O globo, n. 31680, 02/05/2020. Especial Coronavírus, p. 10

 

Manaus: mortes quase triplicam em relação a abril do ano passado

Rafael Oliveira

02/05/2020

 

 

Capital registrou 2.435 óbitos no último mês, ante 871 do mesmo período de 2019
Cidade que virou símbolo nacional do potencial colapso causado pelo novo coronavírus, Manaus terminou abril com números alarmantes. A capital amazonense registrou 2.435 mortes nos últimos 30 dias. O dado é da Secretaria municipal de Limpeza e Serviços Públicos (Semulsp). A média do mês foi de 81 enterros diários. Antes do início da pandemia, a cidade contabilizava em torno de 30 a cada 24 horas. Segundo a secretaria municipal, em abril de 2019 foram 871 sepultamentos. Portanto, os números de 2020 representam um aumento de 179,5% nos óbitos. A secretaria informou ainda que nos meses de janeiro, fevereiro e março as médias diárias foram de 29, 27 e 28 enterros por dia, respectivamente. Logo, o número total de abril é quase a soma dos três primeiros meses do ano: 2.585 . Em 2020, já são 5.018 registros de sepultamentos e cremações em Manaus.

 1,2 MIL MORTES EM DEZ DIAS

A maior parte das mortes está concentrada na segunda quinzena de abril. Desde o dia 19, quando 122 pessoas faleceram, a capital tem computado mais de cem mortes diárias. Nos últimos dez dias, foram 1.241, o que corresponde a 49% do registrado em todo o mês. Neste período, a média foi de 124 óbitos diários. Ou seja: quatro vezes mais do que antes da crise do coronavírus. De 1º a 10 de abril, a média de sepultamentos foi de 38 por dia. De 11 a 20 do mesmo mês, subiu para 81 a cada 24 horas. E a previsão da Semulsp é que o cenário se torne ainda pior em maio. De acordo com as projeções da secretaria municipal, Manaus pode registrar 4.260 mortes neste mês. Uma estimativa que, se confirmada, representará um aumento de 75% em relação ao já registrado em abril. "A projeção da Secretaria municipal de Limpeza Urbana (Semulsp) leva em consideração o pico de sepultamentos em único dia durante a pandemia, que foi no último domingo, dia 26, quando 142 sepultamentos foram realizados. Com isso, projeta-se o pior cenário no mês seguinte, que seria a repetição deste pico todos os dias, podendo variar para mais ou menos, conforme as próprias medidas de isolamento social e outras formas de conter a doença", afirmou o órgão.

O número de mortes em abril chega a ser seis vezes maior do que o de óbitos por Covid-19 em todo o Amazonas divulgado pela Secretaria estadual de Saúde (Susam). As notificações oficiais apontam que 399 pessoas morreram no estado nos 30 dias do mês.

 SUB NOTIFICAÇÕES

Das 2.435 mortes de Manaus, nem todas foram por Covid-19. No entanto, o crescimento vertiginoso após o início da pandemia mostra a influência do novo

coronavírus e, consequentemente, dá uma ideia do tamanho das subnotificações no Amazonas.

Nos últimos dez dias, 294 amazonenses faleceram com causa desconhecida na certidão de óbito. No atestado de outros 483, consta insuficiência ou síndrome respiratória. Nos dois casos, trata-se de pessoas que podem ter morrido por Covid-19 sem terem a confirmação ou mesmo sido submetidas a um teste para detectar a presença do novo coronavírus.

O crescimento do número de óbitos levou a um colapso do sistema funerário da capital amazonense. Ao longo desta semana, o setor chegou a temer um desabastecimento de caixões na cidade. A previsão era de que o estoque de urnas zerasse no fim de semana.

Na quinta-feira desta semana, a chegada do primeiro lote de novas urnas trouxe um alívio.