Correio braziliense, n. 20842 , 15/06/2020. Brasil, p.5

 

País passa de 43 mil mortos por covid

15/06/2020

 

 

Brasil registra 612 vidas perdidas em 24 horas e total vai a 43.332. Segundo dados do Ministério da Saúde, há 867.624 infectados, um acréscimo de 17.110 novos casos. São Paulo chega a 10,6 mil óbitos e ao menor índice de isolamento desde 20 de março

O Ministério da Saúde informou, ontem, que foram registradas 612 mortes e 17.110 novos casos de covid-19 nas últimas 24 horas no país. No total, o Brasil soma 43.332 óbitos e 867.624 infectados. A taxa de letalidade é de 5%, com 21 óbitos por 100 mil habitantes. O país é o segundo em casos e mortes por covid-19 no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

O estado de São Paulo segue liderando em número de casos (178.202) e mortes (10.694) decorrentes da doença; seguido pelo Rio de Janeiro (79.572 casos e 7.672 óbitos) e Ceará (76.748 e 4.861).  De acordo com a última atualização do Ministério da Saúde, também  ultrapassaram a marca de mil óbitos cada: Pará (4.191), Pernambuco (3.855), Amazonas (2.492), Maranhão (1.467), Bahia (1.105) e Espírito Santo (1.054). Juntos, os nove estados somam 37.955 mortes, ou seja, 86,2% de todos os óbitos.

Ontem, a região Sudeste passou a marca de 300 mil casos da doença. Desta forma, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo (26.441) e Minas Gerais (21.381) possuem um total de 305.596 pessoas infectadas.

Com quase 70% dos leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) ocupados, o estado de São Paulo está em processo de reabertura comercial. A taxa de ocupação nas UTIs da Grande São Paulo está em 76,2%, segundo informou, por nota, a Secretaria Estadual da Saúde. “O número de pacientes internados é de 13.982, sendo 8.272 em enfermaria e 5.710 em unidades de terapia intensiva”, disse a nota.

Plano de reabertura

Hoje começam a valer novas classificações de segurança dos municípios paulistas no chamado Plano São Paulo, o programa de reabertura comercial do estado conduzido pela gestão João Doria. As regiões de Barretos, Presidente Prudente e Ribeirão Preto, terão restrição total do comércio não essencial. Já as cidades da Grande São Paulo, da Baixada Santista e do Vale do Ribeira, que estavam em restrição máxima, poderão abrir lojas e shoppings, em um esquema que prevê restrição de horários e lotação dos estabelecimentos.

A doença, entretanto, continua avançando pelo estado, segundo o governo. Dos 645 municípios do território paulista, houve, pelo menos, uma pessoa infectada em 579 cidades, sendo 307 com um ou mais óbitos.

Os dados sobre isolamento social divulgados ontem no estado paulista, referentes ao sábado, apontam para o fim de semana com o menor índice desde 20 de março, quando a quarentena para tentar combater o coronavírus teve início. O índice foi de 48% no estado e de 49% na capital. São dados que, até a semana passada, só ocorriam em dias úteis. No sábado passado, a capital teve taxa de 51%. No anterior, dia 30, 52%.

A meta estipulada pelos órgãos de saúde, que o estado nunca alcançou, era uma taxa de isolamento de 70%.

A taxa de ocupação de leitos de (UTI) por pacientes com covid-19 na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) no município do Rio de Janeiro é, neste momento, de 85%. Nos leitos de enfermaria para pacientes com suspeita do novo coronavírus, a taxa de ocupação é menor e estava, ontem, em 41%, informou a Secretaria Municipal de Saúde.

Em toda a rede do SUS na cidade do Rio, havia 1.463 pacientes internados com suspeita da doença, sendo 618 em UTI. A rede inclui unidades municipais, estaduais e federais. Nas unidades da rede municipal, há 606 pacientes internados, dos quais 225 estão em UTIs. Segundo a secretaria, desde o início da pandemia, foram abertos 1.252 leitos exclusivos para o tratamento da doença, sendo 248 de UTI. A secretaria ressaltou que a taxa de ocupação varia conforme o número de altas e óbitos.

Dos casos confirmados de coronavírus no país, 435.800 estão em acompanhamento e 3.981 mil óbitos, em investigação. Também de acordo com a pasta, 388.492 estão recuperados.

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Orientar e proteger quem precisa

Bruna Lima

15/06/2020

 

 

O farmacêutico é o profissional de saúde mais acessível à população. Diante de uma pandemia causada por um vírus respiratório altamente contagioso e cujas formas de combate ainda são imprecisas, o papel de quem orienta o paciente é essencial. Da pesquisa ao atendimento no balcão, mais de 220 mil trabalhadores da área continuam atuando durante a quarentena, ainda que, para isso, tenham que colocar em risco a própria segurança.

É o caso de Elisângela Lemos, de 36 anos, farmacêutica que, por amor e vocação à profissão, entrou no programa do governo federal “O Brasil Conta Comigo”, ação voltada à capacitação e ao cadastramento de profissionais da área de saúde no enfrentamento à pandemia. “Tem que ter vocação, respeito acima de tudo e empatia pelo próximo, porque, neste momento, todas as áreas da saúde são de extrema importância e precisam ser valorizadas igualmente por estarem ligadas diretamente à vida, o bem mais valioso”, afirma. Atuando com a dispensação (entrega adequada) de medicamentos para mulheres infectadas pelo coronavírus, ela foi lotada na Maternidade Ana Braga em Manaus, capital com um dos maiores índices de mortalidade do Brasil.

Para Elisângela, a vontade de cuidar de quem precisa supera o medo de contrair a doença, sentimento de quem quer retribuir a ajuda que recebeu no início da carreira. “Eu tinha que acordar às 4h e ir para uma fazenda próxima de Santarém [no Pará], para buscar leite para vender e poder pagar o curso de Farmácia. Como eu tinha uma filha e não tinha com quem deixá-la, eu a levava comigo. Na faculdade, como ela não podia participar das aulas práticas, a tia da cantina ficava com ela para mim. Eu tive muito apoio de pessoas que eu não conhecia”, conta a profissional.

Quem também abdicou do próprio conforto para continuar na linha de frente é a gerente farmacêutica Talita Araújo, de 27 anos, que não visita mais os avós desde o início do período de isolamento social. Ela diz que precisou mudar a rotina para proteger os familiares. “Antes [da pandemia], buscava meu bebê de 11 meses com a minha mãe e ia para casa [após o trabalho]. Agora, preciso dar uma volta a mais, passando em casa antes para tomar um banho, fazendo toda a higienização e evitando, mesmo assim, contato físico. A maior preocupação nem é pela gente, mas pelos nossos”, explica Talita, que trabalha em uma drogaria de Águas Claras, cidade com uma das maiores taxas de transmissão da covid-19 no DF.

Além dos cuidados com os familiares, Talita é responsável por toda uma equipe e lida diretamente com o público. “Quando a recomendação é não ir aos hospitais sem necessidade, as pessoas recorrem às farmácias, até mesmo para se orientar. E temos a responsabilidade de prestar esse serviço à população. Já tivemos clientes positivos para o coronavírus e, por mais que haja a preocupação, porque tudo é muito novo, temos tomado todas as precauções possíveis para garantir a saúde de todos”. De acordo com o último levantamento do Ministério da Saúde, 3.444 farmacêuticos estavam entre os casos suspeitos e confirmados de covid-19 no país.

Sem prescrição

Além de equipamentos de proteção individual (EPIs) e coletiva, o isolamento dos balcões e testagem dos funcionários foram outras medidas adotadas ainda no início da pandemia do novo coronavírus. “Muitas vezes, o nosso time de loja lida diariamente com mais pacientes do que algumas unidades de Saúde, com estabelecimentos que recebem cerca de mil pessoas por dia no atendimento. Então, precisamos pensar desde o início em como avançar na colaboração e proteger, ao mesmo tempo”, reitera o diretor de Operações do Grupo Pacheco, Felipe Zogbi.

Para ele, a atenção à segurança em um momento de pandemia ultrapassa a questão da higienização e entra no âmbito da prescrição. “Informações de remédios milagrosos ou que estão sendo usados no tratamento do coronavírus precisam ser observados pelos farmacêuticos. Tivemos uma enxurrada de clientes procurando, sem prescrição, por medicamentos que são de uso contínuo para certas pessoas. Então, a postura é preservar o atendimento de quem necessita e observar as atualizações do Ministério da Saúde”, pontua.

Em meio a esse cenário, conselhos de farmácia de todos o país realizaram a campanha “não entre em pânico e antes de usar qualquer medicamento, consulte o farmacêutico”. O motivo do alerta foi o resultado de um estudo realizado a pedido dos conselhos, pela consultoria IQVIA, que constatou um aumento significativo nas vendas de medicamentos que foram relacionados, de alguma forma, à covid-19. A vitamina C, cujo “efeito preventivo” contra o vírus foi disseminado em fake news, foi a campeã em comercialização nos primeiros meses de pandemia.

Com o objetivo de controlar esse cenário, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) emitiu uma nota técnica em que manifesta formalmente a possibilidade de o farmacêutico negar a dispensação de um medicamento, mesmo com prescrição médica. Esse direito já faz parte da competência natural desses profissionais, que são peça integrante do processo decisório de tratamento e cuja a forma de condução implica diretamente na saúde e na segurança das pessoas.

Presidente do CFF, Walter da Silva Jorge João ressalta, ainda, a importância da área para além do atendimento em balcão, citando a atuação em pesquisas e produção de novos medicamentos e testes laboratoriais, na vigilância em saúde, no atendimento direto aos pacientes em farmácias públicas e privadas, em laboratórios, instituições de longa permanência de idosos, hospitais, unidades de terapia intensiva (UTIs). “É preciso reconhecer a força de trabalho dos farmacêuticos na ótica de um comando nacional que integre, de fato, as farmácias e os profissionais nessa emergência de saúde pública.”

Motivo de alerta

Pesquisa indicou um aumento significativo nas vendas de medicamentos que tiveram seus nomes associados, de alguma forma, ao combate à covid-19. Vale destacar que nenhum remédio tem eficácia comprovada no combate ao novo coronavírus

Medicamento/Princípio ativo    JAN A MAR/2019             JAN A MAR/2020             %

HIDROXICLOROQUINA SULFATO             231.546                388.829                67,93%

IBUPROFENO    15.010.195          14.615.066          -2,63%

PARACETAMOL                11.150.452          19.774.819          77,35%

DIPIRONA SÓDICA          30.226.256          46.716.599          54,56%

COLECALCIFEROL (VITAMINA D)              4.440.289            6.019.038            35,56%

ÁCIDO ASCÓRBICO (VITAMINA C)          9.327.016            26.116.340          180,01%

Fonte: Consultoria IQVIA