O globo, n. 31676, 28/04/2020. Economia, p. 21

 

Lava-Jato denuncia dois doleiros e ex-gerente do BB

Cleide Carvalho

28/04/2020

 

 

Funcionário do Banco do Brasil facilitou a movimentação financeira de empresas de fachada utilizadas em crimes de lavagem

 A força tarefa da Lava-Jato no Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba denunciou ontem os doleiros Raul Henrique Srour e Carlos Arturo Mallorquin Junior, além do ex-gerente do Banco do Brasil José Aparecido Augusto Eiras, pelos crimes de organização criminosa, corrupção, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta de instituição financeira. O exgerente do banco teria aceitado abrir contas bancárias para empresas de fachada que movimentaram mais de R$ 9 milhões em lavagem de dinheiro entre 2011 e 2014. O objetivo era assegurar que as atividades realizadas em tais contas não fossem notificadas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ) —e assim evitar possíveis investigações sobre os crimes.

Eiras foi cooptado pelos doleiros e fez parte do esquema também usando uma empresa aberta em nome de seus familiares, a CRG Serviços de Assessoria de Crédito de Cobrança, para servir como garantidora de operações de uma das empresas de Srour, a Districash. O esquema permitiu que a empresa do doleiro usasse envelopes de uso exclusivo do banco, amarelos. Lacrados, eles movimentavam dinheiro sem que o numerário fosse conferido, o que viola as regras de prevenção e combate à lavagem de dinheiro. Esses envelopes, ainda lacrados, eram repassados no mesmo dia a outras empresas ligadas a diferentes grupos informais.

O ex-gerente teria recebido pelo menos R$ 551,3 mil dos doleiros. A procuradora Laura Tessler afirmou que os bancos precisam aprimorar os mecanismos de controle interno contra corrupção e lavagem de dinheiro para evitar que o sistema bancário formal seja utilizado para a prática de crimes por organizações.

O procurador da República Roberson Pozzobon também destacou a gravidade do caso e ressaltou a necessidade de impedir que agentes públicos sejam cooptados por organizações criminosas que atuam na lavagem de dinheiro, pois, sem o auxílio de servidores, as dificuldades enfrentadas por esses grupos seria muito maior.