Correio braziliense, n. 20815 , 19/05/2020. Economia, p.8

 

PIB do país abaixo dos 5%

Simone Kafruni

19/05/2020

 

 

CORONAVIRUS » Boletim Focus faz a 14ª redução consecutiva nas projeções, descendo o percentual de 4,11% para 5,12% em 2020. Monitor da FGV aponta queda de 1% na atividade econômica no primeiro trimestre do ano. E retração em março é de 5,3% em relação a fevereiro

A economia brasileira terá um tombo de mais de 5% em 2020. É o que apontam as projeções mais recentes do mercado, em linha com o que estimam o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Ontem, um indicador que antecede a divulgação oficial do Produto Interno Bruto, que deve ocorrer em 29 de maio, o Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou queda de 1% na atividade econômica no primeiro trimestre do ano, na série dessazonalizada, na comparação com o quarto trimestre de 2019. Na análise mensal, a retração em março foi de 5,3% em relação a fevereiro.

“As medidas de isolamento social só vigoraram por cerca dee 15 dias de março e já foram suficientes para que a economia apresentasse essa significativa queda”, explicou Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB-FGV. Segundo ele, a retração de 5,3% é a maior observada na série histórica iniciada em 2000. “Passamos do lento ritmo de crescimento observado nos três últimos anos, à acelerada retração, que está apenas no início. Essa situação deve piorar”, alertou.

Não à toa, o Boletim Focus fez a 14ª redução consecutiva nas suas projeções. Agora, a previsão é que o PIB do Brasil sofra um tombo de 5,12% e não mais de 4,11% em 2020. O Banco Inter revisou a projeção de -2,8% para -4,4%. A instituição estimou que a retração no primeiro trimestre deve chegar a 1,9% frente ao quarto de 2019 e queda na comparação anual será de 1,2%. No segundo trimestre, o tombo deve ser bem maior, algo em torno de 14%.

De acordo com Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter, um dos fatores para a revisão é fato de a curva de contaminação continuar crescendo no Brasil. “A gente vê diferenças regionais, mas, mesmo de maneira agregada, essa curva preocupa”, ressaltou. Ela destacou que, antes, se tinha ideia de que em meados de maio fosse relaxado o isolamento, com efeito de recuperação na economia. Agora, o banco trabalha com retomada no início de julho.

“Ainda assim, o terceiro trimestre será o segundo pior do ano, ainda negativo, mas menos”, assinalou. O último período do ano poderá ter melhora mais consistente no varejo e em serviços. “Alguns serviços, como lazer e turismo, só serão retomados em 2021. As pessoas permanecerão reticentes até que surja uma vacina”, projetou.

Taxa de juros

No Boletim Focus, os analistas do mercado também passaram a prever a taxa básica de juros (Selic) menor no fim do ano. A projeção para a taxa básica de juros passou de 2,50% para 2,25% ao ano. No início deste mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cortou os juros em 0,75 ponto porcentual, para 3% ao ano.

Para o IPCA, o índice oficial da inflação, a mediana das projeções passou de alta de 1,76% para 1,59% no fim do ano. Há um mês, estava 2,23%. Já a projeção para 2021 passou de 3,25% para 3,20%. Em abril, o IPCA registrou queda de 0,31%, a segunda maior deflação desde o início do Plano Real, como reflexo da retração da demanda.

A projeção dos economistas para a carestia está abaixo do centro da meta de 2020, de 4%, sendo que a margem de tolerância é de 1,5 ponto porcentual (índice de 2,50% a 5,50%). No caso de 2021, a meta é de 3,75%, com margem de 1,5 ponto (de 2,25% a 5,25%).

O Focus também trouxe a projeção para a produção industrial em 2020, que passou de queda de 3% para queda de 3,68%. Há um mês, estava em retração de 2,25%.

Após as sucessivas altas da cotação do dólar nos últimos dias, o levantamento também trouxe alteração no cenário para a moeda norte-americana neste ano. A mediana das expectativas para o câmbio, até dezembro, passou de R$ 5,00 para R$ 5,28 de uma semana para a outra, ante a previsão de R$ 4,80 feita há um mês.

5,12%

é a previsão, conforme o Boletim Focus divulgou ontem, para a queda do Produto Interno Bruto brasileiro neste ano

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Otimismo externo se reflete na Bolsa

Simone Kafruni

19/05/2020

 

 

A reabertura de algumas economias da Europa e a garantia do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), Jerome Powell, de que vai usar todas as ferramentas possíveis para combater a recessão econômica decorrente da pandemia do novo coronavírus, animaram os mercados e contagiaram o Brasil. Principal índice de lucratividade da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), o Ibovespa fechou em alta de 4,69% ontem, em 81.194 pontos, maior ganho diário desde 6 de abril, quando a alta foi de 6,52%. O dólar recuou 2,09%, cotado em R$ 5,72. Um terceiro motivo justificou a alta das bolsas mundo afora: a empresa americana Moderna anunciou resultados positivos na primeira fase do desenvolvimento de uma vacina contra a covid-19.

Para o diretor da Mirae Asset, Pablo Spyer, a abertura das economias no Brasil teve maior impacto do que a possibilidade de uma vacina. “Esta semana é a Moderna, na semana passada foi outra empresa. Mais do que isso, o otimismo reflete o fim dos lockdowns, porque isso mostra uma esperança de recuperação com risco menor da segunda onda”, destacou. Spyer acrescentou que o presidente do Fed, ao garantir que vai apostar contra a economia dos Estados Unidos, também impactou o ânimo dos mercados. No mercado doméstico, a boa notícia foi a afirmação do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que não vê sua saída do governo próxima, completou Spyer.

Na opinião do economista Sidnei Moura Nehme, diretor da NGO, a repercussão interna foi desproporcional. “O fato gerador é externo, não tem nada de bom aqui dentro. Nossa economia continua mal. O que houve foi relaxamento da rigidez no exterior”, explicou. Segundo ele, o dólar naufragou contra todas as moedas, inclusive a de países emergentes. “O que prova que a coisa é emocional e não racional é que a bolsa brasileira subiu mais do que as outras sem motivo”, reiterou.

Nehme lembrou que o ambiente político do país ainda é bem ruim. “A única coisa que vai bem são as exportações de produtos agrícolas. Neste sentido, tem notícia boa. A China avisou que quer aumentar seus estoques alimentares e comprar muita coisa do Brasil”, assinalou. “Porém, qualquer tremor político, amanhã (hoje), pode derrubar os mercados”, estimou.

A alta do petróleo, que também reflete o reaquecimento da China, ganhou impulso depois de alguns países produtores considerarem rever a produção e reduzir estoques. “O Iraque prometeu aderir aos cortes de produção, o que deve elevar o preço da commodity”, acrescentou o diretor da Mirae, Pablo Spyer. Na esteira da valorização do petróleo no mercado internacional, as ações da Petrobras tiveram alta de 8,1% (preferenciais) e de 9,7% (ordinárias).

Contagiado ou não pelo mercado externo, o fato é que até mesmo as empresas aéreas e da área de turismo, as mais impactadas pela crise de coronavírus, se valorizaram ontem. Os papéis da Azul subiram quase 30%, os da Gol, 14,45%, e os da CVC, 19,24%. Os ativos da Vale subiram 6,68%, em uma sessão de ganhos para o minério de ferro.