O globo, n. 31676, 28/04/2020. Economia, p. 17

 

Apoio ao posto ipiranga

Daniel Gullino

Marcello Corrêa

Geralda Doca

28/04/2020

 

 

‘O homem que decide economia no Brasil é um só, chama-se Paulo Guedes’, diz Bolsonaro 

 

LUCIO TAVORA/AGÊNCIA XINHUAAjuste. O presidente Jair Bolsonaro manifestou apoio à política de controle das contas públicas, defendida por Paulo Guedes. O ministro da Economia disse que o país voltará a crescer no próximo ano

Depois de dia sem que o mercado voltou suas atenções para o futuro do ministro da Economia, Paulo Guedes, no governo, o presidente Jair Bolsonaro resolveu manifestar apoio público a seu “posto Ipiranga ”. Na porta do Palácio da Alvorada, Bolsonaro afirmou que Guedes é a única pessoa no Brasil que decide sobre política econômica. A declaração foi dada após o lançamento, sem a presença de integrantes da equipe do ministro, do programa Pró-Brasil, um plano de aceleração do crescimento que previa ampliação de gastos públicos — na contramão da cartilha de reformas fiscais defendidas pela pasta.

—Acabei mais uma reunião tratando de economia. O homem que decide economia no Brasil é um só, chama-se Paulo Guedes. Ele nos dá o norte, nos dá recomendações e o que nós realmente devemos seguir — disse Bolsonaro, ao sair do Alvorada.

A decisão de fazer o ato de desagravo partiu do presidente. Segundo interlocutores de Guedes, Bolso na rose preocupou coma repercussão de reportagens dos últimos dias futuro do ministro. O plano foi“cortar pela raiz” qualquer dúvida. As declarações após o encontro — que durou uma hora e reuniu os ministros Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Tereza Cristina (Agricultura), Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União) e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto —foram dadas por volta das 9h, antes do início das operações na Bolsa.

De acordo com fontes, Bolso na rote ri adi toa“PG ”— emprese refere a om in istro—que é ele quem“está com o caixa”. Ou seja, assegurou que as medidas pensadas respeitarão o Orçamento.

Acrise ganhou força semana passada, quando ministros apresentaram no Palácio do Planalto o programa Pró-Brasil.Na equipe econômica, o esboço do Pró-Brasil foi comparado ao receituário adotado pela ex-presidente Dilma Rousseff, por prever o incentivo ao crescimento por meio de investimentos públicos. A estratégia é apontada como uma das raízes para o desequilíbrio fiscal no país nos últimos anos.

DEFESA DAS REFORMAS

Nos bastidores, Guedes atribui a autoria do plano a Rogério Marinho, ministro do Desenvolvimento Regional e ex integrante de seu time — foi secretário especial de Previdência e Trabalho. Segundo interlocutores do ministro, Marinho teria interesse em apoiar obras públicas de olho nas eleições para governador. A disposição para ampliar despesas públicas também é associada à ala militar do governo.

Para que o Pró-Brasil deslanchasse nos moldes apresentados, seria necessária uma proposta de emenda constitucional (PEC) para romper o teto de gastos, a regra fiscal que limita o aumento das despesas à inflação do ano anterior.

No dia após a apresentação do plano, que representaria flexibilização da política fiscal, investidores estrangeiros retiraram da Bolsa R$ 1,1 bilhão. Em abril, o saldo está negativo em R$ 2,3 bilhões. Após as declarações de ontem, Bolsonaro comentou que a Bolsa havia subido e perguntou a jornalistas como estava o dólar.

O apoio de Bolsonaro, no entanto, empoderou Guedes para defendera própria política. A ola dodo presidente, o ministro reforçou que o país precisa retomar as reformas e negou medidas que levem ao desequilíbrio fiscal, como flexibilização do teto de gastos. Ele acrescentou que as exceções para gastos emergenciais para combater a pandemia não exigem a flexibilização da regra.

— Se faltasse dinheiro para saúde, para romper o teto, nós até poderíamos romper, mas não é o caso (...) Então, nós estamos no caminho certo. Para que falarem derrubar o teto,se é o teto que nos protege contra a tempestade? —afirmou.

GUEDES: VAMOS SURPREENDER

Para o ministro, a retomada do crescimento precisará passar pela atração de investimentos privados:

—Queremos reafirmara todos que acreditam na política econômica que elas e gu e,éa mesma política econômica. Vamos prosseguir com as reformas estruturantes. Vamos trazer bilhões em investimentos em saneamento, infraestrutura, reforço para a safra.

O discurso sobre responsabilidade fiscal foi reforçado por Bolsonaro. No momento em que se aproxima dos partidos do chamado centrão, o presidente disse que o Congresso tem preocupação com o nível dos gastos públicos:

— Temos um Parlamento bastante sensível e simpático às causas voltadas para a economia. Há uma preocupação muito grande nossa com total responsabilidade com os gastos públicos.

Segundo Guedes, a economia do Brasil deve voltara crescer no próximo ano, coma previsão de um acurva e mV, o que significa um aqueda acentuada,até o ponto mais baixo, e rápida retomada da atividade:

— No ano que vem já vamos estar certamente crescendo com investimentos em saneamento, petróleo e gás, infraestrutura, logística. Seguimos firmes com nosso compromisso. A economia vai pegar em V. Vamos surpreender o mundo de novo.

O presidente negou participação de militares na formulação de políticas econômicas:

— Desconheço entre os militares que estão comigo um profundo conhecedor de economia, assim como o Paulo Guedes não conhece da vida militar.