Valor econômico, v.21, n.5014, 03/06/2020. Brasil, p. A2

 

ONU vê 'impacto devastador' de covid-19 sobre minorias étnicas

Assis Moreira 

03/06/2020

 

 

A Organização das Nações Unidas (ONU) aponta um impacto devastador da covid-19 sobre minorias étnicas, principalmente em países como o Brasil, França, Reino Unido e Estados Unidos. Exemplifica que em São Paulo a população negra tem 62% mais risco de morrer da pandemia que pessoas brancas.

Em comunicado divulgado ontem, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, diz que crescentes disparidades em como a covid-19 afeta comunidades e o impacto desproporcional que ocorre sobre minorias étnicas ou raciais, incluindo pessoas de ascendência africana, "expuseram desigualdades alarmantes em nossas sociedades". Bachelet lembra que desigualdades similares estão alimentando os protestos generalizados que tomam centenas de cidades nos EUA.

Ela destacou que os dados mostram um "impacto devastador" do covid-19 sobre pessoas de ascendência africana, assim como sobre minorias étnicas, em alguns países, incluindo o Brasil, França, Reino Unido e EUA. Além do exemplo de São Paulo, ela mencionou a região de Seine Saint-Denis, perto de Paris, onde o excesso de mortes é bem maior. Segundo ela, em vários outros locais a situação é parecida, mas a ONU é incapaz de dizer isso com segurança simplesmente porque dados por raça e etnia não estão sendo coletados ou reportados.

O comunicado de Bachelet destaca a situação nos EUA, onde a taxa de mortalidade pela pandemia entre a população negra é mais de duas vezes maior do que de outros grupos raciais. Da mesma forma, na Inglaterra e no País de Gales, a taxa de mortalidade entre negros e pessoas do Paquistão e de Bangladesh é quase o dobro daquela de pessoas brancas, mesmo quando classe e alguns fatores de saúde são levados em conta.

O enorme impacto do covid-19 sobre minorias raciais e étnicas é muito discutido, mas o que é menos claro é quanto isso precisa ser tratado, diz Bachelet. Ela conclamou os países a priorizar monitoramento da saúde e testes nessas comunidades. Para o Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, essas disparidades podem resultar em múltiplos fatores relacionados à marginalização, discriminação e acesso à saúde. Desigualdades econômicas, riscos ambientais e outras questões também precisam ser tratadas. Para Bachelet, o vírus está expondo desigualdades endêmicas que tem sido ignoradas por muito tempo.

Nos EUA, os protestos provocados pelo assassinato de George Floyd ilustram não apenas a violência policial contra pessoas de etnia negra, mas também desigualdades nas áreas de saúde, educação, emprego, além da endêmica discriminação racial, segundo Bachelet. A luta contra a pandemia não pode ser ganha se governos recusam o reconhecimento de flagrantes desigualdades que o vírus está escancarando, afirmou ela.