Correio braziliense, n. 20817 , 21/05/2020. Brasil, p.9

 

Bom-senso leva ao adiamento do Enem

Ingrid Soares

21/05/2020

 

 

Bolsonaro e Weintraub defendiam que era preciso esperar para estabelecer novas datas, mas o Congresso forçou o recuo de ambos. Preocupação é o prejuízo para os candidatos

O presidente Jair Bolsonaro anunciou, ontem, nas redes sociais, o adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que seria realizado em novembro, em todo o país. A razão é a pandemia do novo coronavírus e a possibilidade de os efeitos durarem além da reabertura do país, assim que os números de casos e mortes estiverem sob controle. A decisão foi tomada em conjunto com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que defendia a postergação das datas.

“Por conta dos efeitos da pandemia da covid-19, e para que os alunos não sejam prejudicados pela mesma, decidi, juntamente com o presidente da Câmara dos Deputados, adiar a realização do Enem 2020, com data a ser definida”, escreveu Bolsonaro, em uma rede social.

Em nota, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e o Ministério da Educação (MEC) informaram que decidiram pelo adiamento da aplicação do exame nas versões impressa e digital. As datas serão adiadas de 30 a 60 dias em relação ao que foi previsto nos editais.

“Para tanto, o Inep promoverá uma enquete direcionada aos inscritos do Enem 2020, a ser realizada em junho, por meio da Página do Participante. As inscrições para o exame seguem abertas até as 23h59 desta sexta-feira, 22 de maio”, diz um trecho da justificativa do Instituto.

Logo no início da sessão remota da Câmara dos Deputados, Maia cobrou uma sinalização de Bolsonaro sobre o assunto. O deputado tinha dado até o fim das votações da Casa para que o Executivo se posicionasse ou colocaria em votação projeto que estabelecia o adiamento do Enem.

Relutância

O comunicado do Inep e a publicação de Bolsonaro sobre o adiamento ocorrem após grande relutância do ministro da Educação, Abraham Weintraub, em fazer alterações nas datas dos exames. No Twitter, na terça-feira, ele anunciou que consultaria os estudantes virtualmente sobre um possível adiamento, mas, ontem de manhã, já havia mudado de ideia. “Diante dos recentes acontecimentos no Congresso e conversando com líderes do centro, sugiro que o Enem seja adiado de 30 a 60 dias. Peço que escutem os mais de 4 milhões de estudantes já inscritos para a escolha da nova data de aplicação do exame”, escreveu Weintraub em sua rede social.

A postergação do Enem foi aprovada, na terça, com a maioria dos votos pelo Senado, mas sem estabelecer a nova data. A proposta chancelada pelos senadores prevê que, em caso de estado de calamidade, como o atual, os processos seletivos para a educação superior serão prorrogados.

Mesmo com as sinalizações dos parlamentares, Bolsonaro ainda resistia. Pela manhã, disse que era “muito cedo” para se decidir sobre o Enem. “Vamos esperar um pouquinho mais, é muito cedo. Nós estamos agora em maio, é novembro (a prova), espera um pouquinho mais para tomar decisão. A prova do Enem, que alguns querem adiar, acho que temos que ouvir os que vão fazer a prova”, disse de manhã para apoiadores, na saída do Palácio da Alvorada.

Mas até entre a claque a qual se dirigiu, havia quem apoiasse a transferência de datas. A uma apoiadora, que faria a prova, Bolsonaro questionou: “Você quer adiar ou quer deixar em novembro mesmo?”. A mulher rebateu: “Acho que seria melhor adiar”.

Porém, ele não se deu por convencido. “Adiar para quando? Depois que você adia, você não sabe quando. Opinião minha. Tem pedidos da Câmara, da presidência da Câmara. Parlamentares querem adiar, outros não. Eu te pergunto: a eleição vai ser adiada também? Vamos esperar um pouquinho mais. É muito cedo. Estamos agora em maio, é só em novembro. Espera um pouquinho mais para tomar a decisão”, insistiu.