Correio braziliense, n. 20836 , 09/06/2020. Mundo, p.13

 

Nova Zelândia zera a covid

09/06/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Primeira-ministra Jacinda Ardern conta ter dançado de alegria ao ser informada sobre a cura do último paciente infectado. A partir de hoje, o país revoga as restrições de isolamento, exceto o controle de fronteira  

O governo da primeira-ministra Jacinda Ardern foi enérgico no combate ao novo coronavírus. Antes  que a Nova Zelândia registrasse o primeiro óbito decorrente da covid-19, a premiê adotou severas medidas de isolamento social, com um lockdown de sete semanas, e providenciou testagem em massa da população. Ontem, 75 dias após declarar o nível mais alto de alerta, Ardern anunciou a erradicação do Sars-CoV-2 no país e o fim de todas as restrições, exceto os controles de fronteira, a partir de hoje.

Com uma população de 5 milhões de habitantes, a Nova Zelândia registrou 1.154 casos confirmados e 22 mortes. O país não registra novos diagnósticos há 17 dias. Desde a semana passada, tinha apenas um caso ativo. O último paciente, sem sintomas no fim de semana, foi considerado curado ontem.

Bastante elogiada pela forma que gerenciou a situação, Jacinda Ardern colocou a Nova Zelândia no seleto grupo de países a erradicar o vírus com sucesso, sendo o primeiro entre os que sofreram um surto relevante. “Nós nos unimos de maneiras sem precedentes para esmagar o vírus”, destacou a premiê,   durante entrevista coletiva em Wellington, ao lado do diretor-geral do Ministério da Saúde, Ashley Bloomfield.

Economia

Entusiasmada, ela contou que dançou ao saber que o país havia zerado os casos  da doença. Ardern começa a fazer planos. “Nosso objetivo era sair do outro lado o mais rápido e seguro possível. Agora temos uma vantagem em nossa recuperação econômica”, assinalou.

A partir de hoje, o país entra no nível 1 de alerta. Isso significa que não haverá limitações em negócios, viagens domésticas, reuniões públicas ou eventos esportivos. As pessoas só serão solicitadas a registrar onde estiveram para ajudar no rastreamento da doença, em caso de uma nova onda do vírus.

A medida, destacou a primeira-ministra, torna a Nova Zelândia “se não a mais aberta, uma das economias mais abertas do mundo”. Ardern pediu às pessoas que trabalhavam em casa que retornassem aos seus escritórios e locais de serviço para ajudar a ocupar as cidades novamente.

O país, que tem no rugby o alicerce esportivo, também será o primeiro do mundo a receber multidões de volta aos jogos profissionais. O Super Rugby, campeonato da modalidade, será retomado no próximo fim de semana, divulgaram os organizadores.

Para alavancar, de fato, a retomada da normalidade, faltará reabrir a fronteira. O fechamento afeta muito o setor de turismo, que era a maior fonte de receita cambial do país ante do coronavírus. Por enquanto, apenas residentes em retorno — e alguns trabalhadores estrangeiros com habilidades especializadas às quais foi concedida uma isenção — são atualmente permitidos no país, e todos devem atender a uma quarentena de 14 dias.

Ardern se mantém cautelosa. “Devemos permanecer atentos à situação global e à dura realidade de que o vírus estará em nosso mundo por algum tempo”, disse, acrescentando: “Estamos confiantes de que eliminamos a transmissão do vírus na Nova Zelândia por enquanto, mas a eliminação não é um ponto no tempo, é um esforço sustentado”.

Ainda assim, analistas apostam que o fim das regras de distanciamento social dará um “impulso significativo” à economia. “A confiança tem um enorme impacto nos gastos dos consumidores e nas atividades de investimento. E existem evidências de que os gastos das famílias superam nossas expectativas”, disse Stephen Toplis, chefe de pesquisa do Bank of New Zealand, em Wellington.

Alerta

Também ontem, Nova York e Moscou começam a relaxar suas quarentenas após a redução das taxas diárias de infectados e mortos pela covid-19 nas últimas semanas. Seguem o caminho de países europeus, que flexibilizam as restrições cada vez mais. A Organização Mundial da Saúde (OMS), no entanto, advertiu que a pandemia está piorando no mundo, embora melhore na Europa.

“Em nove dos últimos 10 dias, mais de 100 mil casos foram relatados. Ontem, mais de 136 mil casos foram contabilizados, o máximo em um único dia”, assinalou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da agência das Nações Unidas. Segundo ele, quase 75% dos casos registrados no domingo estavam concentrados em 10 países, a maioria da América e do sul da Ásia.

Ghebreyesus insistiu que nos países em que a situação parece estar melhor, a “maior ameaça é a autocomplacência”. E alertou que a maioria das pessoas continua sendo suscetível a se infectar. “Estamos há mais de seis meses nessa pandemia, não é o momento para nenhum país colocar o pé no acelerador”, opinou.