Correio braziliense, n. 20843 , 16/06/2020. Brasil, p.6

 

Brasil aumenta o uso da hidroxicloroquina

Maria Eduarda Cardim

16/06/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Enquanto nos EUA a agência reguladora de medicamentos suspende a autorização de uso da cloroquina e da sua principal substância derivada contra a covid-19, Ministério da Saúde aprofunda a aplicação, agora para gestantes e crianças. Mortos no país são 43.959

No mesmo dia em que os Estados Unidos suspenderam a autorização emergencial de uso da cloroquina e da sua principal substância derivada no tratamento contra o novo coronavírus, o Ministério da Saúde ampliou a orientação de uso da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes da covid-19 e passou a sugerir o uso terapêutico precoce da substância para gestantes e crianças. Mesmo sem evidências científicas, a pasta autoriza o uso da medicação no tratamento da doença desde 20 de maio. Enquanto isso, os casos de mortes e infecções no Brasil pelo coronavírus continua em marcha de subida: são 888.271 casos registrados e 43.959 vidas perdidas, segundo o balanço oficial do governo.

De acordo com a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, o medicamento é o “único cujo evidências clínicas dos nossos segmentos mostram bons resultados”. “Coincidentemente, o Ministério da Saúde divulga atualização da sua nota de orientação no mesmo dia que o FDA (Food and Drug Administration, em inglês) revoga a permissão de emergência para o tratamento com a hidroxicloroquina. Nós gostaríamos de ressaltar que seguimos tranquilos, serenos, seguros quanto a nossa orientação”, disse ao anunciar a mudança.

Conforme ressaltou a secretária, a orientação da agência reguladora dos EUA era referente a tratamento de casos graves, diferente da orientação do Brasil. Mayra ainda desqualificou a decisão da FDA ao afirmar que os trabalhos citados como referência pela agência são de “péssima qualidade metodológica”. “As referências não podem ser utilizadas como exemplo nem para o Brasil nem para o mundo”, afirmou.

Sem citar nenhum estudo, a secretária afirmou que o ministério observou uma queda na curva de infecção da covid-19 desde 20 de maio, dia em que a primeira orientação do uso do medicamento no tratamento precoce foi publicada. “Nossa curva de infecção começou a diminuir no dia 20, quando, coincidentemente, publicamos a nota informativa. Desde então, temos uma diminuição dos casos. Não podemos afirmar com segurança que isso se deve ao uso dessas medicações, mas há indícios de que, em muitos locais onde essa medicação foi adotada em protocolos, há uma redução de internamento em UTI”, garantiu.

Questionados sobre a queda na curva de infecção do Brasil, outros representantes da Saúde afirmaram que a queda citada por Mayra tinha sido comentada e pode ter relação com a passagem do pico da epidemia nas regiões Norte e Nordeste. Apesar de o número de casos e óbitos registrados diariamente apresentar queda desde a última sexta-feira, o Brasil ainda confirma muitos casos e mortes. Ontem, a pasta reportou mais 627 mortes e 20.647 casos da covid-19.

Balanço

O país, segundo o levantamento da Universidade Johns Hopkins, só fica atrás dos Estados Unidos, que tem 116.029 mortes e 2.107.632 casos. De acordo com os dados do ministério, nove estados ultrapassaram a marca de mil óbitos. São Paulo, epicentro da doença, encabeça essa lista com 10.767 óbitos.

Segundo o governo do Estado de São Paulo, o aumento de mortes por covid-19 desacelerou nos primeiros 15 dias do mês de junho em relação a última quinzena de maio. Entre 14 de maio e 1º de junho, a aceleração do crescimento de vítimas fatais foi de 77,68%, e entre 1º e 14 de junho foi de 39,48%.

Além de São Paulo, Rio de Janeiro (7.728), Ceará (4.999), Pará (4.201), Pernambuco (3.886), Amazonas (2.512), Maranhão (1.499), Bahia (1.145), Espírito Santo (1.086) somam 37.823 mortes –– 86% de todas as vidas perdidas.

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Governo tira R$ 12 milhões da diálise

Renata Rios

14/07/2020

 

 

Um corte de pelo menos R$ 12 milhões dos recursos  para as clínicas conveniadas que realizam hemodiálise em pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) pode comprometer o tratamento de milhares de pessoas. Apesar da redução da verba disponibilizada, as unidades sofrem com aumento da demanda e dos custos com materiais e medicamentos –– atualmente cerca de 3 mil pessoas aguardam para ser atendidas.

Na Portaria 1.124, de 7 de maio de 2020, o cálculo do repasse passou a ser feito baseado na média de 2019. A determinação prevê a suspensão da obrigatoriedade da manutenção das metas quantitativas e qualitativas previstas em contrato. Mas, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante, Marcos Alexandre Vieira, a demanda pelas clínicas aumentou, em plena pandemia da covid-19. “As clínicas aumentaram sua atividade, por receberam mais pacientes ou manterem a mesma quantidade que tinham antes, mas com um repasse menor”, lamenta.

Marcos Alexandre salienta que as clínicas já sofriam com baixos repasses e sem reajuste há anos. “A tabela é subfinanciada. Se pegar a inflação, esses valores não foram reajustados”, destaca. A estimativa feita por ele é de que, ao contrário dos R$ 194,20 recebidos por sessão, o valor adequado seria de R$ 258.

O Ministério da Saúde recomenda que as doenças de alta gravidade não devem parar o tratamento. “A fila de espera era de cerca de 3 mil pessoas antes da pandemia. Não temos nem noção de quantas pessoas podem não chegar a um tratamento adequado, e morrendo por conta disso”, resigna-se Marcos Alexandre.

Ele salienta que os pacientes que precisam de hemodiálise são do grupo de risco da covid-19. “O coronavírus causa, em alguns pacientes, insuficiência renal”, alerta.