O globo, n. 31678, 30/04/2020. Especial Coronavírus, p. 9
Segunda Onda
André de Souza
Leandro Prazeres
Renata Mariz
Victor Farias
30/04/2020
Teich diz que não se pode prever pico da doença
LEOPOLDO SILVA/AGÊNCIA SENATOSessão Remota. Teich conversou, por videoconferência. com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, sobre as providências adotadas para ajudar os estados
Em audiência virtual no Senado, o ministro da Saúde, Nelson Teich, afirmou que o Brasil poderá ter uma segunda onda de Covid-19. Ele reiterou que os dados disponíveis são ainda incipientes para uma melhor avaliação da doença. “Quando é que vai ser o pico? Não sei, e ninguém sabe”, disse Teich.
No dia em que o Brasil chegou a 78.162 infectados pela Covid-19, com 5.466 mortes, o ministro da Saúde, Nelson Teich, disse, em audiência virtual no Senado, não saber quando será o pico da epidemia no país e afirmou que a possibilidade de uma segunda onda da doença é “real”.
—Quando é que vai ser o pico? Não sei, ninguém sabe. Um dos grandes problemas de se definir uma data é que aquela sugestão se transforma em promessa de um dado real — afirmou o ministro, na primeira vez em que expôs seus planos para a crise ao Congresso.
—(A incerteza sobre os dados é) o que te deixa em alerta para a possibilidade de uma segunda onda. Ela é real. Outro dado importante é que já existem relatos de pessoas que tiveram a doença duas vezes. O que não garante nem que você ter o anticorpo seja correto.
O Brasil registrou ontem 449 óbitos. São Paulo é o estado com mais mortes (2.247) e casos (26.158), seguido de Rio de Janeiro (794 mortes) e Pernambuco (538). Do total de diagnosticados, 34.132 pessoas estão recuperadas.
Sobre as medidas de isolamento, o ministro enfatizou que nada muda enquanto não tiver uma definição clara de quando começar a queda da curva de casos e se disse incomodado com a “polarização política” em torno do tema:
— A minha grande preocupação é quando a gente discute o distanciamento, isolamento, afrouxamento, seja o nome que a gente quiser dar, como se fosse uma polarização política, e não pode ser assim. Quando digo que foco na pessoa, no bem-estar. Conforme o tempo vai evoluindo, você tem que tentar enxergar o que é melhor.
Ao responder questionamentos de senadores sobre declarações e atos do presidente Jair Bolsonaro minimizando a Covid-19, Teich disse que não comentaria o “comportamento”, mas afirmou que o chefe está preocupado com as pessoas e que foi esse o motivo pelo qual aceitou o convite para a pasta.
—Quando fui chamado, aceitei porque existe um foco total em ajudar a sociedade, as pessoas. Tenho certeza de que é a preocupação do presidente.
Durante a audiência no Senado, Teich também afirmou que não há recomendação de retorno das aulas.
— Estamos desenhando uma estratégia que vai ser feita e vai ter critérios, mas, neste momento, não existe qualquer recomendação de volta às escolas — afirmou o ministro.
Teich foi cobrado duramente pelos senadores para que desse explicações mais claras sobre orientações a respeito de distanciamento social e sobre os protocolos oficiais. Ele disse que o Ministério da Saúde vai divulgar uma diretriz para que cada estado possa usá-la, considerando as variáveis que serão colocadas, para “seguir se quiser”. E voltou a destacar que é a “decisão é dos estados e municípios”s.
Ele apontou como um dos pré-requisitos para flexibilizar o isolamento é ter a curva de casos de Covid-19 iniciando trajetória de queda:
—Agora é importante que você já tenha um planejamento prévio quando isso acontecer —disse.
CLOROQUINA
Teich afirmou que a cloroquina é uma “incerteza” no combate aos coronavírus. Ele disse que conversou com representantes do laboratório Novartis, que fabrica a cloroquina na China, e ouviu que a droga não seria um “divisor de águas em relação à doença”. O presidente Jair Bolsonaro já se manifestou defendendo o uso do medicamento mesmo em casos leves de coronavírus.
—Em relação à cloroquina, ainda é uma incerteza —afirmou Teich, que citou a conversa com executivos da farmacêutica.
— Conversando com ele, os dados preliminares que se tem na China é que teve uma mortalidade alta (após o uso do medicamento) e certamente o remédio não vai ser um divisor de águas em relação à doença.