supremo Tribunal Federal (STF), devido ao cerco a um grupo de apoiadores. O ministro fez acenos à imprensa, à China (que detém a tecnologia da internet 5G) e propôs distensionamento na relação do Executivo com Legislativo e, sobretudo, Judiciário.

“O grave momento exige de nós postura de compreensão, de abertura ao diálogo. É tempo de levantarmos a guarda contra o novo coronavírus. Também é tempo de um armistício patriótico e deixarmos a arena eleitoral para 2022. É preciso, sobretudo, respeito. Que deixemos as diferenças político-ideológicas de lado para enfrentarmos o inimigo invisível comum que, lamentavelmente, tirou a vida de muita gente e tem gerado danos incalculáveis à economia”, exortou Faria.

Escolha pessoal de Bolsonaro, o novo ministro está no quarto mandato consecutivo como deputado federal e deve ser um interlocutor do governo com os demais Poderes, cujos representantes se fizeram presentes na cerimônia de posse. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chamado de “amigo” por Faria, foi à solenidade –– o do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) justificou sua ausência por um imprevisto no caminho para o Palácio. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, e o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de Noronha, representaram o Judiciário. Além de integrantes do primeiro escalão do governo, parlamentares e políticos, participaram representantes das empresas de comunicação.

Faria destacou que será prioridade em sua gestão fazer o processo de inclusão digital andar a passos largos. “Ainda há uma grande parcela da população sem acesso à internet, milhões de crianças que não conseguem assistir às aulas on-line e adultos que não têm como trabalhar remotamente”, observou. O ministro sinalizou que isso só será possível com a implementação da infraestrutura para a tecnologia 5G, dominada pela Huawei, da China –– país que recebeu comentários desrespeitosos do ministro da Educação, Abrahan Weintraub.

A imprensa continua entre as prioridades do governo, segundo Faria. “O dinamismo dos canais de TV fechada, a força e abrangência da TV aberta, para levar informação e entretenimento a todo o território nacional, são verticais importantes de política pública. Assim como o rádio, veículo poderoso, aliado nas grandes cidades e amigo próximo das comunidades mais isoladas, e os jornais, que tanto ajudam a aprofundar as reflexões da sociedade, somados à internet, formam símbolo e palco da liberdade de expressão”, disse.

Frase

“(São importantes) o rádio, veículo poderoso, aliado nas grandes cidades e amigo próximo das comunidades mais isoladas, e os jornais, que tanto ajudam a aprofundar as reflexões da sociedade, somados à internet, formam símbolo e palco da liberdade de expressão”

Fábio Faria, ministro das Comunicações

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Esperança de dias mais calmos

Simone Kafruni

18/06/2020

 

 

O respaldo que a presença de representantes de todos os Poderes e das principais empresas de comunicação do país conferiu à solenidade de posse do ministro das Comunicações criou a expectativa de que Fábio Faria será um dos principais interlocutores do governo, sem deixar de levar adiante os principais projetos técnicos da pasta. Além do tom pacificador, seu discurso também foi direto ao ponto nas questões mais urgentes das telecomunicações do país.

Faria disse que o processo de inclusão digital é prioridade e que isso passa pela implementação da tecnologia 5G. Para o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (SindiTelebrasil), Marcos Ferrari, o ministro empolgou as operadoras. “Trazer à pauta toda a problemática da infraestrutura sinalizou que deseja limpar os gargalos para avançar o mais rápido possível”, avaliou Ferrari.

Também no evento, Fábio Augusto Andrade, vice-presidente de Relações Institucionais da Claro, destacou a presença dos presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. “A ida deles sinaliza um entendimento. Para o nosso setor, é importante ter um ministro considerado forte, porque há muitos desafios pela frente”, avaliou.

A expectativa do executivo é de que, com uma pasta exclusiva, o ministro esteja cacifado para promover as mudanças que o setor precisa. “Tenho esperança que o leilão do 5G seja menos arrecadatório e mais focado na disseminação da capilaridade. E também que não seja um leilão ideologizado, como tenho visto em algumas pastas do governo”, comentou, lembrando das resistências à China, que deve disputar com a Huawei.

Na esfera política, o ministro é considerado uma ponte entre Congresso e Planalto, e também representa o fortalecimento do Centrão no governo. Faria foi eleito deputado federal pelo PSD, partido presidido por Gilberto Kassab, ex-ministro das Comunicações. Porém, o senador Otto Alencar (PSD-BA) negou que o ministro faça parte da cota do partido no governo. “A indicação foi pessoal do presidente da República. O Fábio tem pré-requisitos, espero que faça um bom trabalho. Ele tem condições, experiência, é um político habilidoso, com bom trânsito na Câmara e no Senado. Isso pode ser um fator de harmonização das relações políticas entre os Poderes”, observou.