Valor econômico, v.21, n.5015, 04/06/2020. Brasil, p. A9

 

"Home office" pode alcançar 20 milhões de trabalhadores no Brasil, estima Ipea

Bruno Villas Bôas 

04/06/2020

 

 

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado ontem mostra que o trabalho por "home office" poderá alcançar 22,7% das ocupações existentes no país, o que corresponde a mais de 20 milhões de pessoas.

Se confirmado, o cenário coloca o Brasil na 45ª posição num ranking de 86 países com trabalho remoto elaborado por pesquisadores da Universidade de Chicago e que teve metodologia replicada pelo Ipea. Na América Latina, ficaria em 2º lugar.

Os dados constam do estudo "Potencial de Teletrabalho na Pandemia: Um Retrato no Brasil e no Mundo", feito em parceria pelos pesquisadores Felipe Martins e Geraldo Góes, do Ipea, e José Antônio Sena, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O levantamento analisou 434 tipos de ocupações existentes no mercado de trabalho brasileiro e concluiu que 25% dessas atividades poderiam ser realizadas remotamente, o chamado teletrabalho. São essencialmente grupos de profissionais de ciências e intelectuais, diretores e gerentes, além de técnicos e profissionais de nível médio.

A análise mostra também que trabalhadores da agropecuária, da caça e da pesca e militares possuem os menores potenciais de realizar o trabalho remotamente, por motivos evidentes. "Se a ocupação envolve trabalho fora de um local fixo e operação de máquinas e veículos ela não passível de teletrabalho", diz Felipe Martins, do Ipea.

Regionalmente, porém, o potencial do "home office" varia conforme o perfil dos postos de trabalho existentes. O maior potencial está no Distrito Federal, onde 31,6% dos empregos podem ser executados de forma remota (cerca de 450 mil pessoas). Logo na sequência vêm os Estados de São Paulo (27,7% dos empregos, cerca de 6,1 milhões de pessoas) e Rio de Janeiro (26,7%, mais de 2 milhões).

O Piauí é o que apresenta o menor potencial de teletrabalho (15,6% das atividades, ou cerca de 192 mil pessoas).

Na comparação entre os países, Luxemburgo tem a maior proporção de teletrabalho entre os 86 países avaliados (53,4% dos empregos). No final do ranking aparece Moçambique (5,24%), segundo informou o Ipea. Dentre os nove países da América Latina que constam no estudo o Chile tem a maior participação de teletrabalho (25,74%).

Os pesquisadores consideraram prematuro, porém, avaliar se as modalidades de trabalho remoto que surgiram ou cresceram durante o período de isolamento social seguirão a mesma tendência no pós-pandemia.

"Como as relações trabalhistas no país são, sob vários recortes, muito heterogêneas é muito cedo ainda para se descortinar tendências mesmo que setoriais", acrescentou Geraldo Góes, pesquisador do Ipea.