Correio braziliense, n. 20823 , 27/05/2020. Brasil, p.7

 

Mais de 125 mil mortes até agosto

Bruna Lima

Maria Eduarda Cardim

27/05/2020

 

 

Com mais 1.039 óbitos em 24 horas, o Brasil se consolidou como a nação com o maior número diário de fatalidades do mundo. Com 24.512 vidas perdidas e 391 mil infecções, projeções internacionais preveem explosão de registros no país nas próximas semanas

O Brasil voltou a confirmar mais de mil mortes pelo novo coronavírus em 24 horas, liderando novamente o ranking de países com mais fatalidades diárias pela doença. Foram 1.039 óbitos de segunda para terça, 447 a mais que nos Estados Unidos. O número de novos casos da doença continua a crescer de forma exponencial e mais 16.324 brasileiros foram infectados pelo vírus, totalizando 391.222 casos confirmados no país. O Brasil já é o segundo colocado em todo o mundo em relação ao número acumulado de infecções — atrás apenas dos EUA, que vêm registrando, nos últimos dias, números inferiores na comparação com o início do mês. Enquanto os números começam a cair por lá, por aqui a expectativa é de alta.

Segundo a universidade Johns Hopkins, o Brasil está em sexto lugar no ranking de mortes, ficando atrás dos EUA, Reino Unido, Itália, França e Espanha, nesta ordem. Mas o cenário no país pode piorar bastante, com registro de 125.833 óbitos pela covid-19 até o início de agosto. Essa é a projeção atualizada da Universidade de Washington, que traz cenário mais pessimista do que o previsto pelo mesmo grupo há duas semanas. O modelo do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), da universidade, é o que tem embasado políticas de saúde da Casa Branca.

Em 12 de maio, quando o modelo estatístico passou a abranger o Brasil, a previsão era a de que o país registrasse 88 mil mortes até 4 de agosto. Mas a atualização da análise inclui previsões para 19 estados brasileiros, 11 a mais do que a projeção anterior. O intervalo possível traçado pelo IHME prevê mínimo de 68.311 mortes no país até o início de agosto e máximo de 221.078. O modelo aponta que entre 23 de junho e 20 de julho o Brasil deve registrar mais de 1,5 mil mortes diárias por covid, sendo o pico em 13 de julho, com 1.526 óbitos em um único dia.

Em agosto, o país estará na curva descendente, mas ainda com mais de 1,3 mil mortes diárias. Se as infecções levarem o Brasil a seguir a trajetória mais sombria traçada pela instituição, o pico aconteceria antes, em 16 de junho, com 3.059 mortes em um período de 24 horas. Confirmadas as projeções médias do IHME, o Brasil terá taxa de 63,85 mortes por 100 mil habitantes, menor apenas do que as que devem ser registradas até agosto na Itália (71,79), Espanha (78,74) e Reino Unido (66,03).

Diretrizes

Em coletiva de imprensa do Ministério da Saúde, o secretário substituto de Vigilância em Saúde, Eduardo Macário, afirmou que “a curva de casos no Brasil ainda é crescente comparada com outros países que já estão passando por uma situação de estabilidade e, até mesmo, de retorno a uma nova normalidade. A situação no Brasil ainda é de bastante risco e de bastante alerta para todos os serviços de saúde, para a população em geral.”

Somente São Paulo, que lidera os números da covid no país, soma 6.423 mortes e 86.017 casos, ultrapassando a China em total de infectados (leia mais ao lado). Rio de Janeiro aparece em seguida, com 4.361 óbitos. Superando a barreira dos mil também estão Ceará (2.603), Pará (2.469), Pernambuco (2.328) e Amazonas (1.852). Juntos, os seis estados somam 20.036 perdas, ou seja, 81,7% das mortes confirmadas. Todos os 26 estados do Brasil, mais o Distrito Federal, já registraram casos e mortes. 

Por ser um território de extensão continental, em meio ao crescimento exponencial de casos e mortes, Eduardo Macário explicou que o pico de casos deve variar de acordo com a região. Segundo o secretário, Norte e Nordeste estão em período sazonal de doenças respiratórias, enquanto, no Sul, por exemplo, os vírus respiratórios são previstos para o próximo mês.

Questionado pelo Correio sobre a divulgação das diretrizes que servirão para balizar os estados e municípios quanto ao isolamento social, Macário disse que a pasta pretende divulgar o documento o mais rápido possível. Desde a gestão do ex-ministro Nelson Teich, o relatório, que chegou a ser apresentado de forma geral, é prometido. No entanto, a pactuação entre o ministério e os conselhos de secretários estaduais e municipais ainda não foi feita. 

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Senado libera uso de leito privado pelo SUS

27/05/2020

 

 

O Senado aprovou por unanimidade, ontem, o projeto de lei que permite que o Sistema Único de Saúde (SUS) utilize leitos de UTI em hospitais privados no caso de pacientes com síndrome respiratória aguda grave ou com suspeita ou diagnóstico da covid-19. O texto segue para análise da Câmara dos Deputados.

De autoria do senador Rogério Carvalho (PT-SE), a proposta foi relatada pelo senador Humberto Costa (PT-PE). Em seu parecer, o parlamentar estabeleceu os critérios para que os leitos possam ser usados.

O governo deverá, inicialmente, abrir um chamamento público para contratação emergencial dos leitos. Os gestores terão que apresentar, no mínimo, quantidade, prazo de utilização dos equipamentos e valores de referência. Em última instância, ficará permitido o uso compulsório.

Ocupação

Nesses casos, os leitos privados de UTI deverão ser os que estavam destinados para pacientes com covid-19. Também só poderão ser usadas vagas em hospitais com taxa de ocupação inferior a 85%. Para controle, os hospitais, públicos e privados, deverão informar a quantidade de leitos e ventiladores pulmonares livres e ocupados.

O texto determina ainda que a administração pública pagará “justa indenização” pela utilização das vagas. O valor será determinado com base nos valores de ato do Ministério da Saúde ou será definido pelo colegiado da Comissão Intergestora Bipartite (CIB).

O conceito de leito inclui todos os equipamentos necessários para o tratamento da doença e também médicos e outros profissionais que fazem parte do corpo da clínica particular.

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De volta à linha de frente

Jailson R. Sena*

27/05/2020

 

 

Mais de mil respiradores que estavam encostados e sem uso foram consertados e devolvidos para instituições de saúde de todo o Brasil com o intuito de ajudar no combate ao novo coronavírus. A parceria envolveu o Ministério da Defesa, por meio da Secretaria de Produtos de Defesa (Seprod), a Confederação Nacional da Indústria (CNI), as pastas de Economia e Saúde, além da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).

A missão de recolher os 1.016 equipamentos com defeito teve início na última semana de março, quando eles foram levados para 39 pontos de manutenção, espalhados por todas as regiões do país. Mais de 3 mil respiradores já deram entrada nos locais de manutenção.

Na empreitada, além do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai/Cimatec), estão envolvidas sete fábricas do setor automotivo.

O primeiro colocado no ranking de aparelhos reparados é São Paulo, que recebeu, até segunda-feira, 382 respiradores, enviados para unidades hospitalares do estado. Em segundo lugar está a Bahia, com 130 equipamentos recuperados. Os aparelhos voltaram a ser utilizados em hospitais das regiões Norte e Nordeste. Em Minas Gerais, 125 máquinas foram entregues para instituições das regiões Sudeste e Centro-Oeste.

Segundo estimativa da LifesHub Analytics e da Associação Catarinense de Medicina (ACM), existiam ao menos 3,6 mil ventiladores pulmonares fora de uso no país, mas esse número pode ser maior, alerta a Confederação Nacional da Indústria. De acordo com a CNI, cada aparelho pode ajudar no tratamento de até 10 pessoas.

O Ministério da Defesa também lançou a ação Produtos ao Alcance de Todos. Trata-se de plataforma para cadastrar fabricantes e produtos que auxiliam instituições hospitalares no combate à covid-19.

* Estagiário sob supervisão de Andreia Castro.