O globo, n. 31673, 25/04/2020. Política, p. 9

 

Entre a perda e a unidade

Vinicius Sassine

25/04/2020

 

 

Militares reagem com preocupação

Apesar da demonstração de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, com a presença de vários integrantes do primeiro escalão do governo no pronunciamento feito horas após a demissão de Sergio Moro, os generais que são ministros e despacham dentro do Palácio do Planalto revelaram a colegas de farda sentimentos de "perda" e de "forte preocupação". O temor em relação ao futuro do Executivo foi manifestado especialmente pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno. Heleno havia feito movimentos para que o ex-juiz da Lava-Jato não deixasse o governo, com a interpretação de que a gestão Bolsonaro correria riscos se isso acontecesse. Teve êxito uma vez, mas não duas.

Os ministros que também são generais — Heleno, do GSI; Braga Netto, da Casa Civil; e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo — ouviram de colegas de patente que estão no governo ou na ativa que a continuidade do apoio a Bolsonaro dependerá da permanência do trio no Palácio do Planalto. Esse recado explica a demonstração de apoio dos ministros ao presidente durante o pronunciamento de ontem. Ocupantes dos cargos na Esplanada dos Ministérios compareceram em peso ao pronunciamento de Bolsonaro, com o objetivo de demonstrar unidade. Chamou a atenção a presença do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, ao lado do presidente. Ele tem ascendência hierárquica sobre os comandantes das Forças Armadas. Sua função no governo excede a burocracia do cargo. Azevedo e Silva é, hoje, um dos principais conselheiros de Bolsonaro.