O globo, n. 31685, 07/05/2020. Economia, p. 24

 

Desmatamento por garimpo tem alta histórica

Leandro Prazeres

07/05/2020

 

 

Área destruída na Amazônia durante o primeiro ano do governo Bolsonaro é equivalente a 10 mil campos de futebol. Recorde pode ser consequência de discurso do presidente, incomodado com ações de contenção 

Editoria de ArteA área mais afetada em 2019 é a região oeste do Pará, na bacia do rio Tapajós e nas sub-bacias dos rios Crepori e Jamanxim. Fonte: Ibama

No primeiro ano do governo do presidente Jair Bolsonaro, a Amazônia registrou o maior volume de desmatamento causado por garimpo desde que o dado começou a ser computado, em 2015. Relatório elaborado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e obtido pelo GLOBO mostra que, em 2019, os garimpos na região foram responsáveis pela destruição de uma área de 10,5 mil hectares de florestas — o equivalente a mais de 10 mil campos de futebol. O dado revela um aumento de 23% em relação aos danos de 2018, quando foram desmatados 8,5 mil hectares.

O relatório do Ibama foi produzido em resposta a um pedido feito via Lei de Acesso à Informação (LAI). A equipe técnica do órgão utilizou dados do Sistema de

Detecção de Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real-B (Deter-B), cujo indicador referentes às consequências causadas pelo garimpo é um dos principais sobre o avanço da atividade na região.

Considerando que o monitoramento é feito com imagens registradas por satélite ao longo de todo o ano, é possível que o estrago tenha sido ainda maior. Isso porque a formação de nuvens de chuva sobre a floresta impede a captura de imagens de toda a região abrangida pelo satélite durante um período de pelo menos quatro meses. O documento diz, ainda, que a redução na detecção durante a época de chuvas não significa diminuição da atividade garimpeira porque, na avaliação dos técnicos do Ibama, o garimpo “é uma atividade que não apresenta entressafra”.

O levantamento feito pelo Ibama considerou sete estados da Amazônia Legal: Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Amapá e Maranhão. Ficaram de fora os estados do Tocantins e Acre, que tradicionalmente não são tão afetados pela atividade garimpeira.

Ainda de acordo com o relatório, a área mais afetada no ano passado foi a região oeste do Pará, na bacia do Rio Tapajós e nas sub-bacias dos rios Crepori e Jamanxim. Em março deste ano, agentes do Ibama, da Polícia Federal e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) realizaram operações para desmantelar garimpos ilegais na região. Ibama, Ministério do Meio Ambiente e a Presidência da República não se pronunciaram sobre os dados.

Na avaliação de ambientalistas e membros do Ministério Público Federal (MPF), o aumento no desmatamento causado por garimpeiros tem relação direta com as políticas e declarações adotadas pelo presidente Jair Bolsonaro.

—Há dois aspectos que explicam o aumento. O primeiro é o enfraquecimento da fiscalização ambiental, com diminuição no número de operações e de multas aplicadas. O segundo são as declarações do presidente amplamente favoráveis ao garimpo e que contrariam a fiscalização — afirma o coordenador da Câmara do MPF responsável por crimes ambientais, Daniel Azeredo.

O procurador também vê com preocupação a troca de comando no setor de operações de fiscalização do Ibama. No mês passado, foram exonerados de cargos de chefia três servidores com atuação nessa área após o órgão realizar uma série de operações em terras indígenas no Pará que resultaram na destruição de equipamentos utilizados nos garimpos.

AÇÃO MOBILIZOU BOLSONARO

Anteontem, ao mostrar o próprio celular durante coletiva no Palácio da Alvorada, Bolsonaro expôs mensagem recebida do então ministro da Justiça Sergio Moro sobre a atuação da Força Nacional no apoio ao Ibama durante as operações contra o garimpo.

“Coronel Aginaldo da FN também nega envolvimento da FN nas destruições. FN só acompanha Ibama nas operações para segurança dos agentes, mas não participa da destruição de máquinas (sic)”, escreveu Moro após um questionamento do presidente.

Mencionado no texto, Antônio Aginaldo de Oliveira é comandante da FN. A explicação dada por Moro é que a Força atua apenas para garantir a segurança dos agentes ambientais, cabendo a eles realizar a operação.