CAROLINA ANTUNES/PR/11-7-2019Desconfiança. Ramagem assume a Polícia Federal sob contestação pela proximidade com a família Bolsonaro

As nomeações do delegado Alexandre Ramagem para a direção-geral da Polícia Federal (PF) do titular da Advocacia-Geral da União (AGU), André Luiz Mendonça,para a pasta da Justiça — publicadas ontem no Diário Oficial — provocaram repercussões distintas. A indicação de Ramagem gerou reações no meio político, com pedidos de revogação na Justiça, e na própria instituição. Já a nomeação de Mendonça teve melhor acolhida, especialmente no meio jurídico. Na semana passada, Sergio Moro pediu demissão do ministério da Justiça após a exoneração de Maurício Valeixo do comando da PF e acusou o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir na corporação.

Ramagem é amigo do vereador Carlos Bolsonaro e foi responsável pela segurança do presidente nas eleições de 2018. A escolha foi questionada justamente por sua ligação com a família Bolsonaro. Integrantes da oposição buscaram a Justiça para tentar anular a nomeação. O deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) acionou a Justiça Federal do Distrito Federal,enquanto o PDT foi ao STF. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, prevê dificuldades para o novo diretor:

— Acho que ele vai ter dificuldades na corporação, da forma como ficou polêmica a sua nomeação. A PF é uma corporação unida. Trabalha de forma muito independente. Qualquer tipo de interferência é sempre rechaçada.

A Associação dos Delegados da Polícia Federal(ADPF) afirmou que Ramagem tem “qualificação técnica” para o cargo, mas pediu que Bolsonaro se manifeste “quanto ao compromisso de que o novo Diretor-Geral terá total autonomia para formar sua equipe e conduzir a instituição de forma técnica e republicana”.

Bolsonaro afirmou ontem que, com o novo comando, a PF reabrirá a investigação do atentado que sofreu em 2018.

— Vai ser reaberta a investigação. Vai fazer a investigação. Foi negligenciado. A conclusão foi o “lobo solitário”. Como é que pode o “lobo solitário” com três advogados, com quatro celulares, inclusive andando pelo Brasil —afirmou.

Já a indicação de Mendonça teve repercussão positiva. Neste caso, o presidente ouviu conselheiros que pediram que não escolhesse para o ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, muito ligado à família Bolsonaro. Mendonça agradeceu a indicação: “Meu compromisso é seguir o trabalho técnico que tem pautado minha vida”, afirmou.

O novo ministro da Justiça tem bom trânsito nos demais poderes. “O homem certo, no lugar certo, no momento cer- to” avaliou o ministro do STF, Ricardo Lewandowski, em nota. Luís Roberto Barroso seguiu a mesma linha: “Íntegro, elegante e preparado. Desejo a ele toda sorte na nova missão”.

Para a vaga de Mendonça na AGU foi nomeado o procurador da Fazenda nacional, José Levi Mello do Amaral Junior. Já Frank Márcio de Oliveira assumirá a chefia da Abin no lugar de Ramagem.