Correio braziliense, n. 20815 , 19/05/2020. Cidades, p.17

 

62 pessoas mortas pela covid-19 no DF

Thais Umbelino

19/05/2020

 

 

Secretaria de Saúde confirmou cinco novos óbitos causados pela doença. As vítimas tinham entre 56 e 87 anos, e eram moradoras de Samambaia, Planaltina, Ceilândia e Recanto das Emas

Chegou a 62 o número de mortes causadas pelo novo coronavírus no Distrito Federal. Ontem, a Secretaria de Saúde (SES) confirmou mais cinco óbitos. Duas vítimas eram de Ceilândia. As demais moravam em Samambaia, Recanto das Emas e Planaltina. E todas tinham entre 56 a 87 anos. O óbito mais recente ocorreu ontem. De acordo com boletim divulgado pela pasta, trata-se de um homem, de 58 anos, residente de Planaltina. Ele era obeso e cardiopata — comorbidades que agravam a covid-19 — e estava internado no Hospital Regional de Santa Maria desde 7 de maio. Três mortes aconteceram no domingo, mas só foram contabilizadas nessa segunda-feira.

O balanço divulgado pela SES, ontem, mostra que o total de infectados na capital federal subiu para 4.618. São 250 casos a mais, se comparado ao boletim de domingo. Do total, 2.506 pessoas estão recuperadas. Os homens ainda são a maioria dos infectados: 56,9%. A incidência também é maior entre pessoas de 30 a 39 anos, com 1.366 registros. Ainda, há 167 pacientes hospitalizados — com maior proporção nas faixas etárias de 50 a 59 anos e de 40 a 49 anos —, sendo que 121 estão internados em unidades de terapia intensiva (UTIs).

As comorbidades mais comuns entre os infectados são cardiopatias (456), distúrbios metabólicos (244) e pneumopatias (168). A letalidade no DF é de 1,5%, a faixa etária mais afetada é de pessoas com 80 anos ou mais. No Distrito Federal, a região com maior número de casos da covid-19 é o Plano Piloto, com 477 infectados; Ceilândia e Sol Nascente somam 348 ocorrências; e Águas Claras e Arniqueiras contabilizam 288 registros.

O número de profissionais de saúde infectados chegou a 462. Em Samambaia, o aumento de pacientes com o novo coronavírus têm impactado diretamente os servidores da saúde. De acordo com o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (IGES-DF), quase 23% dos colaboradores que atuam na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade foram diagnosticados com a covid-19 nos últimos 41 dias. Entre eles, estão técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos. Ao todo, a UPA de Samambaia conta com 249 servidores. Cinquenta e sete profissionais testaram positivo para o vírus. Desses, 55 estão afastados, recebendo acompanhamento domiciliar. Dois cumpriram o período de quarentena e puderam voltar às atividades.

Testagens

Ontem, a Secretaria de Saúde testou 4.342 pessoas para o novo coronavírus, no qual 153 resultados deram positivo. De acordo com a pasta, desde o início dos exames rápidos por drive-thru, em 20 de abril, 79.909 brasilienses fizeram a avaliação. Desses, 1.009 tiveram a confirmação da infecção. O teste é realizado em 10 pontos distribuídos na capital.

A testagem é exclusiva para pessoas sintomáticas ou que tenham histórico de contato com algum caso confirmado e residam com idosos. Para fazer o exame, o cidadão deve se cadastrar por meio do site testa.df.gov.br, preencher o formulário e, em seguida, escolher o ponto em que fará a avaliação.

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Vulneráveis dentro e fora das celas

Caroline Cintra

19/05/2020

 

 

Na manhã de ontem, centenas de policiais penais realizaram uma manifestação por melhorias nas condições de trabalho, principalmente, em relação ao combate à proliferação da covid-19 nas unidades prisionais. O encontro ocorreu às 10h, em frente ao Estádio Mané Garrincha. No local, representantes do Sindicato dos Policiais Penais do DF (Sindpen-DF) pautaram as principais reivindicações. Em seguida, fizeram uma carreata pelo Eixo Monumental, todos vestidos de preto, balançando tecidos pretos e com flores nas mãos, manifestando o luto pela morte de Francisco Pires de Souza, 45 anos, primeira vítima do coronavírus no Complexo Penitenciário da Papuda (veja Memória). Por fim, a categoria parou em frente ao Palácio do Buriti para entregar o documento ao Governo do Distrito Federal (GDF).

Presidente do Sindpen-DF, Paulo Rogério explica que o ato, além de uma homenagem ao amigo e colega de profissão, é um pedido de respeito a todos os policiais penais do DF. “Quantos Franciscos teremos que perder para que tenhamos mais dignidade em nosso trabalho? A gente quer que o governo assuma essa responsabilidade. Nós somos a categoria mais infectada de todo o DF e pedimos socorro, uma chance para que possamos trabalhar em segurança”, protesta.

A falta do conterrâneo e dos momentos alegres também foram sentidas por Matheus Dantas, 20. “A gente se conheceu na Paraíba. Nossa amizade cresceu quando também me mudei para o DF. Ele era um amigo muito legal, brincalhão, extrovertido, parceiro de todas as horas, simpático e humilde”, relembra. A notícia foi recebida com surpresa “Fiquei sem acreditar, mas depois vi as fotos publicadas nas redes sociais e, então, a ficha caiu. É um choque muito grande perder um grande amigo”, lamenta.

O sistema penitenciário do DF, hoje, conta com 15.205 internos, nas seis unidades. Do total, 548 estão infectados (13%), além de 315 policiais penais. De acordo com o especialista em segurança pública Leonardo Sant’Anna, o aumento do número de casos tem relação com um espaço carcerário propício para a propagação da doença “Tanto os internos como os profissionais que trabalham nesses ambientes estão mais propensos a contrair e a morrer da doença. Presos e agentes penais dormem, comem e têm conexões sociais em um ambiente que não pode ser alterado. Deve-se considerar o aspecto da precariedade de ferramentas, uniforme e legislação diferenciada para os profissionais que trabalham nesses locais”, esclarece o especialista.

Em relação à tentativa de fuga em massa de presidiários do Centro de Detenção Provisória (CDP), do Complexo Penitenciário da Papuda na madrugada de domingo, Leonardo adverte para o tensionamento no sistema ser um elemento colaborador. “A fuga por si só já acontece, mas a partir do instante que o ambiente é estressor, pode ser maior”, adverte Leonardo. No caso, os internos quebraram cadeados das celas e pedaços de parede e conseguiram chegar até as galerias do CDP, onde foram capturados pelos policiais penais. Entre os internos que promoveram a ação, estão membros de facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e do Comando Vermelho, do Rio de Janeiro.

Em nota oficial, a Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe) informou que os internos foram reconduzidos para outra cela e que os detalhes da tentativa de fuga serão devidamente apurados. "Mesmo diante de todos os esforços e precauções para evitar o contágio do novo coronavírus no sistema, todas as medidas de segurança continuam a ser aplicadas em todas as unidades prisionais", esclareceu a pasta.

Cuidados

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP/DF), até o momento, foram aplicados cerca de 3 mil testes em internos e policiais penais no DF. “Cabe destacar que o expediente dos policiais penais é exercido de maneira segura, com o uso equipamentos de proteção individual (EPIs) e seguindo regras sanitárias adotadas neste período de pandemia”, explicou a pasta, em nota oficial. Além disso, as obras para a conclusão do hospital de campanha para tratar os internos do Complexo Penitenciário da Papuda estão em fase de finalização. No total, foram investidos R$ 79 milhões em uma área de 6 mil metros quadrados. A unidade contará com 10 leitos com suporte de ventilação mecânica e 30 leitos de retaguarda para internação. A Secretaria de Saúde (SES) informou que a previsão é de que a obra seja concluída até sábado.