Correio braziliense, n. 20842 , 15/06/2020. Cidades, p.15

 

Restaurantes negociam liberação

Darcianne Diogo

Juliana Andrade

15/06/2020

 

 

Reabertura de estabelecimentos do setor alimentício será tema de live hoje, com a participação de representantes dos segmentos e do governador Ibaneis Rocha. Ontem, o Governo do Distrito Federal decretou a reabertura de feiras livres e populares

O Governo do Distrito Federal (GDF) segue com a liberação gradual das atividades econômicas da cidade. Ontem, o governador Ibaneis Rocha (MDB) ampliou a autorização de funcionamento das feiras permanentes e permitiu as reaberttura das livres e das populares, a partir de quarta-feira, das 9h às 17h. Além das feiras, a reabertura de bares e restaurantes começa a ser discutida. Hoje, o chefe do Buriti deve participar de uma live com representantes do setor.

A decisão que autoriza o funcionamento das feiras foi publicada, ontem, em uma edição extra do Diário Oficial do DF (DODF). Com a mudança, locais como a Feira dos Importados entram na lista dos liberados para funcionar. Os respectivos estabelecimentos poderão abrir das 9h às 17h. A abertura das praças de alimentação e o consumo de alimentos nos espaços permanecem proibidos.

Enquanto isso, representantes dos bares e restaurantes pressionam o governo para também terem o direito de retomar as atividades e receberem clientes nos estabelecimentos. A Federação do Comércio de Bens e Serviços (Fecomércio-DF), o Sindicato Patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar) e a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) se reunirão com o chefe do Executivo local para apresentar um novo protocolo de reabertura.

O Correio teve acesso ao documento, de 26 páginas, em que as entidades citam a quantidade de demissões. De acordo com o presidente do Sindhobar, Jael Antonio, mais de 10 mil pessoas foram mandadas embora e cerca de 1 mil estabelecimentos estão fechados desde o começo da pandemia. “Nenhuma empresa manteve o quadro de funcionários como era antes. Tememos que esse número de demissões chegue a 30 mil no próximo mês”, destacou.

No protocolo, as entidades comparam os números de casos confirmados pela covid-19 no DF com o de outras unidades da Federação, além das taxas de ocupação dos leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs). “Estamos mostrando que estamos com condições de reabrir. Nós, do setor, temos ficado apenas observando o que está ocorrendo, porque a cidade inteira está praticamente funcionando”, questionou Jael.

Prevenção

O protocolo engloba uma série de normas a serem submetidas ao GDF. Uma delas é a diminuição na capacidade do público dentro dos estabelecimentos, bem como a separação mínima de um metro e meio entre as mesas. Nas filas para a entrada ou para o pagamento da conta, a distância obrigatória entre as pessoas deverá ser de um metro. O cardápio deverá seguir um novo modelo. “Sugerimos um menu digital, por QR Code. As medidas de segurança e de higienização serão rigorosas. Não abriremos de qualquer forma”, ressaltou o presidente do Sindhobar.

Na avaliação dos setores, os restaurantes que funcionam a quilo serão um desafio maior. Entre as normas estipuladas estão a disponibilização de luvas descartáveis e a cobertura com protetores salivares nos alimentos do bufê. Aos funcionários, a regra é clara: usar o uniforme somente no local de trabalho. Está proibido o compartilhamento de equipamentos de proteção individual (EPIs) entre os colaboradores.

Os empregadores deverão ficar responsáveis, ainda, pela orientação aos clientes. De acordo com o protocolo, os funcionários devem alertar as pessoas sobre as medidas de prevenção. “Oriente os consumidores a fazer o pagamento preferencialmente com cartões ou por meio do celular, evitando a manipulação de notas e moedas”, diz o texto. Nos banheiros e lavatórios, a regra é colocar cartazes informativos com instruções sobre a lavagem correta das mãos e uso do álcool em gel.

Segundo o presidente da Fecomércio-DF, Francisco Maia, é importante que o governo estipule uma data para a reabertura desses segmentos. “Brasília recebe muito turista para negócios e, por isso, os restaurantes são um padrão de qualidade na capital. Muitos adotaram o esquema delivery, mas isso representa apenas 30% do custo da empresa. Temos empregadores que não vão conseguir reerguer a empresa, pois estão com dívidas com os fornecedores e não têm linha de crédito com os bancos”, frisou.

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Pandemia muda rotina nos shoppings

Thais Umbelino

15/06/2020

 

 

Aos poucos, os shoppings da capital retomam o movimento, porém, agora de uma forma diferente: com a adoção de medidas de segurança. Para garantir a presença dos clientes, os lojistas reforçam condutas de controle de entrada e saída das lojas, além do uso do álcool em gel e desinfecção dos produtos expostos. Ainda, a fiscalização do uso adequado da máscara e a proibição de provadores ou testes dos utensílios do estabelecimento. Os testes de covid-19 nos funcionários também são fundamentais. Mas apesar de tantos cuidados, ainda se observa despreparo nessa nova relação de consumo como, por exemplo, entrada de clientes comendo (e sem máscaras), irritação por não conseguir testar algum produto ou até mesmo recusa para utilizar o álcool em gel.

Em inspeção na última semana, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPFT) também flagrou descumprimento das medidas pelos consumidores durante passeios e compras em centros comerciais. A força-tarefa do MPDFT identificou nas lojas de shoppings a utilização errada de máscara, verificou que o distanciamento social também não estava sendo cumprido em nenhum dos locais e foram observadas aglomerações.

Para o vendedor de uma loja de maquiagem Rafael Oliveira, 24 anos, os descumprimentos das regras trazem insegurança para a classe. “Estamos com medo, porque vemos que as pessoas não estão respeitando as normas. Os clientes passam comendo, sem máscara, tomando sorvete. Nesse caso é muito perigoso, tanto para quem está aqui trabalhando, quanto para eles mesmos”, relata. Na entrada, ele controla o uso obrigatório do álcool em gel, além de limitar a quantidade de pessoas por atendimento. “São permitidas três pessoas por vez”, conta Rafael. Para o vendedor, apesar de necessária, a retomada das atividades deve ser analisada com cautela. “É perigoso quando a pessoa não segue as medidas corretas”, visualiza.

“É difícil essa compreensão. Os consumidores voltaram como se estivesse tudo igual a antes, como se nada estivesse acontecendo. O receio é de as pessoas não respeitarem e a gente ter que fechar de novo as lojas”, reforça a lojista de cosméticos Joyce Mendes, 23. Na loja em que trabalha, a funcionária ainda percebe maus hábitos para prevenção da covid-19, inclusive no desrespeito do limite de pessoas dentro do estabelecimento. “Quando todos os funcionários da loja estão ocupados, com cliente, e chega outra pessoa, temos que parar e limitar a entrada. Às vezes acontece de os consumidores reclamarem e desistirem de entrar na loja”, lamenta. “Outras querem experimentar os produtos e também desanimam da compra com a negativa”, acrescenta Joyce.

Tomar todos os cuidados e obedecer as regras foi uma das maneiras que Rodrigo da Silva, 32, encontrou para ir mais tranquilo ao shopping trocar a película do celular dele. “Ao entrar na loja, passei álcool em gel, além de estar com a máscara, de uso obrigatório”, conta. Ao sair do estabelecimento, ele decidiu passar para comprar um sorvete, mas sem consumir no local. “Vou levar para casa e evitar qualquer contaminação”, explica. A redução no número de pessoas foi outro fator que acalmou Rodrigo. “Está bem melhor do que antes, as pessoas estão respeitando o distanciamento social e vindo em números reduzidos”, observou.

A infectologista Ana Helena Germoglio destaca que, durante a pandemia, a ida aos shoppings deve ser evitada. “Maior risco vai ter quem mais se expuser. Quanto mais cheio um local, mais desprotegido se fica”, aponta. Quem precisar ir a shoppings deve alterar hábitos antigos. “Não é recomendado comer no local ou retirar as máscaras. Além disso, o distanciamento social é a medida mais efetiva para evitar a proliferação do vírus. A especialista ainda orienta: “Nesse momento, é necessário tratar cada indivíduo com uma pessoa que seja um potencial infectado, e adotar todas as medidas de combate ao vírus”, diz.

Contramão

O retorno das atividades comerciais trouxe para a dona da loja Raffas, no Gilberto Salomão, Raffaela Prudente, novos desafios, mas com a ajuda do público, foi possível manter a segurança sanitária. “Tomamos uma série de ações para dar mais confiança aos nossos clientes. Desde o início tive o apoio deles nessa volta. Os consumidores estão tomando essa preocupação de não tocar em nada”, aponta. Mesmo assim, Raffaela mantém uma limpeza constante dos acessórios. “Estamos sempre desinfetando os espaço e os produtos, para garantir uma higienização segura”, conta. “Aos poucos as pessoas estão ganhando confiança em ir ao local”, acrescenta.

Para a conselheira superior do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista) e da Associação Comercial do DF (ACDF), Janine Brito, é necessário estar atento às recomendações de saúde durante a pandemia. “Com a reabertura das demais lojas, temos tentado reforçar essas medidas para que os lojistas e clientes não sejam prejudicados. É importante que os shoppings sigam os protocolos para oferecer segurança aos clientes”, aponta. A apoio dos consumidores nesse processo também é primordial. “É necessário que os clientes estejam atentos às regras e que aprendam a lidar com o momento. Não sabemos quanto tempo essa pandemia vai durar, então é muito importante que todos estejam conscientes”, completa.

» Movimentação Brasília Shopping

» Segundo levantamento do Brasília Shopping, no dia da reabertura dos centros comerciais, em 27 de maio, passaram pelo local cerca de 3 mil pessoas. Uma semana depois o fluxo estava em torno de 4,5 mil pessoas por dia, cerca de 20% do movimento antes da pandemia. Desde 7 de junho  — devido à proximidade do Dia dos Namorados — foi notado um novo aumento no fluxo, cerca de 6 mil pessoas por dia, algo em torno de 31% do movimento diário quando comparado ao fluxo pré-pandemia.

ParkShopping

» O estabelecimento mantém movimento de cerca de 50% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o diretor regional da Multiplan e responsável pelo ParkShopping Brasília, Marcelo Martins. Desde a reabertura, foi possível constatar que os clientes estão permanecendo menos tempo no centro de compras e indo apenas para resolver problemas pontuais e urgentes.

 » Medidas

» Uso constante da máscara

» Higienização das mãos com álcool em gel

» Distanciamento, nada de aglomerações

» Evitar tocar em produtos dos estabelecimentos

» Não experimentar itens de vestuários