O Estado de São Paulo, n.46212, 26/04/2020. Política, p.A6

 

Bolsonaro afirma que apoiou ex-ministro na 'Vaza Jato'

Luiz Vassallo

26/04/2020

 

 

Em mensagens trocadas via Twitter, Moro reage a publicação do presidente e diz que preservar a PF não é questão ‘pessoal’

O presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro voltaram a trocar ataques ontem, um dia após a demissão do ex-juiz do governo.

Pela manhã, Bolsonaro afirmou, no Twitter, que apoiou Moro durante a “Vaza Jato”, como ficou conhecida a divulgação de conversas atribuídas ao então juiz da Lava Jato e a procuradores da força-tarefa da investigação. “A Vaza Jato começou em junho de 2019. Foram vazamentos sistemáticos de conversas de Sérgio Moro com membros do MPF. Buscavam anular processos e acabar com a reputação do ex-juiz. Em julho, PT e PDT pediram prisão dele. Em setembro, cobravam o STF. Bolsonaro, no desfile, fez isso”, diz o texto, acompanhado de uma foto dos dois juntos no desfile de Sete de Setembro.

Em seguida, Moro afirmou, também por meio de seu perfil na rede social, que apoiou Bolsonaro quando o presidente teve o nome citado por um porteiro no caso envolvendo a morte da vereadora Marielle Franco. Na ocasião, o então ministro da Justiça pediu que a Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal instaurassem inquérito para investigar o depoimento do porteiro.

“Sobre reclamação na rede social do Sr. Presidente quanto à suposta ingratidão: também apoiei o PR (presidente) quando ele foi injustamente atacado. Mas preservar a Polícia Federal de interferência política é uma questão institucional, de Estado de Direito, e não de relacionamento pessoal”, afirmou Moro.

Mais cedo, o ex-ministro compartilhou uma campanha do Ministério da Justiça. “Faça a coisa certa, pelos motivos certos e do jeito certo” foi o lema de campanha de integridade que fizemos logo no início no MJSP”, escreveu.

Ao anunciar sua demissão, anteontem, Moro também citou a campanha da pasta. “Esse sempre foi o mote do ministério, faça a coisa certa, não importam as circunstâncias, arque com as  consequências. Isso faz parte” declarou na ocasião.

Bolsonaro e Moro já haviam trocado acusações quando o ex-juiz deixou o cargo. O ex-ministro acusou o presidente de tentar interferir politicamente no comando da Polícia Federal para obter acesso a informações sigilosas e relatórios de inteligência. “O presidente me quer fora do cargo”, disse.

Em um pronunciamento horas depois, Bolsonaro rebateu o ex-auxiliar. Afirmou que Moro mentiu e negociou a troca no comando da PF por uma cadeira no Supremo Tribunal Federal. Disse, ainda, que o então ministro da Justiça tinha outros interesses no governo e agiu como um traidor.

Ingratidão

“Preservar a PF de interferência política é uma questão institucional, de Estado de Direito, e não de relacionamento pessoal.”

Sérgio Moro

EX-MINISTRO DA JUSTIÇA