Correio braziliense, n. 20817 , 21/05/2020. Cidades, p.17

 

Segurança e saúde mais vulneráveis

Darcianne Diogo

Roberta Pinheiro

21/05/2020

 

 

CORONAVÍRUS » Na linha de frente da luta contra a covid-19, servidores das duas áreas estão mais expostos ao novo coronavírus. Desde o início da pandemia, 311 policiais e bombeiros contraíram a doença. Entre médicos e enfermeiros, são 216 casos

Considerados essenciais na sociedade, profissionais da saúde e da segurança pública estão na linha de frente no combate à pandemia do novo coronavírus no Distrito Federal. Médicos, enfermeiros, técnicos, policiais e equipes do Corpo de Bombeiros convivem, diariamente, com uma realidade que os coloca em situação de vulnerabilidade diante da covid-19, doença que matou 73 pessoas na capital, sendo um policial penal e um militar. Dados obtidos pelo Correio mostram que 803 servidores dessas áreas foram infectados (veja Radiografia). Desses, 187 estão curados.

O número de pessoas que contraíram o vírus na área de segurança pública (311) equivale a pouco mais de 1% do efetivo total, de 22.291. Desses, 139 estão curados e 172 têm a doença. Desde o começo da pandemia, o primeiro caso confirmado em corporações brasilienses ocorreu em 1º de abril, na Polícia Militar — à época, o DF contabilizava 354 notificações. Trinta e seis policiais tiveram diagnóstico confirmado para covid-19. Desses, 20 recuperaram-se e um morreu por causa do vírus. O sargento Romildo Pereira tinha 50 anos e faleceu em 2 de maio. Ele apresentava comorbidades e estava na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Maria Auxiliadora, no Gama, desde 26 de março.

O chefe do Centro de Comunicação Social da PMDF, coronel Souza Oliveira, afirma que a corporação adota diversas medidas de segurança para evitar o contágio do novo coronavírus. “Uma das primeiras ações que tomamos foi a distribuição de luvas e máscaras aos militares. Até o momento, foram distribuídos 31 mil itens. Somos uma grande fonte de risco de contaminação, porque lidamos com todo tipo de gente, sejam acidentes, sejam surtos, sejam prisões”, afirmou.

O coronel informou que, recentemente, a corporação efetuou a compra de kits de desinfecção para os veículos oficiais, com borrifadores e detergente. “Cada automóvel terá esse kit. Além disso, a corporação passa por mudanças relacionadas às escalas trabalhistas”, ressaltou. A Secretaria de Segurança Pública esclareceu que disponibilizou 10 mil testes de identificação do coronavírus para os servidores da área, além da distribuição de equipamentos e itens de higienização.

Mais casos

A Polícia Penal é a segunda corporação com o maior no número de casos confirmados. Os servidores lotados nas seis unidades prisionais do DF somam 97 notificações. O primeiro diagnóstico saiu em 3 de abril. Quatro agentes penitenciários seguem internados — um no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e três na rede particular — e um morreu. Francisco Pires de Souza, 45, faleceu no último sábado. Ele trabalhava desde 2010 na Penitenciária do Distrito Federal I (PDF I), no Complexo Penitenciário da Papuda, e estava internado desde 28 de abril no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e não tinha comorbidades.

Na manhã de segunda-feira, o Sindicato dos Policiais Penais (Sindpen) promoveu uma carreata em homenagem a Francisco. E aproveitou para cobrar melhores condições de trabalho. “Um dos nossos pedidos é a criação de um auxílio-saúde emergencial, com a finalidade de amparar o servidor do sistema penitenciário. Reivindicamos que fosse pago, ao menos, durante o período de pandemia”, explicou o presidente do Sindpen, Paulo Rogério Silva.

Para aumentar a segurança da categoria, a Secretaria de Segurança Pública fará o repasse à Secretaria de Turismo do valor orçamentário para a contratação de um hotel onde policiais penais ficarão hospedados. A situação ocorrerá pelo período de até 30 dias, com possibilidade de aumento de prazo, a depender do cenário pandêmico. Servidores que residam com pessoas do grupo de risco e estejam envolvidos no atendimento presencial dos internos suspeitos ou diagnosticados com a doença poderão aderir ao programa.

Com menos casos, o Corpo de Bombeiros aparece com 14 contaminações, seguido pela Polícia Civil (24). Contudo, o cenário é de insegurança, como avalia Rodrigo Franco, presidente do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol). “Continuamos trabalhando, mas há falta de equipamentos, como máscaras. Temos recebido várias denúncias nesse sentido, principalmente sobre a escassez de EPIs e de luvas de tamanhos diversos”, reclamou.

Em nota oficial, o Corpo de Bombeiros informou que segue os protocolos de segurança e que, quando algum militar apresenta sintoma de gripe, é afastado da atividade e acompanhado pela equipe médica da corporação. Caso a doença persista, o profissional é submetido ao teste da covid-19. “Foram promovidas orientações aos militares da tropa, publicando vídeos com conteúdo sobre prevenção à saúde mental em tempos de pandemia e isolamento. Além do atendimento ambulatorial, utilizamos as redes sociais como ferramenta de auxílio nas orientações sobre saúde mental”, esclareceu.