O Estado de São Paulo, n.46215, 29/04/2020. Metrópole, p.A10

 

Brasil tem recorde de mortes e supera a China; 'E daí?', indaga Bolsonaro

Mateus Vargas

Patrik Camporez

Julia Lindner

André Borges

João Ker

29/04/2020

 

 

País está em 3º lugar entre países que mais registraram mortes em 24 horas, atrás apenas de EUA e Reino Unido; ministro Teich, da Saúde, admite agravamento da crise. Em SP, que também teve recorde de óbitos, 81% dos leitos de UTI na região metropolitana estão ocupados

O Brasil chegou ontem ao recorde de 474 registros por dia de covid-19. Com isso, o total oficial de vítimas da covid-19 chegou a 5.017, superando os números da China, marco zero da doença, que teve 4.633. Estado com maior número de casos, e também com recorde de registros, São Paulo relatou 224 óbitos, um aumento de 12% em relação ao número divulgado segunda.

O ministro da Saúde, Nelson Teich, admitiu ontem o agravamento da crise. Mas silenciou sobre a campanha permanente de Jair Bolsonaro para acabar com medidas de isolamento social – ontem o presidente repetiu a apoiadores, na frente do Palácio da Alvorada, que deseja o fim das quarentenas. Durante uma entrevista no local, uma jornalista disse ao presidente: “A gente ultrapassou o número de mortos da China por covid19...” Foi quando Bolsonaro respondeu: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”, disse, em referência a seu segundo nome.

“Há alguns dias eu coloquei que (o número de mortos e contaminações) poderia ser um acúmulo de casos de dias anteriores que foi simplesmente resgatado, mas como temos manutenção desses números elevados e crescentes, temos de abordar isso como um problema, como uma curva que vem crescendo, como um agravamento da situação”, disse Teich. Ele foi cobrado ontem por governadores do Norte sobre atrasos para entrega de produtos contra a covid-19 e disse que o momento “é difícil”.

Com a atualização de ontem, o Brasil bateu novamente seu recorde de número de mortes por covid-19 registrados em um único dia, e alcançou o terceiro lugar entre os países que mais registraram mortes pela covid19, atrás apenas dos Estados

Unidos e do Reino Unido. Na segunda-feira, o Brasil estava em 6.º entre os países com mais mortes registradas em 24 horas, mas já superou Itália, França e Espanha no balanço mais recente. Os países da Europa apresentam queda no número de mortes, enquanto autoridades de saúde observam aceleração da transmissão no quadro brasileiro. Os dados estão reunidos no site da organização Worldometers, que reúne dados internacionais. O número oficial de confirmados do coronavírus no Brasil subiu de 66.501 para 71.886, sendo 5.385 novos.

Cenário paulista. Somente São Paulo já relata 2.049 mortes. “Como não temos uma fila de testes, isso significa que esses novos casos foram confirmados e são desses dias, por agora”, afirmou o secretário estadual da Saúde, José Henrique Germann. Chefe do Centro de Contingência da Covid-19 no Estado, o infectologista Davi Uip afirmou que “o balanço de óbitos nas últimas 24 horas é o mais importante até agora”. Questionado se o aumento das mortes teria relação com uma queda no isolamento social, Uip disse que “não tem a menor dúvida disso”. “Se você tem uma taxa de isolamento social de 50% a mais, há impacto positivo na curva de infectados, de doentes e de óbitos.”

A taxa de isolamento social oscilou e apresentou queda nos últimos dias, ficando em 48% novamente nesta segunda-feira. “Cidades que estão mantendo o índice entre 60% e 70% (meta do governo) serão cidades com mais oportunidades de flexibilização do que aquelas que não estão tendo o mesmo desempenho”, declarou o governador João Doria (PSDB). O Estado tem 24.041 casos confirmados da doença, com 2.300 novos, um aumento de 11% em 24 horas. Das 645 cidades paulistas, 305 tiveram pelo menos um caso da doença.

Pelo balanço oficial, 81% dos leitos de UTI na Grande São Paulo estão ocupados. No Estado, o índice é de 61,6%. De acordo com Germann, 1.437 pessoas estão internadas em UTI. Em enfermaria, há 1.800 pacientes internados. A taxa de ocupação nesses leitos é de 44,5% no Estado e 70% na região metropolitana. “Estamos chegando em um limite perigoso”, afirmou Geraldo Reple Sobrinho, presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems/SP).

O presidente

“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre.”

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE, FAZENDO UMA REFERÊNCIA AO PRÓPRIO NOME