Correio braziliense, n. 20842 , 15/06/2020. Negócios, p.7

 

Mansueto pede demissão

Vera Batista

15/06/2020

 

 

Secretário do Tesouro Nacional deve deixar governo nas próximas semanas e já discute com o ministro da Economia, Paulo Guedes, um nome para sucedê-lo. Há preocupação quanto ao rigor no ajuste fiscal, bandeira conhecida do especialista em contas públicas

Secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida deixará o governo nos próximos dias. Ele deve trocar a equipe econômica do presidente Jair Bolsonaro por um banco da iniciativa privada, após cumprir a quarentena obrigatória de quem passa pelo serviço público. Ele teria pedido demissão há três semanas e avisou ao ministro da Economia, Paulo Guedes, da sua decisão. Em entrevista à Agência Estado, ele confirmou que deve sair em agosto.  O secretário chegou ao cargo em 2018, a convite do então ministro Henrique Meirelles. É a primeira perda importante na equipe de Guedes.

Mansueto já está discutindo com o ministro da Economia e com o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, um nome para sucedê-lo no cargo, cuja missão é controlar o caixa do governo. No ano passado, ele já havia declarado que não gostaria de ficar muito tempo no serviço público, mas foi convencido por Paulo Guedes a ficar. À época, ele chegou a dizer que perdia o sono com os resultados negativos da economia brasileira. Mas o que causou mais mal-estar na sua passagem pelo Ministério da Economia, segundo informações de funcionários da pasta, foram as constantes divergências com o secretário da Fazenda, Waldery Rodrigues.

Guedes, pessoalmente, nunca quis perder Mansueto para o mercado. Mas, de acordo com as fontes, seus planos para o secretário foram atrapalhados pela crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. O ministro da Economia pretendia nomear Mansueto como secretário-executivo do Conselho Fiscal da República, órgão previsto na PEC do Pacto Federativo. A crise sanitária, porém, tirou a PEC da pauta do Congresso, sem previsão de votação até o momento.

Segundo plano

Segundo fontes, Mansueto manifestou compreensão em relação à prioridade que será dada às medidas de retomada da economia, colocando a criação do Conselho Fiscal da República em segundo plano no momento. Por isso, demonstrou o desejo de sair no fim do primeiro semestre deste ano para cumprir a quarentena exigida para ocupantes de cargos estratégicos (como é o comando do Tesouro Nacional) até que possa ir para a iniciativa privada.

O atual secretário do Tesouro sempre foi considerado “guardião” dos cofres do governo e fiador do processo de ajuste das contas públicas. Rumores de sua saída sempre geraram preocupação no mercado financeiro sobre a continuidade dessa agenda.

Segundo um integrante da equipe econômica, porém, a saída de Mansueto não deixará o governo como um “time liquidado quando o craque vai sair”. A avaliação dessa fonte é que o próprio secretário do Tesouro não tomaria essa decisão se houvesse a avaliação de que isso provocaria maior turbulência.