Correio braziliense, n. 20825 , 29/05/2020. Cidades, p.18

 

Enfim, lágrimas de alegria

Juliana Andrade

29/05/2020

 

 

Mulher de 28 anos é a primeira paciente com o novo coronavírus a deixar a unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Universitário de Brasília (HUB). Rosilaine Bueno passou 10 dias respirando por ajuda de ventilação mecânica. “Eu achei que não fosse sair”, comemora

Em meio a lutas diárias contra a covid-19, ontem, a cena na porta do Hospital Universitário de Brasília (HUB) era de agradecimento. Com aplausos, balões, faixas e música, a corretora de imóveis Rosilaine Bueno, 28 anos, deixou a unidade hospitalar após vencer o novo coronavírus. Se as máscaras de proteção tapavam o sorriso, as lágrimas e o olhar não escondiam a alegria nos olhos das pessoas presentes. A mulher foi recebida por parentes, que saíram de Luziânia (GO), para o reencontro. O pai, emocionado, ajoelhou-se ao ver a filha ganhar alta.

Rosilaine foi a primeira paciente a sair da unidade de terapia intensiva (UTI) do HUB, após 13 dias internada na unidade. “Eu achei que não fosse sair. Tive três paradas cardíacas e voltei”, conta. Rosilane foi recebida na porta do hospital pelo pai, pela mãe e pela filha, entre outros parentes. Pessoas com as quais não mantinha contato desde o primeiro dia de internação. Para ela, o que a manteve firme foi a fé e o apoio dos profissionais da saúde. “A equipe médica é muito boa, eles supriram isso. Eu senti muita falta da minha família”, destacou.

A corretora de imóveis não tem comorbidades e afirma não saber onde contraiu o vírus. Ela foi diagnosticada com dengue e logo começou a sentir os sintomas da covid-19. Ao procurar o Hospital Regional do Gama, em 14 de maio, Rosilaine passou a ser um caso suspeito da doença, mas com a piora do quadro foi transferida, no dia seguinte, para o HUB, onde foi confirmada a infecção pelo novo coronavírus. No hospital universitário, a corretora chegou em estado grave e precisou ser entubada. Rosilane passou 10 dias respirando por ajuda de ventilador mecânico.

Durante o período de internação, a família era diariamente atualizada sobre o estado de saúde da filha por uma psicóloga do hospital. Emocionada, a mãe lembra os dias de angústia. “Foi um medo muito grande, medo de perda”, recorda a educadora Gerlane Bueno, 45. “Ficamos muito ansiosos, mas conversava com ela nas minha orações. Dia após dia, Deus nos fortaleceu”, completou a educadora. O pai também destaca os momentos de nervosismo que, ontem, abriram espaço para a alegria. “É um sentimento de alívio e vitória. Passamos por dias difíceis. É algo que eu não desejo para ninguém”, ressalta o empresário Gilson José Bueno, 54. A saída da filha do hospital ocorreu um dia antes do aniversário dele. “É o maior presente do mundo, ter a minha filha renascida”, comemorou.

No carro, a família, emocionada, deixou o hospital sob aplausos. Rosilaine vai continuar sendo acompanhada pelos médicos e está com consulta ambulatorial agendada. A mulher também foi orientada a ficar em casa nos próximos dias e seguir as medidas indicadas para a população, como o isolamento social e a higienização. “Agora vou me atualizar, ver como estão as coisas, me isolar e seguir a vida”, destacou.

Gratidão

A emoção contagiou parte do hospital, que parou para ver Rosilaine sair da internação. Também com os olhos cheio de lágrimas, a equipe médica foi fortemente aplaudida. Entre as homenagens, um cartaz da família estampava a gratidão deles pela equipe. A mãe de Rosilaine destacou a importância dos médicos, enfermeiros e técnicos, não só no tratamento da filha, como no combate à covid-19. “Quero agradecer a todos os profissionais da saúde pela dedicação e pelo esforço. Eles também estavam na nossas orações”, ressaltou.

A chefe do pronto-socorro Álida Santo fez questão de agradecer aos 110 integrantes da equipe que lutam diariamente contra a doença. Para ela, ver a primeira paciente a deixar a UTI proporciona um misto de emoções. “É um sentimento de alegria, de vitória, mas ainda tem muita coisa para fazer. Essa situação pode durar muito tempo”, diz. Sobre o carinho da família, ela destaca: “É o nosso conforto e o que nos ajuda a não desistir".

12

Número de leitos do HUB para pacientes com covid-19. Destes, 10 estão ocupados

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Mais de mil casos em 48h

Walder Galvão

29/05/2020

 

 

O Distrito Federal registrou mais de mil casos confirmados do novo coronavírus em 48 horas. Levantamento da Secretaria de Saúde mostra que, na terça-feira, eram 7.212 diagnósticos na capital. Ontem, o número de infectados saltou para 8,3 mil, totalizando 1.088 novos contaminados. Além disso, mais nove pessoas morreram devido à covid-19, e o total de óbitos chegou a 132.

Do total de diagnosticados, 72 estão com quadro clínico considerado grave; 227, moderado; 2.524, leve; e 841 em análise. Apesar da quantidade de infectados, a Secretaria da Saúde informa que apenas 3.664 casos estão ativos. Isso acontece porque 4.494 pacientes recuperaram-se da doença. Ao todo, são 4.435 homens e 3.865 mulheres contaminados.

Com 799 casos, o Plano Piloto continua como a região administrativa com mais registros, dois a menos do que Ceilândia, a cidade mais populosa do DF. Em terceiro lugar está Taguatinga, que soma 519 notificações. Samambaia tem 517 diagnósticos de coronavírus.

Ceilândia está em primeiro lugar no número de óbitos, 29. Samambaia, que contabiliza 20 mortes, está em segundo lugar. Com 10 vítimas, Recanto das Emas fica em terceiro colocado no ranking.

Óbitos

Apenas nesta semana, o Distrito Federal registrou 43 mortes provocadas pelo coronavírus, 32% do total de óbitos. Boletim da Secretaria de Saúde mostra que os registros ocorreram em cinco dias. Desde domingo, pelo menos oito pessoas perderam a vida para a covid-19, por dia. Além disso, a pasta contabiliza mais 10 vítimas, que eram moradoras do Entorno, mas faleceram em unidades de saúde da capital.

Dos óbitos registrados ontem, o Recanto das Emas foi a cidade com mais mortes (3). As demais vítimas moravam em Ceilândia (2), Brazlândia (1), Núcleo Bandeirante (1), Samambaia (1) e Sudoeste/Octogonal (1). Todas tinham alguma comorbidade — outras doenças que agravam os sintomas da covid-19. Ao todo, morreram cinco homens e quatro mulheres.

Leitos

A taxa de ocupação das vagas em unidades de terapia intensiva (UTIs) para pacientes com a covid-19 cresce diariamente na capital. Ontem, monitoramento da Secretaria de Saúde revelou que 42,24% dos leitos da rede pública estão ocupados. De acordo com o balanço, há 136 pacientes internados em UTIs. Ao todo, são 322 vagas e 186 estão livres no momento.

Na rede privada de saúde, os sistema encontra-se mais sobrecarregado; a taxa de ocupação é de 70,5%. No total, são 132 pacientes internados para 202 vagas. Há, apenas, 66 leitos disponíveis, porque quatro estão bloqueados, pois passam por reforma e/ou higienização.