Correio braziliense, n. 20819 , 23/05/2020. Política, p.6

 

Braga: economia parada trará caos social

Marisa Wanzeller*

23/05/2020

 

 

Ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, alertou ontem para o risco de desabastecimento e "caos social" no Brasil, como consequência da crise econômica gerada pela pandemia. Segundo ele, no momento, a população "está tranquila" devido ao auxílio emergencial de R$ 600 concedido pelo governo federal. Ele traçou esse panorama na reunião da comissão mista que acompanha as ações de enfrentamento ao coronavírus, ontem, no Senado.

O general enfatizou que o país precisa se preparar para a retomada econômica, pois os recursos públicos "são finitos". "Se a economia não voltar, vamos ter gente morrendo de fome e vamos ter caos social, desabastecimento e tudo mais", alertou. Segundo Braga Netto, o governo está se desdobrando para manter o nível de emprego e abastecimento.

A meta para 2020 de deficit fiscal da União era de R$124 bilhões, mas, com as medidas de crédito extraordinário para o combate à pandemia, a nova previsão é de que esse buraco chegue R$ 525 bilhões, segundo Braga Netto. "Isso vai requerer esforço e responsabilidade de todos os poderes para retomarmos o caminho do crescimento e voltarmos à normalidade", afirmou o ministro.

A covid-19 já matou mais de 20 mil pessoas no Brasil e outros 310 mil casos de infecção já estão confirmados. No entanto, ele afirmou que não se deve ficar "com o olhar para o lado negativo", e destacou que mais de 273 mil pacientes estão recuperados ou em recuperação. "O Brasil não pode parar. A pandemia vai passar e ninguém vai ficar para trás", garantiu.

Ao ser questionado sobre a demora na liberação, pelo governo federal, de recursos e distribuição de insumos para o combate à pandemia nos estados e municípios, Braga Netto culpou a burocracia. De acordo com o ministro, o ordenador de despesas precisa tomar uma série de medidas que dificultam a execução dos recursos, pois, do contrário, terá de prestar contas aos órgãos de controle.

Braga Netto detalhou as ações do governo federal nos últimos 60 dias, enfatizando que dos R$ 274 bilhões liberados por meio de créditos orçamentários, o Poder Executivo já empenhou 73,9%. A comissão, porém, destacou que menos da metade desse dinheiro (40,4%) foi efetivamente gasto com ações de combate ao coronavírus. O ministro salientou ainda que o número de solicitações de seguro-desemprego subiu 9,6%, o que, para ele, é um indicativo de que a situação está sob controle.

Entretanto, o Correio publicou, na edição de ontem, que os pedidos pelo benefício dispararam em maio –– 504,3 mil brasileiros o solicitaram apenas nos primeiros 15 dias, segundo o Ministério da Economia. Aproximadamente 1,5 milhão de trabalhadores precisaram do socorro financeiro desde o início da pandemia. Balanço da pasta mostra que os pedidos do auxílio registrados na primeira quinzena de maio também superam em 4,9% as registradas na segunda quinzena de abril, quando alcançara 480,8 mil solicitações.

*Estagiária sob supervisão de Fabio Grecchi