O globo, n. 31678, 30/04/2020. Especial Coronavírus, p. 6

 

Presidência: não há provas de que estados inflaram Covid-19

Leandro Prazeres

30/04/2020

 

 

O GLOBO pediu, via Lei de Acesso, evidências de acusação feita por Bolsonaro

 A Presidência da República informou, via Lei de Acesso à Informação (LAI), não ter encontrado documentos provando que governos estaduais inflaram estatísticas sobre o número de casos e mortes causados pela Covid-19 para uso político. O pedido foi feito pela reportagem do GLOBO após o presidente Jair Bolsonaro afirmar, em março, que governos estaduais poderiam estar usando dados da Covid-19 com fins políticos.

No dia 27 de março, Bolsonaro disse, sem apresentar provas, que estados como São Paulo, que haviam determinado ações de distanciamento social, inflavam dados.

— Tem estado que orientou via decreto que se não tiver causa concreta do óbito, coloque coronavírus, para inflar — disse Bolsonaro em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, e acusou:

— Vai ter que ter alguém que morreu esse ano disso daí. Se for todo mundo com coronavírus, é sinal de que tem estado que está fraudando a causa mortis daquelas pessoas, querendo fazer um uso político de números.

Na época, o Brasil tinha registrado 3.477 casos, 93 mortos pela Covid-19 e Bolsonaro criticava as medidas de isolamento social definidas pelos governos estaduais. Segundo o último balanço divulgado pelo Ministério da Saúde, o Brasil tinha ontem 78.162 casos da doença e 5.466 mortes.

Após as declarações de Bolsonaro, O GLOBO fez um pedido via LAI solicitando acesso a documentos produzidos ou armazenados pela Presidência da República entre os dias 1º de janeiro e 1º de abril que apontassem indícios de que governos estaduais estivessem registrando mortes por Covid-19 de forma irregular para uso político. A reportagem também solicitou que a Presidência informasse sobre a ausência de documentos que atestassem o que o presidente declarou.

“Informamos que não foram identificados os documentos solicitados nos registros do Gabinete Pessoal do Presidente da República”, diz a resposta enviada pela Secretaria Especial de Comunicação (Secom) via LAI.